Caosótica - revista de produção de textos

Caosótica com o subtítulo de “Revista de letras, artes e ciências” vai no quarto ano e Número-14. Em mãos precisamente Caosótica-14, com seus 16 participantes e dois convidados. De início, Moisés Silveira de Menezes com Simbolismo gaúcho, belo poema, de impecável confecção em ritmos e metros, de intensa emoção e linguagem forte. Do mesmo autor, Os ventos de caiboaté, que joga com a confabulação tão grata à literatura gaúcha e nos permite dizer que a poesia moiseana respira a sinuosidade e aroma do pampa.

Segue-se o poema Mundo de poetas, de Ethel Pacheco, jogando com a sutileza do sentido para criar outros sentidos, sem cair no pícaro ou burlesco. Canção para Obama 2 é poema ternamente simpático. Sua mini-narrativa Angustias de defunto, além de nos mostrar uma nova faceta de artista da palavra, sai tangenciada por um delicado sopro de humor.

Os quatro poemas de Rossyr Berny impõem o valor da poeticidade congeminativa que salta com rapidez do tema social para a denúncia e desta para os fundos abissais da psique onde repousam as serenas fontes dos arquétipos. Tempos de sacrifícios é um poema brilhante, intenso e rico como o dizem as fortes cromasias que o enchem de vida. Um outro “Vestida de Napalm” é outro texto de apolínea beleza denunciadora e denunciante que chora lágrimas sobre o hoje.

Marièle com suas pinceladas líricas para descanso e catarse dos sentimentos. Sempre na pista do amor, seus poemas são de terna delicadeza. Maria do Carmo, a poeta dos textos poeticamente narrativos, espontâneos e de extrema lisura.

Uma abertura para a arte de dizer a poesia. Referimo-nos a Ruth Telles na sua imponência clássica de fazer a palavra ter alma e expressão. Realçada como declamadora imbatível na expressão e comunicação. Os textos e imagens o comprovam.

A memória de Cyro Martins revivida num sólido artigo de Suzette Silveiro Sozinho, a articulista maior dos eventos culturais da nossa caosótica. Mariza, firme na busca da identidade através da história e que faz a história falar. Não só de pão pode viver o homem; porém, Marley Poletto parece querer viver só de arte e para a arte. Novamente Jaguarão é objeto de sua busca artística. E Jaguarão com seus belos monumentos revive em seu artigo - “Jaguarão - cidade heroica”.

Rafael, sempre no pelouro da ciência atual, trocou desta vez a física nuclear - tema dos seus artigos anteriores - pelas belezas heróicas e históricas de Creta, ido foi presença num congresso do tema que motivo do seu doutorado em física nuclear. Santa Inèze decide falar sobre sua vocação para o intercâmbio cultural. Tendo por base os eventos do Instituto Cultural Português de que é Diretora, ela consegue, em linguagem colorida, transmitir todo o significado e resultado desse ato.

Ainda mais quatro autores. Tania Rossi, Margarida Cassales, Suzana C. Heemann e Alcione Sortica. Tania, falando do mundo feérico dos perfumes, numa linguagem flexível e informativa. Assim o diz no conto Cheiros de época. Margarida Cassales, presente com um poderoso conto de possante confabulação criativa no sentido diacrônico, embalando o tema do transfísico. Suzana, com textos que denunciam virada para as frentes vanguardistas, bate o tema da passividade criativa no poema Um dia o poeta pensou e no conto Lingerie resolve muito bem o problema do amor num marido com suas vice-esposas. Alcione, oscilando com igual peso entre a crônica e o conto, bate com mão de mestre o flagrante do cotidiano. Seus textos agora exatos, perfeitos e bem modelados, dizem do seu avanço para lugar cimeiro no “Grupo 15 Renascido”. De louvar o seu muito peculiar estilo de criar e congeminar.

Também depoimentos vários sobre Pedra de toque, o livro que o poeta José Moreira da Silva lançou no passado mês de junho. O livro coloca o autor na vertente da maturidade e sobre a obra se pronunciara, com mérito e profundidade, Lígia Antunes Leivas com uma ufanante resenha que diz bem das linhas temáticas que se cruzam na obra. E ainda Suzette Silveiro Sozinho, recortando o tema dominante. De igual modo, Joaquim Moncks, num profundo texto de incidências ensaísticas, tece um festival de linguagem rica, moderna e fulgurante sobre a amizade. “Amizade: a flor do tempo” tal o título de seu trabalho, que vale a pena ler. Ainda Jandir João Zanotelli, dissertando sobre a poesia.

Se é aceitar auto-referências, o autor destas linhas se fez presente com Nhe-nhês & tomates, crônica de humor e com os poemas O pobre que faz o rico e Enxovalhos proletários para o rico, ambos de recorte vanguardista, pesados e duros, repassados de sinuosa ironia. Busquem-se em Recanto das Letras.