Como sair da deprê

As duas matérias foram publicadas neste domingo (30) na Folha Online, em seções diferentes, mas tratam ironicamente da mesma coisa, ou de um mesmo nome para coisas diferentes, mas que estão intimamente ligadas (rs). Não estou propondo charadas. leiam.

Abraços

De cada 10 profissionais, 1 se diz deprimido da Folha de S.Paulo

Os profissionais estão desanimados: quase metade deles diz se sentir deprimida eventualmente. Os que afirmam ter a doença somam 1 em cada 10 trabalhadores.

Essas são algumas das conclusões da pesquisa realizada pela Isma-BR (International Stress Management Association no Brasil) durante todo o ano passado com mil trabalhadores das cidades de São Paulo e Porto Alegre.

O levantamento, que será divulgado em junho no congresso nacional da entidade, mapeia, pela primeira vez, o índice de pessoas que dizem ter depressão. Até o ano passado, os dados apontavam somente o número de pessoas que afirmavam se sentir estressadas. Na época, 66% assinalaram que o excesso de tensão afetava sua qualidade de vida.

Mas o que tem feito os trabalhadores se sentirem deprimidos? A pesquisa mostra que o trabalho está no topo da lista. Entre os fatores citados estão demissão --causada por fusões ou aquisições--, perda de cargo e falta de perspectiva profissional.

A sobrecarga de trabalho, a demanda para executar tarefas sem recursos financeiros ou sem equipe, as perdas salariais e os relacionamentos no trabalho também figuram na lista. Há ainda os que indicam a alta responsabilidade e a pouca autonomia para tomar decisões como um dos principais desencadeadores dos períodos de tristeza.

Os motivos, no entanto, não estão apenas no dia-a-dia na empresa. Estilo de vida, sedentarismo, alimentação desbalanceada e falta de técnicas para lidar com as pressões também fazem parte do rol de propulsores da depressão.

"Os índices de estresse e de depressão têm aumentado e não é pela falta de informação da população", analisa a presidente da associação, Ana Maria Rossi.

Segundo Rossi, que também é representante do Brasil na Seção de Saúde Ocupacional da Associação Mundial de Psiquiatria, parte da responsabilidade é da empresa, que sobrecarrega esses profissionais. "Mas eles têm sua parcela de culpa por não saber lidar com agentes estressores."

De mãos atadas

A auxiliar de faturamento Tatiana Ferreira, 24, não se isenta da "culpa" de ter tido depressão. Afirma, no entanto, que parte do mal foi gerado pelo excesso de trabalho. "Acumulei as funções dos departamentos financeiro e de logística. Também estive à frente na implantação do novo sistema de software na empresa."

As tentativas de Ferreira para que o chefe contratasse outro profissional para dividir o trabalho foram em vão. "Ele afirmava que não tinha recursos suficientes."

Resultado: em novembro de 2004, durante uma sessão de cinema com os amigos, ficou literalmente paralisada. Não conseguia mexer as pernas e os braços e teve de ser auxiliada por bombeiros. "O médico disse que aquele sintoma foi causado pela depressão."

Voltou para o trabalho, mas, 15 dias depois, teve outra reação como a anterior. Dessa vez, dentro da empresa. Teve de permanecer afastada por ordens médicas. "Nos primeiros quatro meses, tive crises de pânico e não conseguia sair de casa", recorda.

Voltou para o escritório em novembro do ano passado -mas, em fevereiro de 2006, resolveu pedir demissão. "Vi que a situação não melhoraria e decidi buscar algo que me desse mais prazer", diz Ferreira, que está em busca de trabalho na área de comunicação.

Bailarina de 102 anos ainda atua na Broadway

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CATHERINE HOURS

da France Presse, em Nova York

"Acham que sou jovem demais para dançar?", pergunta ao público, com picardia e levantando uma perna, Doris Eaton Travis, que aos 102 anos é a única bailarina viva do histórico espetáculo da Broadway "Ziegfeld Follies", ainda demonstrando disposição para se apresentar em um show beneficente pela luta contra a Aids em Nova York.

Seu segredo? "Vejamos... Eu como muito pouco", diz após refletir um pouco em seu camarim, depois de apresentar seu número. "Além disso, eu faço exercícios caminhando de um lado para o outro, eu administro um rancho, você sabe?"

A cada ano, a minúscula velhinha de cabelos brancos viaja de seu rancho, em Oklahoma (sul) para participar desta gala, organizada no mesmo Teatro da Nova Amsterdã, onde ela estreou na peça de Ziegfeld, em 1918, com apenas 14 anos.

Tudo mudou muito sob os neons da Times Square. O teatro, que foi transformado em cinema pornô e ameaçado de demolição, apresenta atualmente a comédia musical "O Rei Leão".

Doris Eaton Travis olha com pesar para a Broadway atual. "Corpos (nus) demais! Sem aquela elegância que contava tanto no reinado de Ziegfeld", diz ela.

Na época, Florenz Ziegfeld se inspirou no Folies Bergères de Paris para montar uma versão com os grandes atores do momento e as mais belas coristas de então, entre as quais algumas que se tornaram celebridades como Paulette Goddard e Louise Brooks. De 1907 a 1931, toda a Nova York queria assistir ao Follies. "Mesmo que as belas jovens usassem pouca roupa, os shows não eram nunca vulgares... E havia humor, mas nunca escabroso, sempre alegre", acrescenta.

Doris foi estrela do espetáculo entre 1918 e 1920. Depois de Nova York, ela se aventurou em Hollywood, atuando em filmes mudos. No show Hollywood Music Box, ela foi "a primeira a interpretar 'Singing in the Rain'", lembra, revelando que na época era apaixonada pelo célebre Gene Kelly.

Mas em 1936, por causa da Depressão, Doris ficou sem trabalho e precisa trocar o "showbiz" pela dança de salão. Dez anos depois, ela administrava 18 escolas. Nos anos 60, começa uma nova vida ao lado de seu marido, no rancho do casal em Oklahoma. Doris se dedica à contabilidade e à dança country.

Sempre inquieta, em 1991, aos 87 anos, ela obteve o diploma de História na Universidade de Oklahoma. Em 1999, aos 95 anos, atua ao lado de Jim Carrey no filme "O Mundo de Andy", de Milos Forman. Quatro anos depois, aos 99, enfim escreve seu livro de memórias, "The Days we danced".

"Às vezes, quando começo a pensar, eu digo a mim mesma, 'Meu Deus! Eu realmente fiz tudo isto?', é maravilhoso", diz ela, com os olhos fixos em seus interlocutores. Atualmente, o resto da dinastia Eaton desapareceu.

Mas toda noite, antes do jantar, Doris dança durante 20 minutos com seu assistente. "Isto me mantém em forma. E às sextas-feiras, o clube da universidade tem uma orquestra, nós vamos lá e dançamos um pouco", conta.

Na segunda-feira passada, algumas horas antes do show de caridade, ela não se sentia bem e quase não se apresentou. Mas o público não foi privado de assistir à Doris resplandescente em seu vestido de cetim dos anos 30, dançando com um jovem bailarino um jazz do Follies 1913.

"Eu me saí bem", constata logo após, aliviada. "Eu sempre encontro inspiração para chegar aqui".

Nelson Oliveira
Enviado por Nelson Oliveira em 30/04/2006
Código do texto: T147804