MARIQUINHA - O DIA DA FESTA

Era Dia Santo. Dia de festa. Dia alegre, de missa no bairro, de quermesse, de leilão, de café com biscoito para o povo. Naquele tempo ninguém ganhava dinheiro com a religião, gastava-se muito, isso sim; os fazendeiros davam rês para o santo, o povo trazia o pó de café feito em casa, a rapadura , o melado e, até garapa de cana de que alguns gostavam para fazer o café. Era comida e café com biscoito o dia inteiro, para o povo. Chamavam de Dia de Festa. Todos tinham uma promessa, um pedido ou um agradecimento a fazer ao santo. Da cidade mais próxima vinha o padre, todo paramentado, com seus dois coroinhas balangando os turíbulos. A pregação

era linda. Os padres sabiam mexer com o sentimento daquela gente silenciosa e boa que apinhava a pequena igreja. Muitos choravam na missa, emocionados. Depois... A procissão pelos caminhos do bairro. Foi num dia desses, Dia de Festa, em plena procissão que eu percebi – ai! Que coisa linda! – Os olhos negros e graúdos de uma mulher voltados para mim. Essa mulher-menina chama-se Mariquinha. Era baixinha, mas deliciosamente linda. Cabelos compridos, bem tratados, corpo maravilhoso, tudo bem proporcionado, morena, robusta, vendendo saúde, conforme o ditado. Era diferente de todas as outras, muito simpática, um ar de princesa.