Estudos Fonéticos e Fonológicos

Este trabalho consiste em uma concisa exposição dos assuntos abordados nas páginas 01-13 e 42-49 do módulo Estudos Fonéticos e Fonológicos 2010.1, organizado pela professora Lívia de Carvalho Mendonça. A autora possui mestrado, é pesquisadora do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e atualmente docente da Universidade Estadual da Bahia – UNEB, Campus XXII.

Para elaboração do módulo a mesma utilizou como aporte teórico vários autores, entre os quais se pode citar: Houaiss, J. Dubois, Câmara Jr. e Ricardo Ramos. Inicialmente a professora nos propõe um estudo propedêutico abarcando as temáticas: Fonética e Fonologia, suas distinções conceituais e metodológicas, além de outros enfoques, perpassando também pela aquisição da linguagem, com ênfase na noção de idade crítica e protolíngua. O módulo discorre também sobre a relevância dos estudos históricos filosóficos para a Fonética e a Fonologia, e nos apresenta uma breve explanação sobre acentuação gráfica brasileira.

Embasado na Enciclopédia Mirador Internacional o trecho resenhado destaca alguns traços distintivos entre os ramos fonético e fonológico, tendo em vista que o foneticismo desenvolve o estudo dos sons da fala enquanto realização fônica, ao passo que a fonologia preocupa-se com a função linguística do som, visto como elemento diferenciador de unidades significativas. Designada ciência dos sons da fala, a Fonética trata da substância de expressão, enquanto a Fonologia, caracterizada como forma de expressão, é denominada ciência dos sons da língua. Diante de tal co-relação e interdependência entre ambas as ciências, muitas vezes a Fonologia é também nomeada de “fonética funcional”.

O módulo nos traz algumas definições de alguns autores, como J. DUBOIS o qual afirma que, são dois os grandes domínios da fonologia, a saber: a fonemática que estuda os fonemas; e a prosódia que estuda os elementos fônicos os quais acompanham a realização de dois ou mais fonemas. Já Câmara Jr. nos diz que é de cada som da fala que se depreende o fonema. Para ele, a fonética transmite sons acústicos que nossa audição aprende como unidades fônicas.

De acordo com Lívia Mendonça, a Linguística apresenta-se como disciplina científica a partir do século XIX. Todavia, desde a antiguidade os gregos já demonstravam interesse pelo estudo da linguagem na tradição filosófica e da gramática, tendo como objetivo a relação da linguagem com o conhecimento. Conforme a autora, no que diz respeito à Linguistica, pode-se dizer que fora da Filosofia a linguagem apresentava na antiguidade dois contornos distintos: a Gramática grega, preocupada com a norma de correção; e a Retórica latina que estabelecia regras de como proceder para conversar e alcançar o ouvinte. Pode-se também destacar a linguagem hindu que tinha como finalidade estabelecer de modo perfeito os sons a serem produzidos nos cânticos sagrados, para que tivessem validade sagrada. A descrição desses sons pode ser observada na Gramática de Panini.

No decorrer do módulo, para se alcançar o entendimento concernente à conceituação e distinção entre Fonética e Fonologia, a autora recorre à obra do professor Ricardo Tupiniquim Ramos o qual nos informa que cabe ao foneticista o estudo da articulação dos sons linguísticos, os fones, ao passo que aos fonologistas cabe o estudo destes fones.

Ao estabelecer uma sucinta retrospectiva histórica, Ramos nos relata que há observações sobre assuntos pertinentes à Fonética desde a gramática do sânscrito de Panini. Avançando na linha do tempo, durante o século XX a pesquisa fonética além de oferecer suporte à Fonologia e outros ramos da Linguística, pode contribuir de forma contundente para o desenvolvimento de outras ciências e para o surgimento de novas tecnologias. Vale assinalar que o primeiro laboratório brasileiro de Fonética foi fundado em 1957 na Universidade Federal da Bahia.

De acordo com Ricardo Tupiniquim, o estudo fonético divide-se em três ramos: a Fonética Articulatória, a Fonética Auditiva e a Fonética Acústica. O autor frisa que em média 30% dos fones são captados imprecisamente pelo ouvido humano, defasagem compensada durante a interação comunicativa.

Ainda em conformidade com Ramos, os campos de pesquisa da Fonética formam a seguinte tríade: a estrutura física dos fones, a sintetização da fala e o seu reconhecimento automático. Além disso, acusticamente a fala humana apresenta dois tipos de som: sons aperiódicos ou ruídos que não têm valor linguístico e os sons periódicos ou fones que têm valor linguístico. Diversos instrumentos podem ser utilizados para análise dos elementos acústicos da fala entre os quais: o espectograma (gráfico representativo da variação de intensidade dos sons por meio de manchas escuras); o palatograma (fotografia aérea da situação de contato da língua com o palato) e o quimógrafo (gráfico que registra aspectos variados da passagem de ar durante a produção da fala).

O autor segue em seu decurso histórico ao afirmar que no ano de 1879, através da descrição linguística surge o conceito de fonema como classe de sons, aplicado pelo polonês Boudoin de Courternay. Em 1904 Otto Jespersen divulga as diferenças que implicam mudança de significado e a partir de então começa a se desenvolver o conceito de fonema em oposição ao de fone ou som elemental. Na evolução conceitual, o pensamento de Saussure tornou possível a identificação da fala (uso) com fonema e de língua (sistema) com fone.

Ramos ainda afirma que um dos objetivos da Fonologia é desenvolver sistema de escrita para línguas ágrafas. Do mesmo modo, ao lado dos estudos psicolinguísticos presta um grande serviço ao processo de alfabetização em língua materna. Também no processo de aprendizagem de uma língua estrangeira constata-se que a Fonologia tem grande participação.

Além da classificação articulada dos fonemas da língua inclui-se ainda a ortoépia (estuda a articulação e pronúncia dos vocábulos); a prosódia (estuda a acentuação dos vocábulos) e a ortografia (o estudo padronizado da escrita de uma língua). Esta não faz parte nem da Fonética nem da Fonologia, pois não se trata nem dos fones nem das funções dos fonemas, mas antes de sua padronização e representação gráfica. Necessário se faz esclarecer em que sentido usamos termos como: fala, escrita e a alfabetização.

De acordo com o conteúdo do módulo há, na escrita da língua portuguesa, acentos gráficos indicadores de tonicidade e timbre, destacando-se o agudo, o circunflexo, e o grave. Já as notações lexicais indicam, graficamente, traços primários dos fonemas (como a nasalidade) e alguns fenômenos fonéticos. Pode-se citar, entre outros: o til, o apóstrofo, o hífen, o parêntese, as aspas e o trema. Os sinais de pontuação indicam, na escrita, pausas e os outros tipos de frases. Na língua portuguesa encontramos: ponto final, ponto de interrogação, ponto de exclamação, vírgula, dois pontos, ponto e vírgula, travessão e reticências.

Para rematar as temáticas abordadas nos trechos do módulo em questão, a professora Lívia Mendonça reproduziu alguns slides onde se observa o estudo científico entre a evolução do homem e o macaco, atentando-se, entre diferenças e semelhanças, a questão da língua. Segundo o material apresentado, características de hominídeos remotos mais acessíveis que a língua dão indicações sobre o surgimento desta. A evolução humana é caracterizada por uma série de importantes alterações morfológicas, de desenvolvimento, fisiológico e comportamental, que tiveram lugar desde que a separação entre o último ancestral comum de humanos e chimpanzés.

Constata-se, pois que os macacos não conseguem desenvolver a linguagem, mesmo depois de várias tentativas utilizando a motivação (busca por alimento). Através desse método, conseguiram apenas reproduzir algumas palavras, não desenvolvendo a sintaxe. Os hominídeos possuem o cérebro menor, boca e língua maior que o homem, não há evidências de que o tamanho do cérebro determine habilidades linguística. Porém o homem possui cérebro maior, boca e língua menor, sendo a única espécie a desenvolver sintaxe e léxico, portanto única dotada de língua. Outra mudança morfológica significante foi a evolução do sistema mastigatório: redução do dente canino e do osso entre base da língua e a laringe, tornando a fala possível.

Diante do exposto no material visual é mais provável que o homoerectus tenha sido o iniciador da protolíngua, visto que as lesões na área da boca interferem na produção de sentenças e lesões na área da de wernicke interferem na lembrança de itens lexicais.

Referência:

CÂMARA JR., J. Mattoso. Dicionário de linguística e Gramática. Petrópolis: Vozes, 1992.

DUBOIS, J. ET alii. Dicionário de linguística. São Paulo: Cultrix, 1978.

Enciclopedia Mirador Internacional. Ed. por Houaiss. SP, Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1976, v. IX. Verbete elaborado por LOBATO, Lúcia M. Pinheiro. Revisor crítico: SOARES, Maria Nazaré Lins.

MENDONÇA, Lívia de Carvalho (2010). Estudos Fonéticos e Fonológicos 2010.1. [mimeo].

RAMOS, Ricardo Tupiniquim (2009). Estudos fonéticos e fonológicos. [mimeo].

Eliana M Pereira e Iolanda Santos Barreto
Enviado por Eliana M Pereira em 09/02/2012
Código do texto: T3489256