Cangaço - Movimento de Resistência de Mossoró/RN.

Ontem (18/11/2007) fui a Mossoró, participar de um bingão de motos.

Lá fiquei sabendo de um homem que completou 100 anos no mês passado, é da época do Lampeão e conhece toda a história do cangaço. Combinei com um neto dele que trabalha na obra (Técnico de Segurança) para irmos até Mossoró hoje – aproveitando que a obra está parada por motivo de greve – para uma entrevista com o ancião, mas talvez seja adiada para amanhã.

Vou visitar o cemitério de lá e ver o túmulo onde está sepultado o Jararaca, um dos personagens tido como dos mais cruéis do grupo de Lampeão - que teria sido morto no Movimento de Resistência de Mossoró ao bando - desconheço detalhes e é isso que pretendo descobrir com a única testemunha viva dos fatos. É assunto de interesse geral, já que a lenda viva de Lampeão rompeu fronteiras, é conhecida em todo o Brasil e até no exterior. Pretendo fazer uma matéria bem elaborada para, além de aproveitá-la na coluna do Perfil - no jornal da obra, distribuir para a mídia no Brasil todo para os jornais que queiram aproveitá-la como matéria de free-lancer. Será, na verdade, minha primeira experiência nesse sentido.

Talvez o diferencial dessa matéria – uma vez que a história de Lampeão é muito divulgada e já foi retratada até em filme, além da famosa Chuva de Balas de Mossoró, que virou atração turística e é encenada todos os anos no local que teria sido palco principal do confronto decisivo - é que há controvérsias sobre essa versão e é bom saber de uma testemunha viva se os fatos são realmente verídicos ou não.

Dizem que o senhor que vou entrevistar está muito lúcido, só espero que seja imparcial também, porque dificilmente haverá outro da mesma época para confirmar ou questionar as informações que ele me passará. Creio que precisarei de muita psicologia na entrevista e espero estar inspirado para conduzi-la de forma objetiva e eficaz. Pretendo fazer fotos e entrevistar o maior número possível de envolvidos, principalmente as autoridades do município e outras possíveis testemunhas de épocas pelo menos próximas aos fatos. Além, é claro, de visitar o Museu da Resistência que já deve estar funcionando – da penúltima vez que lá estive (há uns seis meses) ainda estava em construção e ontem esqueci de perguntar sobre isso.

Quanto às entrevistas, as autoridades, porque o comércio da cidade explora a questão da Resistência como incentivo ao turismo e a Prefeitura endossa oficialmente a veracidade da história da Chuva de Balas. Testemunhas vivas, porque há quem diga que tudo não passaria de invenção e que Lampeão nunca teria, de fato, sequer passado pela região do Rio Grande do Norte. Há, inclusive, quem questione até a opção sexual dele – mas isso poderia ser versão com interesse de difamação sem fundamentos comprováveis. São questões a serem abordadas e, se possível, esclarecidas. Sei, entretanto, que não será fácil, pois acredito que as autoridades e os comerciantes são suspeitos para negar esses fatos e se houver alguém interessado em divulgar algo contrário, provavelmente não terá como provar e sustentar essa hipótese. Enfim, é um trabalho de campo difícil e só depois de concluído para saber se levou a algo interessante e construtivo ou não. É, portanto, um desafio – e é isso que está me motivando!

Quanto à passagem dele pelo Rio Grande do Norte, e o Movimento de Resistência, deve ser verdade, sim. Não creio que fosse fácil sustentar uma mentira dessas. Mas nunca se sabe, pode haver, no mínimo, distorções. Daí a necessidade de um trabalho bem elaborado, com muita pesquisa e documentos confiáveis. Tentarei descobrir os historiadores da cidade e obter deles o maior número possível de informações e referências. Vou tirar um dia para isso e espero ser suficiente, pelo menos para a parte das autoridades – já que os prédios públicos só funcionam em dias normais de expediente. Mas tenho quase certeza que será preciso retornar e para isso tentarei contatar e agendar algo para finais de semana.

Para o jornal da obra será menos detalhado, apenas o perfil do homem centenário e certamente resolverei isso num só dia. Para a mídia impressa terá que ser o mais elaborado e documentado possível. Espero poder fazer, realmente, um bom trabalho. Mas acho que será, no mínimo, gratificante! Gosto de me envolver com questões históricas e humanas – principalmente quando há conflitos ideológicos e aspectos sociais. Antropologia também é meu fraco...

Direto de Mossoró/RN, pelo correspondente Lourenço de Oliveira.

Lourenço Oliveira
Enviado por Lourenço Oliveira em 19/11/2007
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