Uma análise do conto "Mineirinho", de Clarice Lispector

No conto Mineirinho, a narradora, de primeira pessoa, tomava café enquanto lia o jornal e deparando-se com a notícia de que um bandido havia sido morto com treze tiros, perguntou à empregada o que esta achava disso, mas ela preferiu não dizer o que sentia, e a partir daí, a narradora vai delineando toda a possível trajetória que transformara Mineirinho num bandido e como nós éramos responsáveis pela sua morte.

O olhar da narradora é de fora, pois ela não está inserida no mesmo contexto que Mineirinho, porém a empregada está. O sentimento causado pela morte de Mineirinho é diferente nas duas mulheres, para a narradora ela se sente socialmente responsável, mesmo que inconscientemente e involuntariamente, enquanto que a empregada sente a morte do “bandido” como se este pudesse ser seu filho ou um ente querido.

Os treze tiros aparecem como o martírio temporário dessa culpa. No décimo terceiro tiro a narradora diz ser o outro, porque ela também está morta, mas já acabou. Ela já pode voltar para a sua segurança, para o seu sono tranquilo.

Por que a morte de um bandido não nos afeta mais? Ou nos afeta, mas preferimos fazer de conta que não temos nada a ver com isso? Por que não o tratamos pelo nome como uma pessoa normal?

Para não nos apiedarmos, não sentirmos culpa.

A narradora tenta mostrar onde é culpada, mas ela não é a única, todos se encaixam no silêncio, no “deixa tudo como está”, “não tenho nada com isso” etc.

Se uma bala é necessária para matar uma pessoa, por que treze? A morte de um bandido com treze tiros não provoca indignação porque o crime já está justificado pelo rótulo: bandido.

Mas se uma “pessoa de bem” é morta com treze tiros por um bandido, isto nos causa imensa indignação.

A narradora do conto Mineirinho apenas desmascara a verdade, a sociedade que lava as mãos diante de seus filhos carentes de educação, de afeto, de tudo, e que depois os extermina como se fossem ratos sendo dedetizados, para manter os filhos pródigos tranquilos e livres de qualquer perigo ou ameaça.

Kauana Costa
Enviado por Kauana Costa em 22/10/2011
Reeditado em 26/01/2023
Código do texto: T3291552
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