O intelectual

Qual é a função de um intelectual? Se observarmos o uso desse termo nos dias atuais, veremos que pessoas incapazes de usar o idioma pátrio, de fazer concordância verbal, nominal, empregar corretamente a conjugação verbal, usar os pronomes, enfim, uma gama de absurdos, serem chamadas de intelectuais, pelo simples fato de levantarem uma bandeira política sem o mínimo conhecimento do que falam.

Intelectual não é isso, como uma rápida análise do seu conceito no dicionário nos diz.

O intelectual trabalha com o intelecto. Óbvio. E intelecto é um estudo para compreender a inteligência, a mente humana. Em sentido mais específico, já em termos filosóficos, é a capacidade de ordenar o conhecimento, a fim de deixá-lo mais prático. Assim, o intelectual abre seu campo de interesse para tudo, simples assim; tudo.

Vejamos um bom exemplo pátrio para isso. José Bonifácio de Andrada e Silva, conhecido como um dos responsáveis pela independência do Brasil, é, na verdade, um intelectual na acepção da palavra. Sua vida não se resume apenas a questões políticas. Dedicou-se a diversos campos do saber humano, como geologia, matemática, filosofia, história e metalurgia, a ponto de José Bonifácio estar diretamente ligado à descoberta do lítio. Lítio este que serve para a medicina, por exemplo.

José Bonifácio dedicou sua vida a tantos campos, inclusive à política, fruto do conhecimento adquirido através de anos de estudo. Após a independência do Brasil, e entendendo a ganância humana, foi um dos responsáveis pela elaboração da Constituição brasileira de 1824, ao lado de seus irmãos. Essa é a mais longa Constituição por estas terras até hoje. E entendeu tanto a mente humana que percebeu os abusos que podem surgir por parte daqueles que ocupam cargos políticos. E por isso, tentava de alguma forma, tentar limitar esse abuso.

José Bonifácio tem tamanha repercussão no mundo das ciências que até hoje existe uma estátua dele em Nova Iorque, nos EUA. Um reconhecimento da sua contribuição ao engrandecimento da civilização. José Bonifácio não era um mero político. Era um ávido estudioso em busca de entender a mente humana, o mundo que o cerca, a criação. Isso é ser intelectual.

Assim, voltando à questão da intelectualidade. É preciso antes entender o que é ser intelectual, o que significa dedicar-se ao intelecto, para depois buscar conhecimento para entender a natureza, a natureza humana e fazer-se criatura digna de ser filha do Criador. É preciso entender os rudimentos do idioma, para transmitir as ideias com clareza e precisão. É preciso aprofundar-se no campo do conhecimento escolhido e esmiuçá-lo para começar a entender seus mistérios. O intelectual tem por natureza o espírito aberto e curioso, interessado em aprender e só depois falar.

Sem isso, o que vemos são pessoas que avocam-se um título que é tão vazio como o vácuo. Falam sem ter nada a dizer, gritam, como se gritar fosse o caminho para dar o exemplo. Certamente os intelectuais do mundo contemporâneo tornaram-se o não exemplo, pois defendem pautas sem qualquer significado, sem qualquer valor, sem qualquer conhecimento do que dizem. Aliás, é até difícil compreendê-los, pois nem falar harmonicamente são capazes. Gritam e apenas gritam. Por onde passam só deixam mágoa, amargura, sofrimento e destruição. Estão longe dos verdadeiros intelectuais, daqueles que buscavam a luz através do estudo.

Eis, pois, o exemplo de um verdadeiro brasileiro, que amou sua pátria e honrou-a dedicando-se incansavelmente pela busca do conhecimento.