Quando morrem os decanos (Ode a Barbosa Lessa)

Quando um literato morre,

destes de grande estatura,

seca um poço de cultura

pra que a água não mais jorre.

o triste é que a morte ocorre

numa fração de minuto,

porém seu substituto

não nasce em oitenta anos.

Quando morrem os decanos

o Pago veste seu luto.

Na madrugada mais quente,

um corpo frio sobre a mesa

traz a gélida tristeza,

rasgando peito da gente.

Há uma lágrima corrente,

sequer um só rosto enxuto,

e um chuvisco diminuto

na tarde dos campechanos.

Quando morrem os decanos

o Pago veste seu luto.

Um verso não fica escrito

um texto nunca se imprime,

e um “achado” se comprime

na imensidão do infinito.

Fica vagando solito

num vazio absoluto.

A morte é baque bruto

que apaga metas e planos.

Quando morrem os decanos

o Pago veste seu luto.

Uma canção que entoa

grande louvor à Querência

é pranto que molda ausência

na cascata e na lagoa.

A página em branco voa

e o vento em si escuto.

O sítio não dá mais fruto,

nem cantam os dois tucanos.

Quando morrem os decanos

o Pago veste seu luto.

Sensação de orfandade

é sentimento comum.

Amarga à boca um jejum

pra toda a posteridade.

Há uma inconformidade

desde o taura mais astuto

até o peão mais matuto

além dos pagos pampeanos

Quando morrem os decanos

o Pago veste seu luto.

PAULO DE FREITAS MENDONÇA
Enviado por PAULO DE FREITAS MENDONÇA em 02/05/2011
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