"O CONVITE"

Morávamos no mesmo prédio.

Como professora primária e ganhando muito pouco dividia as despesas da moradia com outras amigas, todas vindas do interior e com muita vontade de vencer na vida.

Pela manhã era aquela correria para tomar banho e preparar-se para o trabalho. Não bastasse o atropelo, as meninas se falavam do que vestir enquanto preparavam o seu desjejum servido na pequena mesa da cozinha.

Naquela confusão pequenos desentendimentos surgiam - ora porque uma não tinha lavado a louça do jantar, ora porque a outra sem licença vestira a blusa que não lhe pertencia e na falação iam se despedindo desejando que tudo corresse bem.

Na rua acendia meu cigarro enquanto pacientemente esperava pelo ônibus.

Era a minha rotina diária.

Observava os transeuntes passarem e pensava que ocupação aquelas pessoas tinham. Imaginava como seria bom se tivesse um carro que me levasse para onde eu quisesse, assim não ficaria entalada no corredor do ônibus.

Sonhar é bom, ter é que são elas!

Na sala de aula do colégio os alunos chegados se acotovelavam em me cumprimentar e apressadamente mostravam os mapas que tinham feito como tarefa.

Muito bom, dizia eu contemplando alguns cadernos. Mas o meu pensamento estava muito distante. Definitivamente teria que arrumar um jeito de me aproximar daquele rapaz, filho do zelador do prédio.Tinha umas pernas maravilhosas.

Ao chegar em casa naquela tarde encontrei as meninas na maior animação, ouvindo musica de vitrola, pintando as unhas, de bóbis nos cabelos e fazendo planos para a noite, pois era sexta-feira.

E você Thereza tem algum programa?

Perguntou-me a Wanda, assistente social de uma instituição mundial.

Não e fui até a varanda do apartamento espiar a rua.

Bem defronte ao prédio tinha um restaurante tcheco, muito conhecido que era freqüentado por estrangeiros, boêmios, advogados e todos que apreciassem um bom chope cremoso. O croquete de carne não vencia a gula dos beberrões. Era por e sumir goela abaixo.

Na frente, ficava o bar cercado por um balcão sinuoso de caneletas de cerâmica preta e tampo cor de rosa. Banquinhos altos e estofados acomodavam os freqüentadores.

Já estivera lá muitas vezes.

Para minha satisfação vi chegar à rodinha dos que estavam bebendo o homem das pernas bonitas. Que cochas! A bermuda que estava vestindo exibia toda a sensualidade e desejo de minha atração.

Querem saber! Vou tomar um chope.

Transcorria o mês de agosto e meus tios de Barretos tinham me convidado a visitá-los. Como faziam parte da comissão organizadora, me levariam a festa do peão do boiadeiro.

Desci e não me contive, convidei-o a beber.

Não demorou muito para ficarmos à vontade. Nossos olhares se correspondiam e depois de muitos copos de chope tomei coragem e perguntei se não gostaria de me fazer companhia até Barretos.

De pronto foi aceito o convite.

Reunimos nossa bagagem e pé na estrada.

O carro dele era um fusca muito bem cuidado.

A conversa corria solta quando da passagem por São Carlos um caminhão invadiu a nossa pista arrancando toda a lateral do carro, inclusive a porta do motorista.

Assustados paramos o carro no acostamento e rimos da situação.

Sem ferimentos, decidimos ir em frente.

Uma corda foi trespassada no buraco da porta.

Diante do acontecido seguimos em marcha moderada até a casa de meus tios.

A cidade transbordava visitantes e muito espantados ficavam quando viam o estado do carro.

À festa não fomos, cumprimentamos meus tios e saímos à rua curtindo o namoro.

Sentados à beira da calçada, seu coração cheio de amor a mim se declarou.

Casados fomos e hoje recordo a ventura que vivi.

*narrativa na pessoa da mulher

PAULO COSTA

maio/2006

paulo costa
Enviado por paulo costa em 18/12/2007
Código do texto: T783398
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