Amazônia - Relato de Viagem

Fizemos um passeio maravilhoso para a Amazônia! :-) Passamos quatro dias a bordo de um navio no Rio Negro e pudemos visitar recantos escondidos e paisagens encantadoras da floresta. Quase não sentimos a falta de sinal de celular ou internet. Foi nossa primeira experiência em cruzeiro, e gostamos muito do sistema. Cabines amplas, atendimento superatencioso e comida supervariada - e supersaborosa! - nos surpreenderam muito positivamente.

Fizemos uma Caminhada na Selva e aprendemos a identificar diversas árvores com propriedades úteis e até medicinais. Nosso guia mostrou, por exemplo, o Breu Branco, que tem cheiro e efeito de Vick Vaporub. Também o Pau-Rosa, princípio ativo do perfume Chanel n.5. Conhecemos a Escada de Jabuti, chamada de Elixir Paregórico da floresta. Sentimos o cheiro do Cravo da Floresta, muito semelhante ao cravo-da-Índia. Sentimos o sabor do Atibará-eté, amarelo e amargo, utilizado contra a febre amarela e malária. Conhecemos o Curare, de efeito paralisante para as caças, prolongador de anestésicos. Vimos até uma Vaca Leiteira, uma árvore que dá uma goma de chiclete. Há apenas um século ou mais é que esses usos das diferentes plantas vêm sendo explorados pelas indústrias químicas, farmacêuticas e de cosméticos, mas já são conhecidos dos indígenas há muitas gerações de vivência - e sobrevivência - na floresta.

Nessa Caminhada na Selva, conhecemos as formiguinhas Tapibá, que esmagadas na pele produzem uma camuflagem protetora contra os predadores, pela eliminação dos odores do corpo. Depois, o guia nos mostrou, ao vivo, a confecção de trançados de Tucum, uma fibra de casca de árvore, própria para fazer redes de dormir, corda de arcos, bolsas ou enfeites como testeiras ou pulseiras. Por lembrar o nome da formiga, o Rodrigo foi presenteado com uma pulseira de fibra de Tucum da Amazônia. :)

Creio que tivemos muita sorte com o tempo, porque pegamos a chuva amazônica somente uma vez, no meio da floresta, e sentimos o famoso calor amazônico somente em dois momentos. Presenciamos ainda uma tromba d'água, daquelas intensas e repentinas, que parecia estar longe, mas dali a pouco estava sobre nós. No mais, tivemos tempo adoravelmente nublado, sem aquele solão opressor, e temperaturas até amenas. Certamente, na Amazônia, o tempo estava muito melhor do que em Porto Alegre em janeiro. Além do que, os recursos do navio incluíam ar-condicionado. :)

Fizemos um passeio de lancha pelos igarapés entre o labirinto de ilhas de Anavilhanas. Avistamos aves lindas e superdiferentes das que conhecíamos. Vimos araras, gaviões, gaivotas, tucanos. Ficamos encantados com as paisagens de mato vistas a partir da lancha, pois os reflexos das árvores na água dos riozinhos formava imagens lindas! Intrigantes eram as raízes de diversas árvores, que cresceram para fora do solo. A explicação era a busca de nutrientes no período das cheias, quando toda aquela área de floresta ficava submersa por 10 metros de água, formando o Igapó.

Tivemos o privilégio de assistir a um pôr-de-sol espetacular na floresta. As cores do céu, do sol, do rio e da mata ficavam mudando, se dourando, brilhando, encantadoras. Passamos um bom tempo contemplando essa maravilha. Até que a Lua Cheia apareceu atrás das árvores, imensa, também dourada, e pudemos apreciar ainda mais esse espetáculo. Ficamos impressionados também com a capacidade dos barqueiros de se orientar dentro do labirinto, tanto com sol ou só com a Lua. isso nos deu a impressão da sua integração com a natureza. Ou do bom uso dos equipamentos de navegação. Mesmo depois daquele magnífico pôr-do-sol, já no escuro, puderam focar jacarés escondidos nos recônditos da beiradas dos igarapés. Inesquecível.

Visitamos uma aldeia dos indígenas Kambeba. Vimos belas apresentações de canto coral e dança tradicional realizadas pelas crianças da tribo, com seu professor e sua matriarca e parteira. E ouvimos o pajé e o professor da tribo defenderem os interesses da comunidade. Aprendemos que essa tribo fabrica suas vestimentas e enfeita o rosto e as roupas com um padrão de desenhos simbólico tradicional. Conhecemos também o Iagoara, o jovem arqueiro que competiu por vaga na seleção brasileira nos Jogos Olímpicos do Rio. O guia nos apresentou algumas árvores frutíferas e outras utilizadas na aldeia, como o urucum. Vimos um couro de jacaré-açu, imenso!, uma pele de onça e um couro de cobra, além de um casco de tatu - aparentemente -açu!. Vimos um papagaio muito verde e uma arara muito azul e amarela. :) Conhecemos a escola-modelo que um projeto de empresas multinacionais construiu (a aldeia tem até wi-fi!), um posto de saúde modelo onde trabalha um médico cubano, e uma lancha-escolar do governo que transporta as crianças mesmo lá do mais distante igarapé. Compramos algum artesanato local e também uns frascos da milagrosa Copaíba, o remédio dos índios contra dores de garganta, inflamações, artrites, artroses e reumatismos.

Tivemos uma experiência - ou uma tentativa de experiência - de pesca de piranhas na região do rio Ariaú. Fomos de lancha até uma área de ruínas de floresta alagada, onde seria mais provável a aparição desses peixes. A paisagem era um tantinho sinistra, com as árvores quase mortas surgindo em locais esparsos direto de dentro do rio. Com a paciência que é necessária à pesca, ficamos ali aguardando alguma fisgada. Alguns colegas do grupo conseguiram seu troféu - a foto, pois os animais foram devolvidos ao rio, é claro. Eu também consegui fisgar uma piranha - tenho testemunhas -, mas ela conseguiu se soltar e voltar para a água antes que eu a jogasse para dentro da lancha. :) Os guias barqueiros nos explicaram as preferências de habitat delas e nos mostraram a aparência e os dentinhos delas para nossas fotos. Ainda nesse passeio, vimos mais revoadas e outro belíssimo pôr-do-sol.

A programação do navio contou também com palestras sobre a flora e a fauna da região Amazônica, além da geologia e da formação do grande Rio Amazonas. As apresentações foram muito interessantes, e conduzidas por um guia surpreendentemente poliglota. Apreciamos muito essas conferências, e também todas as explicações de todos os guias, que consideramos bem preparados para as expedições. Ficamos conhecendo a cabine de comando do navio, muito legal. Podemos dizer que gostamos de tudo no navio, as instalações, os espaços, o conforto, a limpeza, os materiais, a decoração, e especialmente a comida. :) Os buffets de café da manhã, almoço e jantar eram lindos, variados, deliciosos, impecáveis. Um dos jantares contou com cardápio típico amazonense: tambaqui, tucunaré, pirarucu, surubim, jaquiri, tacacá, exóticos e saborosos. O atendimento dos garçons, guias, pessoal de apoio, todos foram muito atenciosos conosco. Amamos.

Já era noite fechada quando saímos de lancha para a tão esperada focagem de jacarés. Depois de algum tempo de investigação à luz de potentes lanternas, o guia localizou o reflexo vermelho nos olhos do jacaré. A abordagem foi rapidíssima: a lancha aportou na margem onde estava o animal, o guia manteve a lanterna apontada para ele, desceu da lancha, parou diante dele e o agarrou pelo pescoço! Ficamos atônitos com essa agilidade - e coragem! O guia mostrou para nós o dorso e o ventre do jacaré, as escamas que servem para captação de energia, as suas hipersensíveis narinas, e os impressionantes dentinhos do malvado. Com toda a certeza, esse foi um dos pontos altos da excursão.

Sem dúvida, o outro ponto alto foi a interação com os botos cor-de-rosa. Que animal magnífico! Enquanto o tratador lhe oferecia comida, brincamos com o boto dentro da água quentinha do Rio Negro e seus afluentes. Pudemos tocar no corpo roliço, encorpado, robusto e escorregadio desses golfinhos de água doce, mas não na testa - o melão - nem muito menos no bico. Eles são cinzentos no dorso e rosados no ventre, até ficarem velhinhos, quando então ficam todos rosados. Alguns deles se acercavam do pessoal da excursão, passando entre as pessoas. Pudemos sentir a força do seu possante corpo e a agilidade das suas manobras cada vez que eles davam uma rabanada e espadanavam água por toda a parte. Que experiência fascinante!

Como não poderia deixar de ser, avistamos macacos na mata, macacos-de-cheiro, muito pequenos, quase micos. Difíceis de visualizar nos galhos das árvores quando estavam parados, pois se camuflam junto às folhas e ramos. Mas muito destacados quando andam para lá e para cá entre os galhos e de uma árvore a outra. Impressionante sua grande velocidade, muito ágeis para se agarrar aos ramos, seja com as patas dianteiras ou traseiras, ou mesmo com a cauda, como fazem os macacos-aranha. Passamos um tempão assistindo os macaquinhos brincarem uns com os outros e com os turistas. Foi outro momento superdivertido deste passeio!

Visitamos um sítio cenográfico de conservação histórica das instalações típicas de um seringal dos tempos áureos da exploração da borracha na Amazônia. O guia mostrou as imensas árvores seringueiras, a pequena semente delas, que parece um ovo de codorna, mostrou o processo de extração do latex, e um local de defumação da borracha para formação de grandes bolas para o transporte e a conservação. Ao mesmo tempo, foi contando a difícil vida dos trabalhadores dos seringais, submetidos a tratamento desumano por seus capatazes e pelos barões da borracha. Uma parte bastante triste do nosso passeio, e da história do país.

Assistimos a um empolgante show folclórico de dança do boi-bumbá. O corpo de baile profissional se apresentou contando a história tradicional da festividade anual de Parintins. Vimos o boi Garantido, o boi Caprichoso, a Porta-Estandarte, a Cunhã-Poranga, a Sinhazinha da Fazenda, o Pajé e todo o conjunto de bailarinos dançarem as fases da história. Os figurinos supercoloridos fazem referência aos elementos da natureza, como as penas das aves, os cipós das árvores, as águas e a terra, assim como as pinturas no rosto e no corpo dos dançarinos. Na parte final do show, os turistas foram convidados ao palco para aprender o ritmo do boi-bumbá. Contagiante!

Tivemos a oportunidade de ver o amanhecer na Amazônia, um momento lindo e marcante da viagem. Logo em seguida, apreciamos o fenômeno do Encontro das Águas, a união dos rios Negro e Solimões na formação do rio Amazonas. A paisagem formada é intrigante, pela não mistura das duas águas de diferentes cores, temperaturas, pHs. As águas escuras e quentes do Rio Negro e as águas barrentas e frias do Solimões seguem lado a lado por quilômetros. Fenômeno semelhante acontece nos nossos gaúchos Jacuí e Taquari, presenciável por quem toma a balsa entre Triunfo e São Jerônimo. Bonita formação da natureza.

Ao desembarcarmos do navio no fim do cruzeiro, emendamos um City Tour por Manaus. Conhecemos a movimentadíssima região do Porto, que é ponto de encontro dos principais meios de transporte para os municípios do Amazonas e Pará. Uma infinidade de barcos de transporte de passageiros e de cargas aportava ali, e o movimento de cargas para o Mercado Municipal, e de venda de passagens para os mais diversos lugares à beira dos rios nos impressionou. No mercado, as frutas amazônicas e o artesanato local marcam presença, assim como as ervas e outros produtos medicinais da sabedoria indígena. Já hortaliças e ovos, por exemplo, são importados dos estados do Sul. Gigantesca é a área de venda de peixes do Mercado, que encanta pela variedade de espécies. Pirarucu, Tucunaré, Jaquiri... É o lugar do Brasil onde mais se come peixe.

Visitamos o belíssimo Theatro Amazonas! É uma casa de ópera de estilo europeu, maior que o nosso São Pedro. Mostra a pompa e a extravagância dos barões da borracha em fins do século 19 e início do 20. As cadeiras da plateia, os camarotes, o camarote do governador, a cortina, as máscaras, o teto, o grande lustre, as pinturas do teto - especialmente a perspectiva! com a visão de debaixo da Tour Eiffel - são lindíssimas. O foyer é amplo e repleto de mármores, gobelins, veludos e anjinhos que rodeiam o teto decorado. No hall de entrada, uma maquete do teatro em blocos Lego feita pela própria indústria oferece a visão do todo da construção, especialmente o encanto da cúpula colorida. Além disso, a fachada do teatro é esplêndida, e o ângulo das escadarias produz uma foto de perfeita composição. Realmente, uma joia dos tempos áureos da borracha.

Encerramos o passeio com uma visita ao MUSA, o Museu da Amazônia. Vimos então a Vitória-Régia, própria do Rio Solimões, com suas muitas e grandes folhas e sua bela flor. Vimos, no aquário de peixes amazônicos, o gigante pirarucu, que pode chegar a três metros de comprimento. No serpentário, vimos as jararacas, cascavéis, jiboias, suaçuboias e cobras verdes e pega-pinto, bonitas e assustadoras. Achei incríveis as armadilhas para peixes feitas de taquaras pelos indígenas. E ficamos fascinados pelo Angelim-Pedra, a árvore-mãe da reserva florestal onde se encontra o MUSA. Ela tem 43 metros de altura e estima-se que tenha mais de 500 anos. Fantástica, uma presença majestosa no meio da mata, outro ponto alto do passeio, para encerrar.