Café Amargo

Meu nome é Lucas, sou o segundo neto do Sr. Ignácios Montague. Meu avô é uma pessoa que muitos poderiam chamar de “uma figura”; tem 86 anos, administra uma empresa que gera uma riqueza enorme e é dono de uma sabedoria e perspicácia que enervam muitas pessoas, mas é gentil e sempre está disposto a conversar comigo quando preciso. É por conta de nossas conversas que muitas vezes me sai por cima em situações desagradáveis ou nos momentos em que um pouco de sabedoria e paciência me deram uma imagem de superior perto dos rapazes de minha idade no colégio; o que é muito bom para deixar as garotas interessadas.

Meu avô sempre tem tempo para mim e minhas dúvidas e neuras de jovem que ainda está descobrindo o mundo e as pessoas. Dentre seus conselhos e suas manias tinha uma que durante um tempo sempre me intrigou; quer fosse pela manhã, tarde ou noite quando nos encontrávamos, não apenas comigo, ele sempre tomava 2 xícaras de café, o que não seria nada demais não fosse o fato de que a primeira sempre era amarga e ele a degustava com toda a lentidão do mundo.

Na época em que iniciamos nossas conversas não percebi de imediato esse fato, a xícara era cheia até quase a borda e ele sorvia o líquido preto daquele modo lento enquanto parecia olhar para o tempo relembrando algo importante ou alguma coisa do tipo. Então a conversa continuava e após vários minutos ele se servia de outra xícara, e dessa vez ele adicionava cubos de açúcar; eu pensava que fazia isso por gostar de um café mais doce na segunda rodada. De tanto vê-lo fazer isso acabei por querer o acompanhar, na esperança de também ser iluminado como ele parecia ser, qual foi minha surpresa ao dar o primeiro gole e ser “agraciado” com o sabor amargo que apenas um café puro e de boa qualidade tem. Na verdade, o café que meu avô toma é tão amargo que quase dei um banho nele ao sentir o gosto.

Foi então que ele ao ver minha reação naquele dia sorriu para mim e me perguntou o que achei da experiência. Apenas pude dizer aquele café com certeza era a coisa mais amarga quer já tinha tomado, então perguntei se das outras vezes o dele estava também daquele jeito e ele balançou a cabeça afirmativamente; o que me surpreendeu e indaguei a razão, pois certamente não era por falta de açúcar. Sua resposta foi uma lição de vida para mim:

__Meu neto, tomo sempre essa primeira xícara amarga para sempre lembrar que houve um tempo na minha vida em que as circunstâncias não eram favoráveis e até uma simples xícara de café como esta não estava à disposição, também para não esquecer que como eu estive em má situação hoje há muitas pessoas que não tem acesso ao mínimo para ter uma vida digna e que não devo apenas aproveitar tudo o que tenho sem pensar nos menos afortunados.

__E por que toma a outra com açúcar?

__Para lembrar que tenho muito e, portanto, sou responsável por fazer com que toda essa riqueza não beneficie apenas a nossa família, mas a vida de todos aqueles que pertencem a nossa companhia e a seus familiares. Também para pensar em meios de fazer aqueles que tem ambição e talento tenham a chance de alcançar seus sonhos; pois acredito que ajudar apenas por ajudar e não levar meios de transformar vidas é apenas desperdício de recursos. Essa segunda é sobretudo para lembrar de não ser egoísta, mas fazer uso racional dos meus recursos para que eles atinjam um resultado que seja edificante. É para clarear a mente do amargor e pensar em meios de ajudar nossa cidade.

Naquele dia aprendi que não devia apenas pensar em mim na minha família, mas nas pessoas em geral, pois meu avô também dissera:

__De tudo o que temos agora o que poderemos levar quando sairmos desse mundo? Nada! Mas o que deixamos é o que importa, não quero ser lembrado apenas por ter dinheiro, quero ser lembrado por ter feito com minha riqueza fosse a riqueza de muitos e o motivo da melhoria de vida dos que estavam dispostos a melhorar.

Petrus Stone
Enviado por Petrus Stone em 15/08/2021
Código do texto: T7321366
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