A filha virtual

A FILHA VIRTUAL
Miguel Carqueija

“Nós não estamos perdendo um dia no mundo real. Estamos ganhando um novo dia neste mundo.”
(Asuna)

Resenha do volume 2 do mangá “Sword Art online” de Reki Kawahara (história original) e Tamako Nakamura (versão em quadrinos) com desenho de personagens de Abec. Editora Panini, São Paulo, 2015 (Kadokawa Corporation, Tokyo, 2012). Tradução de Fernando Mucioli.


Na continuação deste notável mangá, o nível de romance entre Kirito e Asuna, os dois heróis presos num mundo virtual onde precisam lutar constantemente, chega ao casamento, com momentos de intenso romantismo. Um ponto alto da história é quando ambos encontram uma menina perdida, uma criancinha, cuja presença naquele mundo de jogo virtual parece inexplicável. Logo será explicado que a garotinha, chamada Yui, é um programa de computador pertencente ao sistema daquele jogo e que adquiriu uma personalidade própria. Ela “adota” Kirito e Asuna como seus pais que, encantados com aquela “filha”, aceitam-na entusiasticamente. Mas, porque ela contrariasse as regras do sistema, este resolve deletá-la. Kirito consegue conservar sua essência numa espécie de jóia, para recuperá-la oportunamente.
Raras histórias, em mangá ou outros veículos, possuem tal nível de ternura, de sentimentos elevados. Estes detalhes tornam “Sword Art on-line” um dos melhores mangás recentes. As figuras de Kirito e Asuna, ainda que heróicos e grandes lutadores de espada, possuem uma suavidade e sutileza igualmente raras. Yui conta singelamente o seu drama de programa de informática destinado a monitorar os usuários do jogo: “Quase todos os jogadores estavam dominados por sentimentos de terror, desespero, fúria e perda...” “Um dia eu estava monitorando como sempre e notei dois jogadores com estado mental muito diferente dos outros. Tinham níveis de felicidade e tranquilidade que eu nunca havia captado.”
E assim Yui assumiu uma forma humana e entrou em contato com Asuna e Kirito — e passou a fazer parte de suas vidas. O enredo acentua bem a necessidade de preservar os sentimentos nobres que nos tornam mais humanos.
Gosto muito deste mangá justamente por desenvolver com tanta delicadeza esses valores inestimáveis.

Rio de Janeiro, 27 de abril de 2015.


imagem da série: Kirito e Asuna, lutando juntos