Resenha impressionista para Vandana Shiva em Porto Alegre

Vandana Shiva esteve ontem novamente em Porto Alegre, e eu tive o privilégio de ouvi-la palestrar para um Salão de Atos da UFRGS lotado de alunos atentos! A filósofa e ambientalista indiana nos encantou falando sobre a “Democracia da terra”. Homenageou seu amigo pessoal e nosso amado ambientalista e guerreiro José Lutzenberger, falecido há dez anos.

A "Dama da Sustentabilidade" nos lembrou que o "eco-apartheid", a ideia - muito presente na filosofia "masculina" ocidental - de que a Natureza está separada das pessoas, é errônea e não faz o menor sentido, pois formamos uma unidade interrelacionada. Sua ideia é perfeitamente coerente e até mesmo evidente, o que nos faz ficar surpresos com a hegemonia (por séculos!) da ideia estúpida de "progresso" como algo associado a uma produção de bens que explora a natureza e nunca foi sustentável. Os próprios paradigmas da ciência indicam que a visão mecanicista está superada, bastando ver os resultados da área da Física Quântica sobre a interconexão da própria estrutura da matéria (que Vandana Shiva estudou em sua tese de doutorado - sim, ela é PhD nesse assunto!).

A prática da meia-dúzia de grandes empresas (principalmente químicas e de agronegócio - os demônios do mundo moderno), de usar a terra e os recursos naturais para monoculturas comerciais (e não para produção e distribuição de alimentos), considerando os habitantes indígenas como "parte da fauna" e explorando-os também, ainda hoje resulta das "monoculturas da mente", desse pensamento tacanho de lucros a qualquer custo, que vai eliminando a biodiversidade e a própria possibilidade de sobrevivência de muitos grupos humanos no longo prazo.

Surpreendente na sua simplicidade, Vandana Shiva contou sua "primeira lição de economia política", que foi quando aprendeu que, comprando uma roupa de nylon (material industrializado por empresas estrangeiras), estaria ajudando alguém a ficar mais rico, e comprando uma roupa de fibra de algodão (material produzido por pequenos produtores indianos), estaria ajudando alguma mãe indiana a alimentar seus filhos. Encantadoramente, encerrou sua palestra afirmando que “Somos a família da Terra, todos parte de uma única familia com animais e plantas." e que "Precisamos celebrar a liberdade da biodiversidade e celebrar a nossa diversidade cultural para superar a estagnação da monocultura."

Por tudo isso, eu me senti realmente privilegiada por ter a oportunidade de ouvi-la. Concordo plenamente com Lutzenberger, que disse: "Tu deves ouvi-la com muita atenção. A Vandana é uma grande mulher." :-)