A intencionalidade da Carta de Caminha através do real e fictício

A Carta de Caminha que informa ao Rei D. Manuel a descoberta “acidental” da nova terra é de suma importância histórica e também Literária. De fato, é uma obra relevante que nos permite entender através da visão européia como ocorreu o choque cultural, no primeiro momento, entre índios e europeus. É a partir da sua leitura que se verifica aspectos descritivos da realidade, e, do parecer, nesse caso do imaginário. É bom ressaltar que Caminha deixou claro no início da carta que iria escrever o que via e o que lhe parecia.

Dessa forma, relata os fatos tentando transmitir precisão através da cronologia bem demarcada que situa o leitor quanto ao tempo. Descreve tudo detalhadamente, a chegada, como fizeram para ancorar, quando desceram a terra, o primeiro contato com os índios, o entrosamento, a primeira missa, etc. Relata também a vegetação, o clima, as águas, os animais, e, em especial os índios. Comidas, moradias, instrumentos, acessórios, nenhuma veste, pinturas corporais e aparência física, tanto feminina quanto masculina; tudo isso descrito na carta tomado pelo aspecto documental.

Por outro lado, percebe-se também que Caminha pretendia causar boa impressão da nova terra ao Rei. Não só porque ele utilizava muitos adjetivos qualificando a terra, como também porque o que lhe parecia era sempre positivo, o seu imaginário é utilizado para impressionar o destinatário. Assim, ele descreve que naquela terra parecia ter ouro, prata e metais, pois os índios que nada entendiam acenavam como se ali tivessem. Relata também que um dos índios acenou para o altar, na missa, e depois para o céu, isso perecia lhe um bom sinal. Descreve também que os nativos eram inocentes, palermas, amigáveis e fáceis de serem manipulados, quanto à aparência, relata supondo que eram fortes e saudáveis devido ao ar daquele lugar que era ótimo. Esses aspectos imaginários transmitem que tudo ocorreu de maneira pacífica. E levam a crer que a terra tinha riqueza, mão de obra escrava e fácil de ser catequizada.

Portanto, é a partir da leitura da carta de Caminha, com seus aspectos reais e fictícios, que se percebe que esse ao escrever, queria não só informar ao Rei da nova terra, mas, sobretudo, convencê-lo de que seria interessante o investimento e exploração do lugar.