O "ficar" ficou!
Constantemente, dentro dos grupos sociais juvenis, são criadas diversas formas de expressão alternativas: as gírias. De acordo com o dicionário, "gíria" é a linguagem que, nascida em certo grupo social, termina infiltrando-se na linguagem familiar.
"Minha namorada ficou com outro." Ouvi de um colega essa frase certa vez, na escola, e, por nunca a ter escutado antes assim empregada, custei a entender que a expressão "ficou" significava, na verdade, isto: "teve uma espécie de envolvimento emocional de alto grau de intensidade em um curto espaço de tempo, a qual não significou, obrigatoriamente, um compromisso de uma ligação afetiva mais séria".
Devido ao fato de as gírias, comumente, "subverterem" o sentido original de palavras usuais, podem existir interpretações equivocadas delas. Por exemplo, sabe-se que o verbo "ficar" possui diversos significados mais comuns, entre os quais: estar situado, permanecer, estacionar, sobrar, e demorar. Porém nenhum deles seria aplicável à frase do meu amigo, sem mudança de sentido -- cada qual geraria uma dúvida ainda maior.
As gírias, geralmente, nascem em grupos de jovens e servem para designar fenômenos recentes que ainda não possuem uma explicação ou definição formal, como o referido "namoro-relâmpago". Dessa forma, pessoas alheias à linguagem particular dos grupos, ao tomarem o primeiro contato com a nova expressão, tendem a aplicar-lhe o sentido habitual das palavras equivocadamente e passam a usá-la, mesmo sem compreender o seu real sentido.
Por tudo isso, conclui-se que a gíria "ficar" encerra o significado de "namoro rápido, intenso e descompromissado" e causa problemas de compreensão quando pessoas alheias à linguagem dos grupos sociais juvenis querem aplicá-la ou entendê-la. Essa gíria é importante para a dinâmica do idioma português brasileiro, porque define com agilidade e praticidade um fenômeno recente característico de uma geração que, assim como sua linguagem particular, é ágil e prática, buscando sempre a sua liberdade de expressão.
16.04.1997