RESENHA: A HISTORIOGRAFIA LINGUÍSTICA NA PERSPECTIVA DE MATOSO CÂMARA JUNIOR E FERDINAND SAUSSURE

RESENHA: A HISTORIOGRAFIA LINGUÍSTICA NA PERSPECTIVA DE MATOSO CÂMARA JUNIOR E FERDINAND SAUSSURE

Elenides Francisco de Freitas (UEMS-PPGLETRAS)

elenidesfreitas@hotmail.com

Elza Sabino da Silva Bueno (UEMS-FUNDECT)

elza@uems.br

1 INTRODUÇÃO

Há muitos filósofos e linguistas têm se dedicado á questão de como e quando a linguagem teria surgido. No entanto, ao longo dos anos as pesquisas continuam a investigar de onde tudo começou. Sendo assim, para esclarecer a origem da linguagem foi necessário pensar na mesma, desde a ordem primata. Pois conforme os historiadores a fala ou a linguagem dos primatas os transformaram em homens, e estes mesmos homens foram sendo transformados pela linguagem.

Sendo assim, após anos de estudos admite-se que a espécie humana concretizou a sua linguagem em um sistema único de signos, possivelmente orais. Saussure em seus estudos fez uma distinção apontando a língua como um instrumento oral de comunicação de pensamentos e sentimentos. Entende-se então que as línguas evoluíram com o tempo, sejam estas no campo semântico, fonológico entre outras evoluções. Logo o conhecimento de uma língua implica, pois o estudo dos três eixos estando ancorados: no léxico, que diz respeito ao vocabulário, o fonético, que se refere á pronúncia e o sintático, relativo à construção.

Em 1916, Saussure com seu pensamento voltado para o estruturalismo e convicto de que a linguagem é um sistema abstrato de relações diferentes em suas partes, propôs o estudo de outras inscrições sobre a língua. Com esse entendimento, este sistema apresentou-se subjacente aos fatos linguísticos concretos, constituindo se objeto de estudos de outros linguistas. Com este pensamento de Saussure, vários estudiosos encontraram um norte para desenvolver novos métodos e teorias, como a escola de Praga, que surgiu em 1926, formada pelos alunos Nikolai e Roman Jakobson que futuramente lecionaria para o professor Matoso Câmara Junior. Logo, não se pode falar da linguística sem fazer uma distinção entre fala, língua e linguagem.

A fala é a atividade de quem fala ou escreve, e que no momento necessário da expressão procura no tesouro geral da língua o termo, o vocábulo, a palavra, a construção gramatical que mais se adapta a ideia a emoção que se deseja exteriorizar. Diferente da fala, a língua se situa como um sistema completo de vocábulos e construções e é o conjunto de todos os meios de expressão elaborados pelas comunidades durante séculos e séculos.

De acordo com Kristeva (1988), a língua pertence a todos, e a todos se impõe para que possa existir a mútua compreensão da comunidade. É uma entidade puramente social e geral. A fala ao contrário, não é um acervo passivo de meios de expressão, mas o ato do indivíduo que em dado momento para a sua necessidade de comunicação, vai ao tesouro da língua.

Ainda no conceito da autora, a linguagem difere da fala nos seguintes aspectos: a linguagem reproduz a realidade, sendo entendida e reproduzida pela interpretação da língua, visto que esta representa a forma mais alta da condição humana.

Neste interstício Benveniste (1989), vislumbra outras perspectivas, que dá início aos estudos da Linguística sob o enfoque de Saussure, e depois no enfoque de Matoso Câmara Junior propulsor da História da Linguística no Brasil. Ainda no conceito de Benveniste (1989), a linguagem revela as relações com a inteligência como um comportamento humano fundamentando uma cultura que distingue a linguagem como uma característica Universal e imutável do homem. Neste sentido, não se pode conceituar sobre a história e a origem dos estudos Linguísticos sem fazer memória aquele que instituiu a linguística e o significado das palavras em uma visão estruturalista.

Sendo assim, por volta do ano de (1916), Saussure publicou a primeira obra do Curso de Linguistica Geral - CLG, em que através de longos estudos e a colaboração dos seus alunos foram apresentadas as diversas inferências que permeiam na linguagem humana. Em seus escritos, tratou no seu primeiro curso em falar sobre o estudo da Fonologia, especificamente a fonética, a linguística evolutiva, e a etimologia popular.

No seu segundo curso, referiu-se a teoria dos signos e a sua relação com a teoria da linguística aos conceitos de sistema, unidade, identidade e valor linguístico, ou seja, a diacronia e a sincronia. No segmento sincrônico, propôs descrever a língua em um estado estrutural em um dado momento, já com o estudo diacrônico descreveu a evolução histórica da língua levando em consideração os diferentes estágios sincrônicos.

Saussure considerava prioritário o estudo sincrônico, pois permitia revelar a estrutura essencial da linguagem: “A língua é um sistema em que todas as partes podem e devem ser consideradas em sua solidariedade sincrônica”. Já no terceiro curso, surge o tema das línguas no enfoque e na visão da linguística externa, e a língua praticada pelos indivíduos.

Diante destas considerações a dificuldade que encontrou para expor os seus escritos pautou-se em que os cursos obedeciam ao um programa tradicional, obrigando a ele manter segredo das suas posições e de como encaminharia o seu pensamento referente à linguagem.

Ao longo de sua vida, Saussure fez referência aos seus três cursos na qual considerava dois aspectos da linguística: a estática e a evolutiva. Ambas se ocuparam em estudar a língua em um nível que fosse próprio do intelecto do indivíduo a fim de transmitir seus ensinamentos. Por fim em seu último curso em vinte de abril de 1911, ele fala da Langue após ter refletido um semestre sobre como a língua se estruturava geograficamente, situada na escrita, na fonética e nas famílias de línguas existentes.

Ele para dar relevância nos seus fundamentos, estabeleceu uma série de definições e distinções sobre a natureza da linguagem, fazendo a distinção entre langue (língua) sistemas de signos presente na consciência de todos os membros de uma determinada comunidade linguistica, e parole (discurso), realização concreta e individual da língua num determinado momento e lugar por cada um dos membros da comunidade.

Na comunidade humana, como a combinação de um significante (ou expressão) e um significado (conteúdo), cuja relação arbitrária se define em termos sintagmáticos (entre os elementos que se combinam na sequência do discurso), ou paradigmáticos (entre os elementos capazes de aparecer no mesmo contexto). Ocupou-se de analisar as categorias linguísticas mediante ao contexto dos discursos e realidades ideológicas, distinguindo a linguística tanto como objeto de conhecimento particular, como discurso científico a luz dos discursos ideológicos. É fato que tanto Saussure e os demais historiadores deixaram em parte os seus trabalhos publicados. Em meados de 1910, quase próximo a sua morte, observa-se um pesquisador da língua realizando os seus trabalhos em meio ao silêncio. Ele tinha consciência que mesmo em meio aos cursos que ministratava não considerava os seus escritos prontos e acabados, pois ele tinha consciência dos perigos do porvir caso não deixasse de próprio punho as teorias efetivas da história da linguística por ele analisada.

Já no Brasil, outro renomado nome de um novo pesquisador que despontava e que iria conceituar também a língua com uma visão voltada para o Estruturalismo foi o do professor Matoso Câmara Junior em 1975, com a publicação do livro História da Linguística, na qual através de seus escritos propôs uma retomada da história da língua no Brasil, sob a perspectiva estruturalista. Esta obra surgiu pela necessidade que se instalou de ensinar a língua de maneira que esta fizesse jus às normas até então apresentadas nas Gramáticas Brasileiras.

Autor das primeiras obras sobre a Linguística Portuguesa Brasileira, Matoso Câmara teve seus trabalhos reconhecidos internacionalmente em 1967, como sendo o único representante da América Latina no Comitê Internacional Permanente de Linguística. Publicou o primeiro Compêndio de Linguistica Geral em Língua Portuguesa com o título de Linguística Geral no ano de (1975), como fundamento os estudos Superiores de Língua Portuguesa e da História da Linguística, também pesquisou as Línguas Indígenas Brasileiras.

O mesmo em 1943 e 1944 realizou cursos de especialização nos Estados Unidos, onde foi aluno de Roman Jakobson com a tese Contribuição para uma estilística da Língua Portuguesa, tornou se livre docente da Faculdade Nacional de Filosofia. Publicou artigos em revistas filológicas no Brasil e no exterior, publicou a primeira obra de fonologia portuguesa intitulada: Para o estudo da Fonêmica Portuguesa em 1953, com destaque sobre a Rima e a Poesia Brasileira. Foi autor de dicionário e tradutor de várias obras fundamentais de linguística. Presidiu a Associação de Linguagem e Filologia da América Latina. Ao longo da sua trajetória de professor, autor e pesquisador foi perseguido verbalmente por criticas dos próprios colegas de profissão.

Isto fez com que ele não desistisse, mas, buscou aperfeiçoar-se nas suas investigações sobre a língua. Teve a oportunidade de ver a ascensão das teorias Gerativistas propostas por Noam Chomsky. Foi além do que se podia esperar de um pesquisador, com a publicação do livro Introdução as Línguas Indígenas Brasileiras (1965), com uma visão da língua na vertente Antropológica, cuidando de esmiuçar a Língua Indígena em curso proferido por ele no Museu Nacional.

Isto aconteceu devido à dedicação nas pesquisas sobre Linguistica e a língua utilizada pelos indígenas. Foram dois anos de dedicação ao ensino da língua, na qual os estudantes tiveram a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a realidade da Linguistica no Brasil.

Matoso Câmara além de ter sido um exímio professor no Brasil, também colaborou com extratos da Linguagem Brasileira em outros Paises, participando do Simpósio do Pilei. Fez parte da associação de Linguística e Filologia da América Latina (ALFA). Na sua visão de linguista já previra que a língua sofreria inferências e mudanças na sua estrutura. Como fundador da historiografia da Linguística Brasileira, preocupou-se em estudar a linguagem com uma visão estruturalista, posicionando na vertente de que a língua está na forma dicotômica entre forma exterior e forma interna, sendo a primeira afirmação nítida e coerente do estruturalismo linguístico (1968).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, pode se afirmar que em meio às publicações destes importantíssimos linguistas, muitos obstáculos foram precisos ser superados. Neste sentido, tanto para Saussure como para Matoso Câmara Junior, falar da linguística ou estudo da linguagem não foi uma tarefa fácil. Saussure no auge de seus manuscritos, e de acordo com historiadores foi assassinado.

Já Matoso Câmara, após a sua inserção da linguística no Brasil, não foi reconhecido o suficiente em vida pela sua trajetória de escritor e formador da historiografia da língua Brasileira. Outrora, após anos de dedicação e estudos morre quem sabe vitima dos desgastes de inúmeros estudos. Foi professor pesquisador, deixando um legado na história da Língua Portuguesa Brasileira. Escreveu e pesquisou a linguagem dos índios com uma visão antropológica das misturas das raças e línguas de um Brasil Colonial.

Outros escritos do autor não foram publicados, conforme os historiadores a obra se perdeu em meio a artefatos gráficos, sendo assim, não se sabe até que ponto esta afirmação é verdadeira, mas, como a história precisa continuar, resta somente aos novos pesquisadores das línguas (portuguesa e outras), darem continuidade nos acontecimentos e surgimentos de novas linguagens, considerando que em meio a percas sejam elas de que esferas pertençam, estes renomados linguistas continuarão sendo lembrados por novos e futuros graduandos e outros pesquisadores das línguas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENVENISTE, Émile. Problemas de Linguistica Geral II. Campinas: Editora Pontes, 1989.

BUENO, Silveira. O Tratado da Semântica Brasileira. Editora Saraiva, 1984.

CÂMARA, J. M. História da Linguística. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1975.

KRISTEVA, Julia. História da Linguagem. Lisboa: edições 70, 1988.

SAUSSURE, F. de. Curso de Linguística Geral. Tradução Antônio Chelini, José Paulo Paes, Isidoro Blikstein. 25. ed. São Paulo: Cultrix, 1999