Lost-se: uma produção para se guardar

A série norte-americana Lost é uma daquelas produções que conquistam um público diversificado pelo uso inteligente de uma temática, que naquela época específica, era bastante interessante já que se tratava de uma ficção científica envolvendo o drama e talvez por isso, ganhou reconhecimento mundial. Fato que aconteceu ao longo de 6 temporadas exibidas entre 2004 e 2010, atualmente disponível no serviço de streaming da Amazon, Prime Video, mas existe um problema quando se está diante de um produto tão icônico e famoso assim: como terminar?

Lost inicia em Sydney, Austrália, quando dezenas de passageiros viajam em um avião da companhia aérea Oceanic, nome interessante para o que vai acontecer depois, com destino à Los Angeles, EUA. No entanto, o avião cai em algum lugar no oceano pacífico sul e daí em diante uma sequência de acontecimentos prende o telespectador. As pessoas que viajavam eram de diferentes culturas e nacionalidades, algo fascinante para explorar as relações que terão ao longo de toda a série, o momento em que um irá conhecer o outro entre eles o médico, a fugitiva, o soldado, o músico, o milionário, a historiadora da arte etc. O modo como os protagonistas são conectados não só por vivenciar um acidente juntos, mas o elo que une suas vidas permanentemente é atemporal.

É nesse contexto que os sobreviventes encontram uma ilha nada convencional que engana pela beleza, imagine esta ilha como aquela busca incansável de cientistas e homens poderosos a fim de manipular conhecimento além de sua compreensão em estado de livre acesso o que lhe garantiria riqueza e reconhecimento inimagináveis. Isto ocorre com os projetos da iniciativa Dharma mais tarde. É perceptível que tem algo de diferente naquele lugar, pois um homem que era cadeirante agora pode andar e uma mulher com câncer terminal é curada. A explicação para estes acontecimentos é explorada ao longo de cada temporada, em que o foco para as propriedades da ilha, sua história e peculiaridades são delineadas junto aos protagonistas.

O ponto alto inicial para os sobreviventes foi descobrir que não estavam sozinhos na ilha e isso permitiu ao espectador inferir algumas hipóteses, porém, nada é obvio. Os diretores quebram a ideia da adivinhação e trazem para o público a surpresa e a possibilidade, o que instiga quem está do outro lado da tela a continuar assistindo se perguntando o que vai acontecer, ou seja, a curiosidade. Não pretendo aqui apresentar spoilers mais detalhados. A jornada inicia, ou melhor, o jogo começa.

A série dentro de uma ótica narrativa explora o tempo psicológico aquele que não segue a ordem cronológica, e sim traz elementos do passado e constrói o futuro, metaforicamente um triângulo que conecta o tempo. E sim, por ser uma ficção científica o enredo aborda as famosas viagens temporais, particularmente, bem elaboradas. Além disso, o uso de submarinos como meio de transporte é memorável. Vale salientar, que não somente isso. A figura de um vilão demoníaco na forma de uma fumaça preta e um guardião benevolente também faz parte da história. Ademais, os conflitos entre os sobreviventes e os moradores da ilha são uma parte importante do sucesso de Lost, aqui apresento o seguinte argumento: eles não sabiam, mas um iria precisar do outro em algum momento. A ideia de um duelo de titãs é adequada em alguns episódios.

No decorrer das três primeiras temporadas, a ilha e a jornada dos sobreviventes é o foco central. Não obstante, as temporadas finais são as que realmente esclarecem todas as dúvidas do espectador e são de tirar o fôlego, é preciso muito chocolate e sorvete para não roer as unhas. O que acontece é que um antigo habitante da ilha, tenta reencontrá-la incansavelmente e não mede esforços para realizar tal ato, empreendimento este que resultará em perdas humanas. A maneira como cada episódio complementa o seguinte e encaixa as partes de uma longa história é no mínimo, surpreendente.

A temporada final é uma obra de proporções homéricas e não exagero. O bem e o mal que fundamentam a ilha são revelados. Os seis que haviam escapado da ilha retornam e mudam toda a história quando descobrem serem peças importantes de um destino já traçado. Reencontro é uma palavra que descreve boa parte dos acontecimentos finais, o casal de coreanos é um exemplo disso. O trabalho das personagens é tão bem representado que o sentimento deles é real para quem vê. A emoção toma conta.

Lost finaliza da mesma forma que iniciou, impecável. Tudo se encaixa harmonicamente e dá para ver que o elenco também se emociona e não decepciona. Respondendo aquela primeira pergunta, a série soube terminar com um trabalho incrível e assim, a pergunta retorna para o telespectador: o que fazer depois de Lost? Ainda me pergunto. Não sei se chorar, gritar, fazer reverência, aplaudir ou simplesmente dizer é uma das melhores séries que já assisti será o suficiente. Ocorre aqui o que Aristóteles lá na Grécia Antiga denominava de efeito catártico, ou seja, a apreciação máxima de uma obra e os criadores desta série construíram como ninguém este efeito raro. Portanto, não só recomendo a produção como afirmo que é uma obra obrigatória para quem gosta de aventura e estar pronto para assistir uma grande história da televisão mundial.