Um embalo, um acalanto

Nessa noite tão quente de lua prateada e estrelas pregadas no céu que nem vaga-lume, quero cantar um acalanto pra você pra te embalar no sono. Nesse sono tão profundo quanto o oceano; o oceano dos pensamentos na sua cabeça que se embolam todos durante o dia quando você está acordado. Mas, será que está acordado mesmo? Ou está sonhando com a imensidão desse mar de pensamentos?

Enquanto as pessoas adormecem na noite quieta, despertam os poetas, os artistas os espíritos noturnos, vagantes, precisados de música, poesia e palavras doces. A lua e o álcool embalam a quase todos eles. Tanto que na manhã seguinte, nem se levantam. Às vezes pra nunca mais.

Lá de cima, os deuses e os anjos debruçados na lua e os anjos nas nuvens, escutam os sons da Terra. E eles podem ouvir o meu canto também. Muitos também adormecem, outros se encantam, outros tantos procuram outras coisas que não o descanso. Procuram as festas pagãs, o jazz, o rock n’ roll, o batuque dos terreiros na Bahia, o estilo do Bronx, as pistas de dança, os barulhos eletrônicos. No céu não há dessas coisas.

Eu só quero que você adormeça com a cabeça no meu colo, me ouvindo cantar para você o acalanto mais terno, eternamente. A rede balançando parece que é embalada pela música da rua e das notas que você tirou o dia todo do seu piano e que agora estão repetidamente tocando em mim. Dentro da minha cabeça, cada lá, cada dó e cada si. Se eu pudesse fazer você sonhar com apenas um toque, uma nota...

Vamos, já é tão tarde! Meu acalanto está ficando cansado e quer dormir também. Mas você parece que não se contenta com os sonhos não é? Você gosta mais da realidade da vida. De sair às ruas, andar e conversar com as pessoas. Ver seus professores e conhecidos do trabalho. Ver os amigos de infância. Mas até eles sonham quando dormem. Já passou da hora e você tem que descansar, porque amanhã eu quero ouvir de você sobre todos os seus sonhos.

Queria entrar na sua cabeça para saber com o que é que você sonha. Queria ver se você sonha comigo porque eu sonho com você. Toda noite. Não sei, mas acho que a noite trás uma brisa boa pra dentro da janela do quarto do apartamento e a brisa me faz lembrar você, cada dia mais lindo. E é aí que eu sonho contigo. E nos meus sonhos, somos sempre os dois, sozinhos na noite cavalgando no mesmo cavalo a beira da praia, pelas montanhas e morros, pelas pradarias e pelas cidades do interior.

E nesse embalo eu vu até acordar. Ah, mas eu não quero acordar amanhã. Quero que a noite dure muito mais para que eu possa dormir abraçando você e imaginando o que você poderia estar sonhando. Dorme que eu vou te embalar, cheia de carinho, ninando você até você dormir. Quem sabe você sonhe comigo. Quem sabe acorde comigo cantando o mesmo acalanto. Quem sabe ainda esteja envolvido no embalo. No embalo da noite e no acalanto das estrelas.

Carol Bohone
Enviado por Carol Bohone em 22/01/2008
Reeditado em 22/01/2008
Código do texto: T827701