Fatores que podem levar os adolescentes a cometerem crimes

Para que se obtenha sucesso no estudo sobre a criminalidade, é preciso levar em consideração suas variadas esferas e possíveis causas. É necessário reconhecer o contexto biopsicossocial do indivíduo. Sabe-se que alguns fatores podem contribuir para o envolvimento na criminalidade, como déficits cognitivos, má parentalidade, hiperatividade e pobreza, como aponta Moffitt (1993).

No que tange o contexto familiar, alguns fatores que podem elevar os índices de criminalidade na adolescência são: pais que não estabelecem diálogo com seus filhos, não reconhecem comportamentos desviantes e não são capazes de puni-los de forma eficaz, Moffitt (1993). Genitores que não são presentes na vida dos filhos e não tem conhecimento sobre seu desempenho escolar ou grupo de pares. Um ambiente familiar violento, compostos por conflitos constantes, uso abusivo de álcool e outras substâncias também favorecem o surgimento de filhos envolvidos em atos infracionais.

As falhas do Estado também contribuem para esse aumento, visto que muitas vezes falta educação de qualidade, investimentos em esportes e lazer e possibilidades de inserção no mercado de trabalho. Em uma sociedade consumista, não ter possibilidade de ter uma alimentação de qualidade, moradia e acesso a bens materiais, pode fazer com que os jovens busquem de alguma forma ter acesso a uma renda financeira, e por acreditar que não tem opções, muitos se inserem no tráfico de drogas.

O tráfico, além de fornecer essas possibilidades, ainda fornece um aumento da autoestima do indivíduo, visto que aquele ser, antes inviabilizado pela sociedade, agora obtém poder e recursos, mesmo que de forma negativa, conforme pontua Costa (2005).

Há ainda a falta de investimento em serviços fornecidos a população, como acompanhamento psicológico de qualidade, o que poderia contribuir na formação do indivíduo, levando o mesmo a superar suas limitações cognitivas ou emocionais, demonstrar novas maneiras de se viver ou caminhos para além da violência familiar, além de auxiliar na capacitação através de orientações vocacionais e contribuir para o empoderamento do sujeito.

São inúmeros fatores que podem levar a criança e o adolescente a se inserirem na criminalidade, além dos expostos anteriormente, a sociedade em si também é um importante fator, visto que se olha o crime, mas não os motivos que levaram o indivíduo a comete-lo.

Problemas sociais como por exemplo o racismo, excluem uma parte da sociedade e contribuem para a falta de emprego de qualidade.

O olhar diferenciado para a pobreza e a falsa ideia de meritocracia, sobrecarregam o indivíduo que muitas vezes encara a realidade de duplas jornadas de trabalho em busca de uma ascenção social, a qual nunca chega. O que causa uma sensação de impotência e faz com que muitos busquem uma forma mais "fácil" de obter recursos financeiros.

A falta de princípios básicos para a sobrevivência, como alimentação, educação, emprego, lazer, entre outros, muitas vezes fazem com que o sujeito busque outras formas de existir no mundo.

Ou seja, todas as esferas do indivíduo devem ser levadas em consideração. A família que não tem condições deveria ser assistida de perto pelos CAPS, CREAS e CRAS, por exemplo.

O acesso a saúde deveria ser mais facilitado pelo SUS. As escolas deveriam contar com mais verbas para fornecer uma educação de qualidade, para além de teorias e técnicas, mas sim levando em consideração o indivíduo como um todo, valorizando e potencializando suas qualidades. Mas sabe-se que, muitas das vezes, tais necessidades parecem utópicas. O que não se percebe é que fortalecendo esses indivíduos, muitas vezes sem recursos, evitaria-se diversos atos infracionais.

Não basta pensar em formas de ressocialização, as quais também são falhas, pois o estigma faz com que o indivíduo seja marcado e isso dificulta sua reinserção na sociedade, dificultando oportunidades de trabalho, por exemplo.

Mas também é preciso fortalecer as formas de prevenção, buscando a mudança do sistema, investindo em profissionais capacitados, na saúde e na educação.

Necessário ainda disseminar conteúdos sobre a adicção, como uma forma de psicoeducar a sociedade, demonstrando que o uso abusivo de drogas se trata de uma doença, e como tal deve ser tratada. Levar as escolas discussões acerca da toxicomania, visto que o uso de substâncias químicas também é um fator que leva o indivíduo a cometer crimes, muitas vezes para custear o consumo.

Portanto, como exposto ao longo do texto, são vários os motivos que podem levar o indivíduo a se inserir na ciminalidade. Trata-se de uma discussão complexa e multidisciplinar, porém com caráter de urgência. É necessário ainda um olhar mais humanizado para os adolescentes que se envolvem em crimes, para além das estigmatizações. Trata-se de uma discussão que necessita da compreensão da família, Estado e sociedade em si. Para o bem estar de todos, é preciso olhar para as mazelas de cada um e buscar novos meios de contribuir para suas resoluções.