Lajeadense 0 x 1 Aimoré

Quando a bola foi alçada, da intermediária central para a lateral direita, paralizei, naquele paralizar incrédulo pelo improvável, quando, transcorridos quarenta e oito do segundo, nada espera-se. Lá o pequenino Wilsinho, cujos calções tocavam os joelhos, leu o tempo e trajetória precisos da bola e pos-se a correr. Não respirei mais ao vê-lo partir em direção a área adversária, ganhando em velocidade de um, driblando outro e partindo rumo ao gol. Mas, havia um goleiro, o goleiro e, a esse, numa janelinha desconcertante, passou como vento. À essa altura, buscando todo ar que houvesse ao redor, inflei os pulmões e gritei como nunca havia gritado e pulei como nunca havia pulado. Nosso ponteiro, como chamávamos à época, adentrou com a bola a goleira. Era o gol da vitória que garantira a classificação, eis que dado o apito de reinício da partida, novo apito liquidou a fatura. Era sábado de carnaval e que carnaval seria esse que iniciava para mim naquele instante. Meu índio alviazul vencerá a peleia e creio, apenas eu e meus poucos parceiros dessas loucuras que fazíamos em percorrer o interior do Rio Grande do Sul para acompanhar o pequeno clube do coração e Deus, sabíamos as dificuldades dessa maratona que foi chegar ao Florestal em Lajeado. Nosso ônibus não apareceu, conforme havíamos combinado... e pago. Desesperados, com instrumentos da charanga, faixas, bandeiras, camisetas, buzinas e tudo mais, literalmente interceptamos uma Kombi. Muitos desistiram da empreitada, mas nós, da Torcida Jovem Índia, não iríamos desistir tão fácil assim. E, graças a nossa perseverança e dose de loucura, pois a Kombi retornaria tão logo desembarcássemos no estádio e ficaríamos a pé, posso hoje narrar esse momento que vivi e nunca esqueci e morrerá comigo, restando guardado nos aprendizados da alma. Voltamos no ônibus dos jogadores; bons tempos aqueles, confesso deveras irresponsáveis do ponto de vista da segurança. Contudo, sobrevivemos e voltamos para a Taba Índia no maior carnaval, na maior batucada e cantoria. Como a vida foi generosa comigo, propiciando momentos de encantamento tão simplórios e lindos. Creiam, minhas melhores lembranças da vida não tem glamour, mas apenas alma, minha pureza de alma, que contentasse com tão pouco para ser feliz.