Os jornais só falam de hoje

Outro dia desses, estava tentando explicar a uma pessoa, o que é um monólogo improvisado. Disse-lhe que era mais ou menos assim: alguém lhe dá um objeto qualquer, e a partir dele você cria uma dissertação. Alguns são comediantes, outros são dramáticos, outros malucos... Aliás, o que é maluquice?

A pessoa então ficou mais confusa que antes. Para facilitar eu dei um exemplo do que eu faria. Se eu fosse atriz, e em uma aula de teatro o professor me desse um jornal e me pedisse que fizesse um monólogo de improviso, eu começaria dizendo que o jornal só traz as noticias de hoje. Relembra as do passado, prevê algumas passagens futurísticas... Mas o destaque principal, a primeira página, fala sempre do dia de hoje.

Aqueles milhares de pontos em escala de cinza e cores diversas, bem juntinhos, formam imagens e palavras. Palavras nem sempre felizes. Afinal, felicidade não dá dinheiro.

Deste ponto então, eu pediria aos ouvintes que se comparassem ao informativo. Qual é o destaque da sua primeira página? Muita gente iria dizer que o que mais prezam é seu futuro e seus sonhos.

Ah! Meu futuro naquela empresa, minha futura mulher, meu futuro genro, meu futuro carro e minha futura casa... Como vai ser bom! Ah, e amanhã, amanhã, amanhã. Amanhã é um dia que nunca virá sem hoje. Amanhã jamais acontecerá se o hoje não puder acontecer.

E o que você sonhou ontem? Aquela primeira folha do jornal, de vinte e tantos anos atrás, fez a previsão correta do que é hoje? Talvez nem você se lembre, pois pode não haver registros nos seus jornais antigos sobre o ontem. Estão todos ao sabor dos sonhos, sem firmamento e sem razão de ser, porque os sonhos mudam.

Sonhar não é errado. Sem os sonhos nada seriamos, mas continuaremos sem nada ser, se dermos mais atenção a eles do que ao presente. Veja, o nome da palavra: presente. É realmente uma dádiva, uma chance de fazer com que as coisas mudem, de realizar seu sonho hoje, é um presente enorme que alguém lá em cima lhe deu.

Os jornais, só falam de hoje. O amanhã pode ser até previsto porque a viagem está escrita, mas não o destino. Sabemos muitas vezes que rumo tomar, mas não se sabe onde esse rumo nos leva no final das contas.

Seria realmente mais fácil se nas nossas primeiras paginas estivesse escrito: hoje acordarei, escovarei os dentes, tomarei banho e depois o café. Terei um dia maravilhoso e não vou brigar com ninguém hoje. Se alguma coisa der errado, eu tentarei consertar. Pelo menos hoje. Hoje, eu vou viver. Viver como nunca antes. Porque hoje, não é amanhã.

É, assim seria meu monólogo. Assim, eu saberia porque os jornais só falam de hoje.

Carol Bohone
Enviado por Carol Bohone em 03/01/2008
Código do texto: T801965