Sailor Moon short stories 1: os contos paralelos

SAILOR MOON SHORT STORIES 1: OS CONTOS PARALELOS
Miguel Carqueija

“Meus pais morreram em um acidente de avião quando eu era pequena. Por isso, fazer a refeição todas juntas ao redor da comida me lembra de família e me deixa muito feliz.”
(Makoto Kino, a Sailor Júpiter)

“Não podem ter medo de aprender! Vamos estudar para entrarmos todas no colégio!”
(Ami Mizuno, a Sailor Mercúrio)


Resenha do volume 1 de “Sailor Moon Short Stories”, edições especiais do mangá “Pretty Guardian Sailor Moon” (A linda guardiã Sailor Moon) – ciração de Naoko Takeushi. Editora JBC, São Paulo, 2015. Original japonês: Bishojo Senshi Sailor Moon shinsoban short stories, Editora Kodansha, Tokyo, 2004 (segunda edição). Tradução: Arnaldo Massato Oka.



A JBC lançou recentemente o volume 1 (de dois) das histórias curtas ou paralelas de Sailor Moon, eis que os 12 volumes da saga oficial já chegaram. Constam algumas histórias mais leves e sem conecção com a cronologia oficial, a não ser por indícios. Temos, então, as três narrativas do “Diário ilustrado da Chibiusa”, as três da “Guerra do vestibulinho” (onde inclusive aparece “O primeiro amor da Ami”, que deu origem a um famoso mas difícil de assistir OVA de média-metragem) e, finalmente, o extra “O segredo da Casa Hammer Price”, título que parece aludir aos filmes de terror da extinta empresa inglesa Hammer e ao ator Vincent Price, especialista em horror.
Entretanto apesar das nuances de horror, há lugar para bastante humor nas histórias curtas de Sailor Moon. Veja-se por exemplo seu famoso bordão “Punirei você em nome da Lua!” ou frases semelhantes. Na primeira noveleta deste volume (digo noveleta, mas não esqueçam que é um mangá, isto é, história em quadrinhos), “Atenção à aluna transferida!”, Sailor Moon e Sailor Vênus enfrentam duas vampiras que atraem crianças para seu covil. Ao invadirem o local, Sailor Moon exclama: “Como ousam se alimentar de crianças? Punirei vocês em nome da Lua e da Associação de Pais e Mestres!”
Aliás nessa história Sailor Vênus volta a ser a Sailor V, com máscara, e junta as forças com Sailor Moon para arrombarem uma porta no chute, cena bem expressiva. O destaque porém é para Chibiusa e seus relacionamentos na escola onde estuda no século XX, ela que veio de mil anos no futuro.
Na segunda história, “Atenção ao Tanabata!”, outra cena hilária, quando uma vilã se faz passar por Sailor Moon e a Chibiusa logo descobre o disfarce e exclama: “Ela é uma impostora! A Sailor Moon não tem essas pernas grossas!”
A terceira história, “Atenção às cáries!” prossegue o caráter satírico deste volume. Chibiusa e Usagi pegam cáries por não escovarem os dentes após comer doces. Usagi até comenta que sua mãe, Ikuko, nunca teve cáries em seus 36 anos de vida (e assim ficamos sabendo a idade de Ikuko quando Usagi tem mais ou menos 15). O pai de Usagi as acompanha a um consultório sem saber que ele foi dominado por um espírito maligno. A graça maior talvez esteja na explicaçãoi erudita da Ami, a sailor sabida, que declara: “Chibiusa, querida: cáries são causadas pelos estreptococos e lactobacilos. São micróbios terríveis! Eles se multiplicam alimentando-se do açúcar de sua boca e abrem cavidades em seus dentes.” Mas a essa explicação científica Minako acrescenta um toque de terror: “Chibiusa! Se deixar a cárie sem tratar... um dia o osso de seu queixo vai derreter que nem geléia... até você morrer!”
É muito engraçado o desfecho em que Ikuko oferece alimentos que não provocam cáries: lula seca, peixes secos e legumes crus...
Depois vem “A melancolia da Mako”, isto é, a Sailor Júpiter. Makoto Kino, nessa história, está no terceiro ano ginasial (15 anos prováveis) e exercita bem as suas qualidades culinárias, que desde o início chamaram a atenção da Usagi. Continua no escuro saber quem, afinal, banca a estudante, já que seus pais morreram. Mas isso não parece preocupar Naoko Takeushi. O bonito é ver que as cinco heroínas místicas são também grandes amigas e se reúnemna casa de Makoto, mas sob orientação da estudiosa Ami (Sailor Mercúrio), para estudar com vistas ao “vestibulinho”. O problema surge com uma “gênia” que gosta de provocar “auras doces” nas pessoas. Bem, essas pequenas histórias são menos sérias que a linha principal dos cinco arcos e 12 volumes.
A doce Ami, geralmente tão tranquila, fica meio ditadora quando se trata de estimular as amigas a estudar para passar nas provas.
“O primeiro amor da Ami” é a história que deu origem a um lendário OVA de média-metragem, e que eu só pude assistir no original japonês, sem praticamente entender nada. Logo no início dessa história aparece a figura da Ami apontando para os leitores e gritando: “Estude, em vez de ficar lendo mangás!” Aliás o humor em Sailor Moon é ótimo.
Ami, a Sailor Mercúrio, faz um delicioso contraste com a avoada e pouco estudiosa Tsukino Usagi, a Sailor Moon. No entanto é bom que se saiba, mesmo dispersiva Usagi sempre passa de ano!
Eis algumas amostras de Ami, dadas por ela mesma nesse episódio: “Moro num apartamento em Asabu Juban com minha mãe. Costumo chegar todas as manhãs na escola 40 minutos antes do início das aulas para ler um livro. Meus hobbies são ler livros e jogar xadrez. Minha cor favorita é azul claro (obs. Ami é a sailor da água). A comida que gosto é sanduíche, porque posso comer lendo o livro” (sic).
É por causa disso que, numa cena famosa do desenho, quando elas estão na praia, Usagi toma-lhe o livro das mãos: “Nós viemos aqui para nos divertir!”
O episódio do qual estamos falando chega a ser hilariante no seu desfecho. O assunto é o aparecimento de um misterioso rival de Ami, que até então era sempre a estudante primeira colocada no Japão inteiro.
O episódio seguinte, “Batalha escolar da Rei e da Minako”, prosseguindo o arco iniciado com “A melancolia da Mako”, evidentemente, como sugere o título, concentra-se nas sailors Marte e Vênus. A primeira aparecendo como certinha e a outra, como destrambelhada ou coisa que o valha. Sailor Vênus sempre foi mais descontraída que Sailor Marte. Embora seja uma história paralela, fazem-se aqui algumas revelações importantes sobre a vida pessoal de Rei Hino, a Sailor Marte.
Cabelos longos e escuros, elegante, alta, Rei Hino mora num santuário xintoísta com seu avô — que, no mangá, é bem diferente do avô que aparece na série animada. De fato, no desenho o avô de Rei é um velho baixinho (anão) assanhado. No mangá tem estatura normal e é discreto. E esse é o personagem original. Também ficamos sabendo que, tendo morrido a mãe de Rei, o pai, que é um político, abandonou a filha no templo, aos cuidados do avô. Rei tem um relacionamento difícil com seu pai, detalhe explorado num episódio do seriado de ação viva de 2003/2005.
O episódio explora briguinhas entre Rei e Minako, por conta da diferença de personalidades.
Finalmente vem “O segredo da Casa Hammer Price”, título que evoca e homenageia a produtora inglesa Hammer Films, especialista em filmes de horror, e o ator Vincent Price, característico do gênero. Chubiusa e Hotaru têm bastante destaque nesta história que é basicamente uma comédia.
Em suma, este volume, saído originalmente na década de 90, mas só agora conhecido no Brasil, deve a sua existência ao imenso sucesso de Sailor Moon, que levou Naoko Takeushi a produzir alguns entrechos além do mangá básico que conta uma sequência contínua de acontecimentos, até a finalização.


Rio de Janeiro, 7 de julho de 2015.