Me apaixonei!!

E lá vinham aqueles meninos negros, sorrindo, por mim muito bem vindos a oferecer seus préstimos.

Seus préstimos eram muitos, desde um acarajé, até a deslumbrante visão de seus belos corpos já esculpidos pela batalha diária, descendo as ruas ao som do atabaque, no delírio do Olodum.

Negros, pobres, atletas, belos, sofridos, guerreiros, alegres, satisfeitos, livres pela magia da música, do teatro, da dança.

Coloridos, crédulos, suados, estavam ali para meu deleite de turista.

Conversei com vários, e para minha alegria eram muito mais conscientes do bem e do mal, do que eu, equivocadamente pensava, discerniam o social do mero discurso, eram astutos - e seu maior foco era construir, era a exaltação responsável da alegria, e não o tormento da tristeza de sua condição sócio econômica. Teve até um garoto de 12 anos, o Abaeté, que me disse que ao contrário dos turistas, não precisava gastar para estar perto da beleza, da folia, e que seu maior prazer era ver as pessoas *encantadas ( o termo que ele usou foi esse mesmo!), e entregues a beleza de sua arte e de sua terra, e que, embora ele soubesse que há mais outras tantas belezas no mundo, e que ele ainda iria conhecer com a permissão de seu pai Oxalá, (que sempre lhe dá forças), a alegria de estar presente em sua terra era uma benção.

Confesso: me apaixonei

Eu senti Verdade naquele menino, e em tantos outros com quem conversei, dancei, brinquei, aprendi, ensinei, ri ( e muito!), comi, bebi, cozinhei - um dia fui de manhã a Casa do Olodum e na coragem fiz Virado Paulista "prum" monte de gente, até atabaque eu toquei!!!

Ah, os encantos da vida...

É tão bom se deixar levar!!!

É tão melhor sentir, do que a tudo questionar!!!

Não é??!!