PARADOXOS IDENTITÁRIOS

SZWAKO, José. Reseña de “Identidades Liquidadas” de Zygmunt Bauman. Revista de Sociologia e Política. Brasil, UFPR. Número 027, ISSN: 01044478.

José Szwako é mestre em sociologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e doutorando em ciências sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atuou como pesquisador visitante no Centro de Estudos e Documentação da América Latina de Amsterdam, e é organizador de "Ensaios de Sociologia e História Intelectual do Paraná" (Editora da UFPR).

O presente texto trata de um diálogo entre o jornalista italiano Benedetto Vecchi e o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em que se alçaram questões acerca da identidade, bem como a sua fluidez na sociedade contemporânea.

Szwako afirma que para Bauman, a era moderna é marcada pelo caráter liquefeito, volátil. Esse caráter volátil por sua vez é conseqüência de uma quimera contemporânea que espera o “fim de sua jornada histórica”, onde a humanidade alcançará um estado de perfeição. Nesse contexto reside o paradoxo da modernidade volátil: ao mesmo tempo em que os indivíduos se tornam incapazes de darem continuidade aos seus projetos de vida, são também responsabilizados por suas escolhas e as conseqüências delas para o ambiente coletivo.

Bauman, em seu diálogo, reflete o problema teórico da identidade, partindo da concepção pré-moderna de identidade nacional, que incorporou a naturalidade ao nascimento, descaracterizando os demais discursos, locais e regionais. Sendo assim, o cenário líquido-moderno ultrapassa a questão apenas da identidade nacional, considerando o retraimento das funções sociais do Estado, associado à precarização dos padrões de emprego, como produtores de uma insegurança que resulta em formas sociais que têm em sua ideologia o racismo e a xenofobia.

Bauman estabelece a tríade trabalho-Estado-atores como núcleo mais ou menos rígido para reconstruir seu argumento, e Szwako analisa as dimensões desta tríade, apontando a abrangência da crítica tecida pelo sociólogo polonês.

Na exposição dos componentes da tríade, Szwako apresenta o mundo do trabalho inspirando pouca confiança, o que não permite a identificação e solidariedade grupais, sendo assim, não há condições para se construir nele um lar. O papel do Estado, por sua vez, é definido como um agente responsável por produzir “lixo humano”, pessoas rejeitadas, excluídas, que não são mais necessárias para o andamento econômico. Por último, Szwako, se utilizando da crítica de Bauman, afirma que os novos atores ou movimentos sociais apontam novas bandeiras de gênero e raça, dificultando a luta, bem como o pensamento de uma solução universal, que por sua vez inibe o particular e esquece da miséria vivida pelo “lixo humano”.

José Szwako conclui sua resenha apresentando o panorama crítico da sociedade capitalista atual pensado por Bauman, onde o aspecto líquido dos processos sociais interfere nas posições e trajetórias do indivíduo, ratificando que o problema identitário atual não reside em selecionar um meio para se adquirir uma identidade, mas sim qual identidade deve-se escolher e por quanto tempo deve-se se sentir preso a ela. Uma vez que, claramente, adquirir uma ou mais identidades é um exercício político.

A resenha de Szwako é rica em informações acerca das reflexões feitas por Bauman na sua entrevista concedida a Benedetto Vecchi, uma vez que nos leva a encarar o “problema” identitário por uma ótica não apenas social, mas também política. Através de Bauman encaramos um mundo líquido, fluido, onde as instituições não são capazes de acolher o indivíduo, levando-o ao fracasso, ou a condição de “lixo humano”. Conseguimos também visualizar as relações sociais estabelecidas pelo indivíduo, que na contemporaneidade também se tornaram fluidas, o que facilita volatilidade, bem como a mudança nos traços identitários que constituem a sua personalidade. Bauman, através de Szwako contribui para uma reflexão mais profunda acerca do nosso país, onde as instituições são ineficientes, e fomentam na população o sentimento de identidade nacional, desconsiderando as particularidades das várias regiões que compõem a nação, bem como as culturas locais presentes nos diferentes estados. A modernidade líquida em que nos encontramos é marcada pelo distanciamento pessoal do indivíduo com ele mesmo, o levando a assumir diversas identidades. Através do domínio do consumo, da globalização e do estreitamento espacial através dos meios de comunicação, o ser humano se distancia de si mesmo e se aproxima dos demais, assimilando a identidade do próximo em contrapartida à identidade construída desde o seu nascimento.

Recomenda-se a leitura da resenha de Szwako aos acadêmicos, bem como os demais profissionais que se interessem pela questão identitária.

Deborah Henrique
Enviado por Deborah Henrique em 30/04/2011
Código do texto: T2939614