Nós somos jovens e com a gente acontece

Comecei esse texto pensando como iria iniciá-lo. Sabe como somos, nós mulheres, sobretudo nós adolescentes: completamente indecisas. Acho que é uma coisa assim, bem nossa. Aliás, há coisas que somente nós sabemos e fazemos.

É difícil explicar. É tudo tão difícil nessa idade. Ser jovem. Juventude é só idade, ou é também espírito? Eu acho que são os dois. Na verdade, os três. Tem a cabeça também. É, tem pessoas que têm pensamentos muito velhos, cheios de poeira do tempo que está lá, estagnada. Caramba, será que não tem nada pra limpar? Nem uma esponjinha ou um paninho húmido? Uma vassoura nem pensar...

Nós somos jovens e por mais que os mais velhos digam que não, as coisas acontecem com a gente o tempo todo. Eu tenho amigas que são capazes de chorar dias, meses e anos por caras que nem sabem que elas existem. Elas se enfiam num balaio de gato sem razão de ser, dum disse-que-me-disse, dum fulana disse, que beltrano ficou com a menina da esquina, mas que ela só ficou com ele porque uma amiga da prima dela pediu, mas ela queria ficar com o Mauricinho do clube pra se livrar do skatista que deu em cima dela. Afinal, como foi que começou mesmo?

Não sei, mas acho que algumas das minhas amigas não sabem nem o valor que elas têm. Pelo menos, minha mãe sempre me disse que a gente tem se gostar primeiro pra depois os outros gostarem da gente. Ah, eu sei que é difícil mas é bom encontrar pessoas novas pra esquecer os amores antigos. Mas não, há pessoas que morrem de vergonha de falar com as outras, ficam calculando cada palavra a ser dita e no fim, nem dizem nada, apenas sonham com isso. Não sei se é porque eu sou muito franca e falo muito que eu acho isso digno de levar umas pancadas na cabeça pra acordar. Ou é realmente errado se esconder do mundo.

Tem gente que é tímida não é? Às vezes, nem sabemos, mas dentro de pessoas assim há grandes artistas, escritores, matemáticos e cientistas. Até grandes psicopatas. É, os psicopatas não são muito extrovertidos, pelo menos não os que eu já vi pela televisão. Por isso é que eu gosto de saber os que as pessoas pensam, pra isso eu escuto elas falarem. A timidez é mais um problema da juventude. As pessoas tímidas tendem a ser tão apavoradas principalmente para falar em público ou com aquela pessoa que se gosta. Mas realmente, fazer uma declaração de amor não é nada, nada fácil... Fica um pouco melhor quando a pessoa não vê a sua cara.

Agora, há outros problemas também quando já existe um casal. Está vendo? Como a adolescência é complicada, é sempre problema, problema, problema. Bom, mas como eu ia dizendo, quando há um casal no inicio do namoro vai tudo bem. Existe amizade, doçura, carinho, flores e chocolate. Daí o tempo passa um pouco e o corpo é quem começa a pedir. A intimidade cresce, os carinhos também, tudo tem um pouco mais de fogo. Tira a mão daí, rapaz! Só que isso nem sempre é o suficiente pra manter um casal junto. Alias, nunca é. Essas coisas são boas mas enjoam. Daí é que a gente conversa e até começa tudo outra vez, para achar a mágica do amor que se perdeu em alguma esquina.

Mesmo quando o casal ainda é bem jovem, vem a questão do sexo. Para as meninas é hora de falar com as amigas mais velhas pra saber como é, conversar com as outras e se perguntar se é a hora. Ela já olha seu corpo de um jeito diferente, pensa no namorado quer se cuidar mais, pensa se ela gosta disso ou daquilo, se questiona se ele reparou naquela celulite... Para quem pensa que para os meninos não têm problema nenhum, se engana. A culpa na verdade nem é dele. É deles. Dos amigos que fazem toda aquela pressão, falam “cara vai lá, se não essa menina te larga!”. Os homens se ligam muito no que dizem os amigos. Mas eu sei, porque meus amigos me dizem, que quando eles estão sozinhos eles pensam melhor. Há garotos e garotos. Odeio quem diz que eles são todos iguais. Porque nós mulheres não somos, então, porque eles seriam? Há aqueles que valorizam as namoradas, sabem agradá-las. Alguns são mais machões, mas mesmo assim são profundamente carinhosos. Há aqueles que realmente não nos merecem. Mas sei lá, cada um tem sua conduta.

Ah, nós, jovens gostamos muito de música. E existe gente pra gostar de tudo. Mais que a música, há estilos de vida. Existem panelinhas pra cima e pra baixo. Ah, como eu detesto isso! Eu tenho uma porção de amigos de tantas tribos diferentes. Não consigo entender como as pessoas brigam ainda por não serem iguais. Aliás, há uma estranha moda em fazer questão de ser diferente, que ser diferente já é até normal. Pra ser diferente as pessoas ficaram tão iguais. Há ainda pessoas sem escrúpulos que acham que para serem elas mesmas, devem maltratar os pais e os avós e qualquer pessoa com mais de quarenta anos de idade. Estranho, parece que gente assim pensa que nunca vai ficar velha.

Mesmo assim, eu conheço idosos de 80 anos que têm mais vontade de viver do que pessoas de 15. Está aí, mais um problema. Os idosos jovens têm uma auto-estima lá em cima. Saem, se divertem, têm amigos, lêem, vão ao cinema, ao teatro e viajam. Os jovens idosos, se trancam em casa, se cansam facilmente e muitas vezes, choram escondidos por não serem aceitos. Mas como aceitar alguém, que não se aceita? Sabe, as coisas estão tão dentro da gente e algumas vezes nem percebemos mas o erro é nosso. E mesmo quando sabemos disso, é difícil admitir. Já não é fácil se entender. Imagine entender o que se passa com as outras pessoas. Pra isso é sempre bom ter amigos.

Ah, os amigos! Cada dia é mais fácil encontrar pessoas para conversar. Mas os melhores amigos, são aqueles francos e humildes. Os engraçados. Os malucos. Sobretudo os que realmente gostam da gente. O problema é que nem sempre tudo são flores. Ah, a gente briga, se desentende, mas no fim tudo acaba bem. E na realidade, são os amigos que seguram nossa barra quando a gente vai cair. Há sempre aquele amigo que chora com a gente ou aquele que enxuga as nossas lágrimas. Há sempre alguém pra nos ajudar a enfrentar esse dia-a-dia juvenil tão complexo. E quem sabe, alguém dentro desses amigos que dão risada com a gente hoje, vai rir de novo amanhã quando estivermos velhos, e depois, e depois, e depois...

Carol Bohone
Enviado por Carol Bohone em 08/01/2008
Código do texto: T808829