VISTAS GROSSAS

VISTAS GROSSAS

Vejo, mas finjo que não.

Olho, mas foco o vazio.

Para o lado o olhar desvio;

Para cima ou para o chão

Para não ver um vadio...!

Sua simples existência

Me causa tal destempero,

Que, à beira já do entrevero,

Simular-lhe a falsa ausência

É tudo quanto tolero.

Sim, olho para não ver

E evitar o que aborrece.

Pois, mais males se padece

Em ver o que não se quer

Do que quem se desconhece.

Enquanto fala eu caminho;

Como não fosse comigo,

E eu indiferente sigo

Na graça de estar sozinho

Mesmo ao lado do inimigo.

Vistas grossas pois nubladas

De lágrimas não vertidas...

Muito embora parecidas,

Ambas perdidas miradas:

Muros entre nossas vidas.

Betim - 09 05 2020