GRAVITE: AS PRÁTICAS SÓCIO-DISCURSIVAS DOS PICHADORES NA CIDADE DE CAMPINA GRANDE-PB.

Desde o início de sua existência a humanidade sente a necessidade de desenvolver algum meio de comunicação que possibilite a manifestação de sentimentos, a transmissão de cultura, de informações a gerações posteriores e principalmente a interação comunicativa entre os habitantes de uma determinada comunidade e também entre comunidades.

Assim, pode-se observar que a história da humanidade está inerentemente ligada a um sistema de comunicação, ao qual possibilita as expressões sociais, manifestando uma crítica ou mesmo um chamamento à sociedade, alertando sobre um determinado contexto social, em que uma parte da população se insere.

A partir desse fato, percebe-se a expressão de determinados grupos de pessoas denotando ideologias através de mensagens escritas ou desenhadas. Desse modo, pode-se verificar, ainda, que essas mensagens, mesmo de maneira rudimentar, têm origem nos povos antigos, onde as primeiras civilizações manifestaram vestígios de sua cultura através das pinturas rupestres. Já nos dias atuais podem ser vistas facilmente em grafites de muro, que apesar de apresentarem algumas características distintas das rupestres, mantêm muitas em comum, dentre as quais pode-se citar: o uso de símbolos na linguagem; as escritas e os desenhos serem expostas em locais verticais, como paredes e murais; e o uso proposital de misturas de cores.

Dessa forma, diante da propagação e da relevância assumida pela pichação, na atualidade, observa-se que ela é um importante meio de exacerbação e engajamento, tanto político, quanto sócio-cultural. Assim, tendo em vista a importância e a problemática que envolve (ou que é envolvida) pela pichação, alguns estudiosos despertam a necessidade de investigar mais profundamente esse fenômeno lingüístico e principalmente social. Sendo assim, a Msª. Angelina Maria Luna Tavares Duarte, que também é doutoranda em Sociologia, no PPGS-UFPB, na linha de pesquisa: Sociologia da Cultura e professora da Universidade Estadual da Paraíba, desenvolve o artigo cujo nome é A agência do sujeito nos muros do grafite: marcas da experiência nas práticas discursiva e social do(a)s grafiteiro(a)s.

No primeiro subtópico referente à introdução, a autora faz uma breve abordagem do seu artigo, demonstrando objetivá-lo por meio de uma discussão levada a compreender sobre as práticas dos grafites de muro ocorrida na cidade de Campina Grande-PB, veiculado pelos sujeitos que produzem tal escrita urbana. E a partir daí levando em consideração o auxílio teórico-metodológico para analisar a realidade histórico-social com base no historiador inglês Edivard Palmer Thompson.

Já no segundo subtópico “E. P. Thompson, seu contexto e sua crítica ao paradigma estruturalista”, ela cita o pensamento de Thompson, o qual faz uma crítica com relação à subjugação do sujeito pelo funcionamento de uma estrutura social advinda do contexto francês conservantista. Dessa forma, pode-se observar que este subtópico, de maneira geral suscita uma discussão teórica entre o pensamento de Thompson e Altusses, nessa discussão é ressaltado, principalmente, os diversos vieses que o marxismo assume na nossa sociedade, diante disso, como cita Duarte (2008:5):

"Do ponto de vista do estruturalismo, portanto, não podem ser contemplados os discursos e a práticas sociais que surgem como reação à hegemonia conservadora e que trazem em si, implícitos, os confrontos vivenciados pelos sujeitos na sociedade. Discursos e práticas que questionam, contestam e muitas vezes, subvertem o conservantismo, sinalizando para a subjetividade e para a alteridade, e apontando para a concepção que enfatiza a relação dialética entre estrutura e agência humana (experiência, nos termos de Thompson), através da qual esses fenômenos devem ser analisados".

No terceiro subtópico, “A experiência devolvendo o sujeito ao processo”, Duarte (2008:5) relata sobre a defesa de Thompson a prática revolucionária do marxismo, ou seja ele defende a dialética reflexão, ação, segundo a qual, o ato de refletir, pensar, teorizar não prescinde a ação, a luta por mudanças. Diante disso, a autora, destaca que um dos principais expoentes da manifestação sócio-cultural é o grafite, haja vista, que esse mecanismo de luta social existe na cidade de Campina Grande-PB através, de sua linguagem, exala os anseios de determinado grupo marginalizado, mas consciente de sua problemática.

No quarto subtópico, “As experiências dos grupos de grafiteiro(a)s na cidade de Campina Grande”, a autora revela que cada grupo de grafiteiros expõe sentimentos ideológicos distintos, de acordo com o contexto em que eles pertencem, seja uma área marginalizada, socialmente pelo poder púbico, a qual faz denotarem meios de protesto à classe dominante, expressando mudanças para a classe subjugada do sistema pertencente. E a partir daí transparece sua inclusão a um determinado grupo.

O quinto subtópico, “O diálogo da experiência do(a)s grafiteiro(a)s com o contexto histórico contemporâneo”, Duarte revela a importância do grafite por parte dos grafiteiros relatando a questão dessa prática de acordo com o contexto social e urbano em que esses sujeitos se inserem. E com base nesse ponto eles buscam chamar atenção da sociedade de uma forma crítica a partir de determinados enfoques, os quais são vivenciados por parte de determinados grupos de pessoas, Podendo ser inspirado por esses pichadores, sentimentos contestatórios em relação a certas ideologias.

Já nas “considerações finais” a estudiosa faz uma conexão entre o pensamento de Thompson e as reflexões transmitidas através da prática das pichações ocorridas em Campina Grande. Diante disso, pode-se observar que a autora desenvolveu uma teoria de suma importância ao relatar a prática do grafite desenvolvida na cidade de Campina grande-PB. O qual denota a expressão de um determinado público pertencente a um grupo em que transmite um sentimento ideológico de um contexto social urbano fomentando o desejo de expressar certas questões as quais envolvem o ato de alertar parte da sociedade para questões que estão a mercê de uma determinada camada social. E com isso, desenvolvendo uma crítica e propondo transformações para tal assunto.

Todavia, verifica-se que o referente artigo resenhado, toma como base o pensamento de alguns autores para sua fundamentação e enriquecimento, no entanto, ao se utilizar de muitos teóricos ocorre um efeito contrário, pois a intensidade de informações condensadas na fundamentação do artigo resulta numa considerável dificuldade por parte dos leitores, leigos no assunto, no que se refere à interpretação e à compreensão do texto.

Mas é válido citar que o texto de Duarte (2008:5) cumpre seus objetivos iniciais, que são justamente dar noções gerais aos leitores acerca das principais características que envolvem as pichações, a importância sócio-cultural e, principalmente, política de um grupo marginalizado, assim como quebrar barreiras e preconceitos existentes na sociedade acerca do pichadores da Cidade de Campina Grande-PB.

Assim, pode-se recomendar, sem restrições, a leitura do devido textos aos alunos de graduação dos cursos de humanas, principalmente do curso de licenciatura plena em Geografia e demais interessados. Contudo, fica evidente que se trata de uma leitura inicial, servindo muito mais como uma introdução a um campo de pesquisa mais profundo e dinâmico.

REFERÊNCIA:

DUARTE, Angelia Maria Luna Tavares. A agência do sujeito nos muros do grafite: marcas da experiência nas práticas discursiva e social do(a)s grafiteiro(a)s. campina grande: I Colóquio Internacional de História: sociedade, natureza e cultura, 28 a 31 de julho de 2008.

junior trezeano
Enviado por junior trezeano em 19/02/2009
Código do texto: T1447402