Sagrado Sentimento

Eu queria ter asas pra voar longe, na dimensão onde meus olhos mesmo tão radiantes, não alcancem à beleza dilacerante de um universo contagiante, único e fiel a infinitas almas que o povoam, resultantes de gerações consagradas.

Eu queria poder tocar o céu que num passe de mágica formasse um novo mundo de fantasias e tornasse os sonhos em realidade. Como se as flôres falassem e sorrissem em todas as manhãs, encantando com sua suavidade e aromatizando com seu doce perfume e exalando para o ar;

O sol no fim da tarde ao se despedir do dia, oferecesse boas-vindas à lua, a eterna rainha que sorri, toda faceira e feliz ao clarear o tecido negro sagrado, vê ao longe, seu amado se desfazendo gradativamente num repouso merecido;

E os anjos enfileirados cantassem as serenatas que mimam as sereias amantes que toda vez aparecem no limiar do dia para irradiar a ternura e levar consigo os desejos dos boêmios apaixonados que trocam a noite pelo dia, ou o dia pela noite, mas não perdem o encantamento.

A madrugada silenciosa e fria observa o orvalho que cai umedecendo as folhas e faz sala aos cavalheiros de plantão que, em sussurros, dizem nos ouvidos das musas de cabaré toda sua dor, mágoa, solidão e desilusão. São bravos e gigantes sonhadores, trovadores que morrem, mas não se entregam e fazem de cada dia, esperança que há de abrir novos horizontes às almas sofridas e desesperançosas.

Vejo as estrelas cintilantes em festa, trocando de lugar e procurando aumentar o brilho, para dar vida aos Planetas. Procuro em cada estrela, imagino que uma delas é o meu anjo da guarda. O mesmo anjo que partiu sem dizer adeus e que reina em algum Castelo de belezas mil, que ora por mim e zela por minha alma, para não me ver perder nas ilusões mundanas de provas e expiações.

Quando fecho os olhos, revivo momentos tão marcantes e imprescindíveis para minha evolução. Sinto a felicidade tão presente e ao mesmo tempo, a solidão vem para me avisar, que tão logo estarei só novamente. Viajo nas emoções que senti quando me tocava docemente, me fazia acreditar que o mundo podia ser diferente e que as pessoas podiam ser mensageiras do amor e da paz.

Aprendi a cuidar da minha alma e a zelar pela matéria que num futuro incerto, o tempo se encarregará de decompor e então a palavra sagrada se fará jus: “o que vem do pó para o pó voltará”.

Desde então, vivo a agonizar minha saudade que na face tão carente se derrama em lágrimas que formam um grande rio na direção do mar, passando pelas pedras no caminho, deixa órfão um coração aventureiro que se perdeu nesse oceano de dor e se desfez, até o dia......

...Um dia, que há de chegar, o amanhecer será mais belo e colorido e o arco-íris formará um grande círculo abraçando toda a terra e o amor sairá da cartola do mágico em poesia, energizando cada coração. A harmonia envolverá as almas errantes, naufragadas no horizonte azul de um abismo sem fim, moverá montanhas e levará no peito a ilusão que se realizará, se eternizará.

Quando tudo parecer o fim, uma luz surgirá e com beleza encantadora hipnotizará os eternos amantes que se entregam sem o mínimo pudor e sem pensar no amanhã. O futuro é o novo capítulo a se protagonizar baseado na vida real que mobilizará almas provocantes, irreverentes, tentadoras e renovadoras. O amor terá novamente a poesia, vida e sexo e continuará a viver na clandestinidade para dar sentido ao desejo daqueles que amam loucamente, eternamente, mas que adoram viver perigosamente, seja por timidez ou simples fantasia.

A nudez não será mais motivo para vergonha, mas à beleza rara e obra perfeita do amor que se fez nos mais nobres sentimentos. A exposição da matéria carnal desproverá a alma que, por sua vez, descobrirá que existem mundos infinitos e repletos de segredos e mistérios. A esperança voltará a brilhar nos olhares dóceis e singelos e o amor, ah sagrado sentimento, reinará triunfantemente.

Edimilson Eufrásio
Enviado por Edimilson Eufrásio em 03/01/2008
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