Psicologia da Gestalt: Breves Considerações

A partir do inicio do século XX a psicologia começou a tomar uma configuração mais nítida, quando os psicólogos resolveram se agrupar em diversas “escolas”, de acordo com os pontos de vista defendidos. Até a década de trinta foram definidas as escolas mais importantes. Entre elas estava a Psicologia da Gestalt. Gestalt (pronuncia-se “Guechtalt”) é uma daquelas palavras alemãs que desafiam a tradução. Muitos termos foram sugeridos para traduzi-la, entre eles “forma”, “figura”, “padrão” e “configuração”. No entanto, nenhum deles foi correto.

Por volta de 1910, um psicólogo chamado Max Wertheimer, fazia experimentos sobre a noção de que a percepção envolve muito mais do que a sensação, e mesmo sensações combinadas, e descobriu que duas aberturas numa tela, iluminada numa fração de segundo, produziam um efeito de movimento. Wertheimer e seus colegas Wolfgang Köhler e Kurt Kofka ficaram impressionados com esta evidencia experimental de que percepção inclui mais do que é encontrado em sensações separadas, e continuaram fazendo novos experimentos que culminaram com a formação da escola Gestalt.

De certo modo, a Gestalt foi uma reação tanto contra o Estruturalismo, como quanto ao Behaviorismo. Os primeiros Gestaltistas afirmaram que a experiência e o comportamento não podem ser analisados em elementos de consciência , como sustentavam os estruturalistas. Como não podem também ser decompostos em unidades de estímulo-resposta, como pareciam pensar os behavioristas. Para os gestaltistas o comportamento e a experiência não são analisáveis ainda que possam ser percebidas certas relações entre o todo e as suas partes.

Para os gestaltistas, o todo é mais do que a soma das partes. Uma paisagem, por exemplo, não é meramente grama, mais árvore, céu, nuvens e outros aspectos. É na verdade o conteúdo de uma percepção distinta, ou experiência, com características próprias. Pode-se notar partes do todo, mas estas partes existem em relação definida uma com a outra. Perturba-se as relações e a qualidade do todo se modifica. Köhler realizou um interessante experimento com galinhas, para demonstrar que a percepção das relações é importante. Foram colocadas algumas porções de cereal sob pedaços de papel branco e cinza. Se uma galinha dava bicadas no cereal do papel cinza, podia comer sossegada. Quando bicava o cereal do papel branco era enxotada. Depois de algumas centenas de ensaios, as galinhas aprenderam a bicar somente o papel cinza. Então o papel branco foi trocado por um papel preto. Em quase três quartos dos ensaios, os animais se aproximaram do papel preto, ao invés do cinza: isto quer dizer que elas haviam aprendido a responder à relação “mais escuro que”, e não meramente ao papel cinza como tal. A relação entre o claro e o escuro dominou a percepção dos animais. Ainda no estudo das percepções, Köhler e Koffka verificaram que quando percebemos alguma coisa, alguns aspectos dela se sobressaem mais claramente. É o caso da figura e fundo. A figura emerge sobre um fundo mais vago, mais difuso. Mas algumas vezes figura e fundo se alteram. Como no caso do garoto que olhando uma zebra, perguntou se era um cavalo branco com listras pretas, ou um cavalo preto com listras brancas.

Os princípios da Gestalt pressupõem que o organismo contribua com algo para a percepção. Os estímulos são automaticamente organizados ou classificados em forma assimilável. Os psicólogos da Gestalt acreditam que que também existem determinantes básicos inatos da percepção. Para eles. Na percepção “a forma é a melhor possível”. Divisamos nos objetos a forma mais simples, a mais simétrica, a melhor equilibrada e assim por diante. Assim, num mapa geográfico, normalmente se vêem os continentes, mas pode-se também ver os mares limitados pelas terras, as vezes quando o mapa traz apenas o contorno das terras, podemos nos enganar a principio, tomando um continente por um mar, um golfo por uma península, mas nunca nos prendemos a percepção de linhas justapostas de qualquer jeito. Espontaneamente a figura se organiza representando as terras emersas, os oceanos e mares. Ainda sobre estas organizações de dados os teóricos da Gestalt diziam que a invenção é uma nova organização de dados. Eles não admitem que a adaptação se possa explicar seleção automática dos êxitos ocidentais. Por isto, diziam que um êxito fortuito não constitui progresso senão quando compreendidas as condições de que dependiam. Deixa portanto de ser fortuito. Em suas pesquisas nas Ilhas Canárias, Köhler tentou descobrir como os chimpanzés chegavam a resolver os problemas que lhe eram apresentados. Ou seja, como descobriam o meio de atingir a banana que era colocada fora de seu alcance imediato. A descoberta se dá por uma intuição, que modifica a estrutura do real. Isto quer dizer que o macaco vê as caixas, largadas no canto da gaiola, como “embaixo” da fruta suspensa na grade. Vê um pau como “um prolongamento” de seu braço. Quando no decorrer de situações que mudam as perspectivas, o animal se encontrar na posição favorável, compreenderá como chegar ao resultado para o qual tende. Para os gestaltistas, o mesmo acontece com a atividade intelectual do homem. Eles não acreditam que o pensamento consista na seleção de imagens ou de idéias que se apresentam automaticamente por acaso.

Os teóricos da Gestalt também se preocuparam com nosso comportamento afetivo no meio social do qual fazemos parte. Como se sabe, a psicologia clássica explica a atração ou a repulsa que provocam em nós, não só certos indivíduos mas ainda certos rostos, certos tipos físicos, como resultado de nossa experiência pessoal ou pela educação. Por exemplo, tendo, uma ou várias vezes, sentido encanto de uma loura amável, o tipo louro nos atrairia e nos ditaria julgamentos de ingênua parcialidade. Neste caso, partidários da Gestalt repelem esta concepção associacionista, para dizer que é imediatamente, e independente de toda experiência e de toda aprendizagem, que percebemos nas coisas e nas pessoas as formas que as tornam atraentes ou repulsivas. Os próprios animais se assustam de maneira cômica, a vista de seus semelhantes maiores que eles e que lhe podem parecer hostis, ou de brinquedos inofensivos que nunca lhes causaram mal. Sobre isto, Köhler fez interessantes experiências com chimpanzés. Ao colocar algumas bonecas de pano e madeira de aparência bastante primitiva, frente aos animais, ele notou que eles se mostravam apavorados, evitando aproximação e em certos casos demonstravam uma angustia extrema. De fato pode-se atribuir o terror dos chimpanzés ao caráter novo e desconhecido das figuras que se lhes apresentavam. Mas não é toda novidade que os intimida e amedronta. Há também aquelas que despertam a sua curiosidade sem provocar temor. Portanto existe em certos objetos uma estrutura, em conseqüência da qual, independentemente de todo saber e de toda experiência, os ditos objetos são percebidos assustadores e temíveis, ou como graciosos e simpáticos. Quase a mesma coisa se passa com a criança, e mesmo com o adulto. Assim como a forma dos desenhos é percebida imediatamente, assim também é desde o primeiro instante, sem reflexão nem interpretação, que captamos a expressão de um rosto ou de uma atitude. Nós temos, portanto, acesso direto ao que se chama o interior dos outros, e os estados de consciência são unicamente a face subjetiva dos movimentos orgânicos . Köhler acreditava que não há necessidade de interpretar, por meio de nossa experiência pessoal, os sinais que eles manifestam de seus estados.

Conclusão:os teóricos da Gestalt pretendiam separar-se dos behavioristas, alegando que o Behaviorismo reduz a atividade psíquica a ”comportamentos moleculares”, consistentes no par estímulo-reação. Os gestaltistas, por sua vez, explicam-na como “comportamentos globais”. A Gestalt toma o individuo em sua situação concreta e em toda sua complexidade. Por exemplo, um escolar em classe, um piloto em sua cabine. A tarefa de nossa psicologia, dizia Kofka, é o estudo do comportamento em suas conexões causais com o campo psicofísico.

Bibliografia consultada: SOUZA, Irene Sales, et al, Dicionário de Psicologia Prática. São Paulo: Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1970. 547 p.

Washington M Costa
Enviado por Washington M Costa em 20/03/2009
Reeditado em 19/07/2009
Código do texto: T1495700
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