Casamentos, crises e soluções

Há algum tempo, em uma entrevista a uma revista, o ator Will Smith fez uma análise curta e direta sobre o relacionamento a dois, dizendo-se “um estudioso da interação entre homens e mulheres”. Apesar do seu tom jocoso, ele resumiu muito bem um tipo de casamento vivido por milhares de pessoas mundo afora.

“Dedicamos quarenta, sessenta ou até oitenta horas por semana ao trabalho, porque isso é necessário para fazê-lo bem feito. De onde tiramos a idéia de que bastam vinte minutos de atenção a um relacionamento, encaixados no meio de todas as nossas outras obrigações, para que ele seja bem-sucedido? Se passássemos só meia hora por semana no emprego, seríamos demitidos. E isso é o que acontece com muitos casamentos: faltamos ao trabalho e perdemos o emprego."

Muitos relacionamentos acabam por pura incompetência dos casais. Leia-se incompetência a capacidade de administrar bem o cotidiano do namoro, do casamento, que envolve todo tipo de rotina. Ao contrário do que muitos possam pensar, a rotina só é ruim se seu conteúdo for ruim. Há rotinas maravilhosas que merecem ser mantidas como tais exatamente por trazerem bem estar e felicidade.

Como este é um tema amplo, profundo e um tanto polêmico, resolvi garimpar opiniões num espaço virtual que gosto muito. Num dos vários fórum de debates da comunidade orkuteana “Café Filosófico ´Das Quatro´” tem sempre em pauta algum tópico interessante.

Num deles – intitulado “Casamento em crise? Por que tantas separações?” – homens e mulheres de idades variadas deixaram alguns pontos interessantes para reflexão. Alguns compartilham da opinião de que o número de separações cresceu pela libertação da mulher em relação a quase todos os preconceitos que havia até a década de 1980, além da sua entrada no mercado de trabalho, que trouxe mais independência financeira e, consequentemente, mais liberdade de escolha.

O depoimento de uma mulher na casa dos 40 anos resume bem um dos principais motivos de desgastes e separações. “Eu me casei muito cedo e fiquei mais de 15 anos casada. Foi ótimo enquanto durou. Acho que o que peca na relação é a falta de diálogo quando as coisas não vão bem. Você não comenta o que vai mal por medo que o outro fique magoado, e isso é um erro fatal, porque depois você acaba tendo atitudes que no fim irão acabar magoando de qualquer forma o outro. Acho que o diálogo é importantíssimo numa relação, e não adianta fingir que está tudo bem para não criar caso. Tem que criar, sim, se for para salvar a relação”.

Uma outra mulher, desta vez na casa dos 30 anos, argumenta que o casamento sempre esteve em crise, embora esta seja uma crise necessária para as superações essenciais à felicidade da própria relação. “Acredito fielmente que as separações são decorridas de casais que acabam aprisionando as pessoas a uma série de comportamentos que um dia culminam no precipício da desilusão assumida e na rotina do dia-a-dia; as fazem refém de uma situação sufocante e anuladora de suas vontades e até mesmo de seus valores. Casamento feliz talvez seja aquele em que a felicidade de um esteja na felicidade do outro; aquele em que ambos reconhecem seus defeitos e convivem com seus próprios e também com os do outro; aquele onde a rotina não se transforma numa corrosiva ferrugem(...)”

Sou daqueles que ainda acreditam na força que mantém unidas as famílias, as amizades verdadeiras, os casamentos. Não acho que o problema esteja em qualquer uma destas “instituições” aperfeiçoadas pelo ser humano. Quando alguma delas se deteriora a culpa é única e exclusivamente da perda do amor próprio e do amor pelo outro; do cultivo exacerbado do egoísmo e do ciúme. Da mesma forma que é possível uma amizade durar a vida inteira, é possível um relacionamento a dois manter acesa a mesma chama de amor que um dia o fez nascer.

P.S.: Este texto é dedicado a Luciana, que compartilha comigo o ideal de amor possível, vivido com intensidade e cultivado todos os dias.

Roberto Darte
Enviado por Roberto Darte em 14/06/2008
Código do texto: T1034350