Um passeio memorável, com poucas obras memoráveis

Vazia. Essa é a síntese da minha impressão geral sobre a 27a Bienal Internacional de São Paulo. Antes de continuar, preciso confessar que meu entendimento sobre arte sequer me daria o direito de escrever sobre o assunto, mas como sou ousada e abusada, cá estou, e o pior, reclamando... vê se pode?

Acontece que das outras vezes que tive o privilégio de visitar a Bienal de Artes de SP, vi muito mais do que pude ver nesta oportunidade. Achei vazia sim, com muitos espaços em branco, e o pouco que creio ter visto por lá também não me agradou muito. Quero dizer com isso que foram raros os trabalhos que me fizeram parar, observar por muito tempo, ficar fascinada, encantada ou algo parecido.

Entre esses destaques está “Sabores e Línguas”, do artista Antoni Miranda. Ele fez uma investigação e uma enorme coleta de dados para documentar e divulgar a conexão entre arte, comida e cultura. E durante um evento em agosto ele distribuiu pratos ao público, que foi convidado a decorá-los com suas próprias idéias. Aí na foto dá para ter uma idéia do resultado.

Chamou a minha atenção também a série de fotos “Homens Hiena da Nigéria”, do sul-africano Pieter Hugo. Parece uma fotorreportagem sobre artistas itinerantes que trabalham com exibição de animais. Nada surpreendente tratando-se de cobras ou macacos, mas hienas, ah... isso é bastante esquisito. Afinal de contas, esse animal é um dos caninos mais violentos e é impossível imaginá-los adestrados. Até porque sou contra exibição de animais adestrados, sejam de qualquer espécie.

O que me chocou, na verdade, foi essa frontal exposição de uma realidade até agora inimaginável, como Pieter Hugo tem demonstrado em suas fotos pelo mundo afora. Considerado um dos mais talentosos fotógrafos da atualidade, ele desenvolve um trabalho fortemente calcado na crítica social, incluindo ensaios sobre tuberculosos no Malawi, de genocídio em Ruanda, escravidão no Sudão, favelas no Brasil e comunidades idosas e albinos da África do Sul.

A meu ver a Bienal frustrou por contrariar o próprio tema, “Como Viver Junto”. Está certo, um tema político-social, que pretende discutir relações sócio-culturais-artísticas etc etc, muito compreensível. Mas, que “Viver Junto” é esse que sequer pudemos nos aproximar de boa parte das obras? Cadê os trabalhos que podíamos tocar, sentir, nos envolver? Até as que estavam expostas para serem manipuladas mantinham dois seguranças proibindo que fossem tocadas pelos visitantes. Sem contar os para-peitos das rampas, nos quais não podíamos debruçar para admirar o movimento, que logo chegava um segurança para avisar que era proibido. Enfim... paciência.

Com um pouco mais de tempo e para quem gosta mesmo é de Arte Moderna, é bom visitar as exposições do MAM e da OCA, com imperdíveis exemplares. Aliás, o passeio já valeria a pena só para rever aquele belíssimo conjunto arquitetônico, criado por Oscar Niemeyer, que une o pavilhão da Bienal, o MAM, a OCA e o Auditório, com aquela marquise vermelha, batizada de Labareda, apontando pro Parque do Ibirapuera.

Giovana Damaceno
Enviado por Giovana Damaceno em 27/11/2006
Reeditado em 27/11/2006
Código do texto: T303124
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