migalhas

Começo a me alimentar de migalhas. Pedaços minúsculo de fome e afeto. Ás vezes, até de vermes alimento-me. A privação é cruel. Não há quem consiga ter razão com fome. Não há quem possa seguir sem afeto. Se é imperceptível. Peço. Peco. Passo o dia remoendo mal entendidos. Peças mal encaixadas. Remou o passado. Removo meu corpo para um coro no coreto. Sinto a barriga vazia. A alma branda. Salta-me no peito o ímpeto da refrega. Falta percebe-me que não posso nem comigo. Nem comido. Sei todas as frases em todas as línguas para não passar fome de afeto. Sigo analfabeto. Falha-me a medida. Quilo. Grama. Ainda assim peço que se despeça. Coragem minha. Pedir que quem mata-me de fome alimente os meus ouvidos. Sou uma minúscula migalha do seu dia.

Severo Garcia
Enviado por Severo Garcia em 21/12/2021
Reeditado em 21/12/2021
Código do texto: T7412498
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