Buscando o sal da terra

"Vós sois o sal da terra". Há na bíblia uma passagem que diz essa frase. Buscar o sal da terra então, de acordo com as interpretações, é buscar o interior de si mesmo para depois mudar para melhor. É buscar dentro de si mesmo o seu essencial, aquilo que faz a diferença. E muitas vezes para fazer a diferença é necessário recomeçar.

Ah, o recomeço. É como se sentir de novo aquela pequenina e frágil sementinha acolhida bem no fundo da terra que pode um dia se tornar uma frondosa árvore. Um dia desses, alguém teve de recomeçar um amor.

Sim, foi bem difícil quando essa menina ouviu de seu amado "Você não vai me perder nunca. Mas é preciso começar tudo outra vez. Preciso de você, mas antes, preciso redescobrir você." Logo essa menina, que outrora fora muito feliz nesse amor, compreendeu e concordou com o pedido. Porém, redescobrir a quem se ama, depois de tanto tempo tentando fazer tudo melhorar, dando tudo de si e até ficando meio doente por isso, é bem difícil. E é aí que se deve dar um passo de cada vez para continuamente seguir em frente.

A criatura recomeçou apagando o fogo todo daquele amor e esquecendo que a certa intimidade do casal permitia algumas coisas a mais que um beijo. O fogo foi totalmente aterrado. Definhou-se de propósito pelas mãos da menina. Era preciso então recomeçar a buscar a lenha boa para que a próxima fogueira fosse lívida e resultasse depois em brasa, quente e confortável.

Depois a menina continuou seu trabalho por esquecer os erros do passado. Como se ela tivesse em suas mãos um diário de um romance todo escrito a lápis, pegou a borracha e apagou todas as palavras sem sentido vindas de maus momentos e péssimos sentimentos. Deixou apenas a marca do lápis, porque está ficará para sempre, já que nenhuma borracha pode apagar a força com a qual o lápis imprimiu as palavras no papel. Na primeira folha, nada havia escrito. Só havia o desenho de um coração a ser preenchido depois, com palavras doces, figuras delicadas e todo o amor que houvesse dos dois.

Então, ela olhou as cartas antigas. Jamais as jogaria fora. Eram as lembranças dos melhores tempos de sua vida. Junto com elas, duas rosas que ela havia ganhado e que agora estavam secas junto aos papéis. Reservou-lhes um lugar especial, dentro de uma caixa sob a cama.

Mas, acho que se ela pudesse, se ela tivesse esse acesso, ela procuraria no livro de memórias que fica dentro da cabecinha dela todas as lembranças mais marcantes. Porque ela não pode fazê-lo? Há coisas que é simplesmente melhor esquecer.

Para recomeçar, depois de fazer toda a limpeza mental necessária, ela o procurou e lhe disse então tudo o que fizera e que agora não havia mais nada, nem resquício. Era chegada a hora de reacontecer tudo outra vez. E foi o que reaconteceu. As coisas mudaram, o amor foi redescoberto e novas lembranças agora eram levadas na bagagem, junto com a mala dos sonhos e da nova promessa. Um tempo depois, de tão feliz que as coisas tivessem voltado como eram antes, ela o abraçou, sentiu seu perfume, olhou em seus olhos e disse-lhe: "ai, amor, senti tanta falta de você!".

Carol Bohone
Enviado por Carol Bohone em 06/01/2008
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