ESTUDO DIRIGIDO SOBRE OS POEMAS RELIGIOSOS DO GREGÓRIO DE MATOS – PAS/UnB/2021

POEMAS RELIGIOSOS DO GREGÓRIO DE MATOS (1ª parte) – PAS/UnB/2021

Ao braço do mesmo Menino Jesus quando apareceu

O todo sem a parte não é todo,

A parte sem o todo não é parte,

Mas se a parte o faz todo, sendo parte,

Não se diga, que é parte, sendo todo.

Em todo o Sacramento está Deus todo,

E todo assiste inteiro em qualquer parte,

E feito em partes todo em toda a parte,

Em qualquer parte sempre fica o todo.

O braço de Jesus não seja parte,

Pois que feito Jesus em partes todo,

Assiste cada parte em sua parte.

Não se sabendo parte deste todo,

Um braço, que lhe acharam, sendo parte,

Nos disse as partes todas deste todo.

1) Defina “Cultismo” e “Conceptismo” usando como exemplo trechos do poema acima. Pesquise sobre esses conceitos relacionados ao movimento literário barroco.

2) Estabeleça uma intertextualidade entre a segunda estrofe do soneto e o verso em destaque no trecho da Oração Eucarística II, “V.: O Senhor esteja convosco. / R: Ele está no meio de nós. V.: Corações ao alto. / R: O nosso coração está em Deus. / V.: Demos graças ao Senhor, nosso Deus. / R: É nosso dever e nossa salvação.”

3) O braço separado da escultura de Jesus inspirou Gregório de Matos na produção desse soneto. Defina a figura de linguagem “metonímia”, compare-a com a mensagem sugerida pelo texto e com algumas simbologias litúrgicas do catolicismo: o batismo; o crucifixo; Eucaristia (pão e vinho = corpo e sangue de Cristo).

Inconstância dos bens do mundo

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,

Depois da Luz se segue a noite escura,

Em tristes sombras morre a formosura,

Em contínuas tristezas a alegria.

Porém, se acaba o Sol, por que nascia?

Se é tão formosa a Luz, por que não dura?

Como a beleza assim se transfigura?

Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,

Na formosura não se dê constância,

E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,

E tem qualquer dos bens por natureza

A firmeza somente na inconstância.

1) Identifique as antíteses na primeira estrofe do poema. Qual a relevância dessa figura de linguagem no entendimento do texto?

2) Na primeira estrofe, onde o verbo “morrer” está em elipse? Segundo as normas gramaticais, caberia o emprego de uma vírgula para marcar essa elipse? Justifique sua resposta.

3) A segunda estrofe é formada por quatro frases interrogativas? Nela o que o texto questiona?

4) A efemeridade do tempo degrada os bens do mundo. Retire do texto versos que justificam essa afirmação.

5) “Nasce / e não dura”; “Luz / noite escura” “na alegria sinta-se a tristeza”. Estabeleça um significado a esses pares de antíteses e às metáforas “Sol” e “Luz”.

Ao Dia do Juízo

O alegre do dia entristecido,

O silêncio da noite perturbado

O resplendor do sol todo eclipsado,

E o luzente da lua desmentido!

Rompa todo o criado em um gemido,

Que é de ti mundo? onde tens parado?

Se tudo neste instante está acabado,

Tanto importa o não ser, como haver sido.

Soa a trombeta da maior altura,

A que a vivos, e mortos traz o aviso

Da desventura de uns, d’outros ventura.

Acabe o mundo, porque é já preciso,

Erga-se o morto, deixe a sepultura,

Porque é chegado o dia do juízo.

1) Na primeira estrofe, os adjetivos “entristecido”, “perturbado”, “eclipsado” e “destemido” estão caracterizando quais substantivos?

2) No primeiro verso da segunda estrofe: “Rompa todo o criado em um gemido”, o que é “o criado”? Nessa mesma estrofe, a quem se refere os pronomes “ti” e “tu” (como sujeito elíptico)? Identifique, nessa mesma estrofe, uma personificação.

3) Por que não importa mais “o não ser” e o “haver sido”?

4) No segundo verso da terceira estrofe, identifique o sujeito da oração, o objeto direto e os objetos indiretos. Identifique os termos que caracterizam o substantivo “aviso”.

5) Sobre a última estrofe do soneto, responda as questões: a) Quem deve acabar com o mundo? / b) quem deve se erguer? c) Quem deve deixar a sepultura?

O poeta na última hora da sua vida

Meu Deus, que estais pendente em um madeiro,

Em cuja lei protesto de viver,

Em cuja santa lei hei de morrer

Animoso, constante, firme e inteiro.

Neste lance, por ser o derradeiro,

Pois vejo a minha vida anoitecer,

É, meu Jesus, a hora de se ver

A brandura de um Pai manso Cordeiro.

Mui grande é vosso amor, e meu delito,

Porém, pode ter fim todo o pecar,

E não o vosso amor que é infinito.

Esta razão me obriga a confiar,

Que por mais que pequei, neste conflito

Espero em vosso amor de me salvar.

1) Na primeira estrofe do poema, identifique o vocativo e a oração adjetiva que caracteriza esse vocativo.

2) Identifique o núcleo verbal e o núcleo nominal do predicado verbo-nominal que se inicia no terceiro verso da primeira estrofe. Os quatro adjetivos caracterizam quem?

3) Na segunda estrofe, o que significa o verso “Pois vejo a minha vida anoitecer”?

4) Na segunda estrofe, identifique o vocativo que marca o interlocutor do eu lírico. Quem é o “Pai” no verso “A brandura de um Pai manso Cordeiro?

5) Na terceira estrofe, o pronome “vosso” se refere a quem? Explique a diferença entre o “pecar” do eu lírico e do “amor” de Deus.

6) Na última estrofe do poema, o que o eu lírico confessa e pede a Deus?

POEMAS RELIGIOSOS DO GREGÓRIO DE MATOS (2ª parte) – PAS/UnB/2021

A Jesus Cristo Nosso Senhor

Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,

Da vossa alta clemência me despido;

Porque, quanto mais tenho delinquido,

Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,

A abrandar-vos sobeja um só gemido:

Que a mesma culpa, que vos há ofendido,

Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida e já cobrada

Glória tal e prazer tão repentino

Vos deu, como afirmais na sacra história,

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,

Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,

Perder na vossa ovelha a vossa glória.

1) Identifique o vocativo na primeira estrofe do poema. A quem se refere esse vocativo?

2) Ainda na primeira estrofe, explique a relação entre o “delinquir” e o “perdoar”.

3) Na segunda estrofe, explique a relação: pecado-ofensa-culpa-perdão.

4) Com base nas duas últimas estrofes do soneto, explique a metáfora “ovelha desgarrada”. A quem se refere essa expressão?

5) A quem se refere o vocativo “pastor divino”.

6) De acordo com as ideias do eu-lírico no poema, em que consiste a glória do Senhor?

A Nosso Senhor Jesus Christo Com Actos de Arrependido e Suspiros de Amor

Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade,

É verdade, meu Deus, que hei delinqüido,

Delinqüido vos tenho, e ofendido,

Ofendido vos tem minha maldade.

Maldade, que encaminha à vaidade,

Vaidade, que todo me há vencido;

Vencido quero ver-me, e arrependido,

Arrependido a tanta enormidade.

Arrependido estou de coração,

De coração vos busco, dai-me os braços,

Abraços, que me rendem vossa luz.

Luz, que claro me mostra a salvação,

A salvação pertendo em tais abraços,

Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus.

1) Nas duas primeiras estrofes do poema, a última palavra de cada verso inicia o verso seguinte. As ideias encadeadas, nessas anáforas, sugerem uma relação de

a) Causa / consequência. ( )

b) Definição / exemplificação. ( )

c) Enumeração. ( )

d) Proposição. ( )

2) Na segunda estrofe do soneto, explique a relação entre maldade e vaidade.

3) Quais são os arrependimentos mencionados pelo eu lírico expressos nos versos “arrependido a tanta enormidade” e “arrependido estou de coração”?

4) Na última estrofe do poema, “luz” está no sentido denotativo ou conotativo? Se está no sentido figurado, explique a simbologia expressa.

A Conceição Imaculada de Maria Santíssima

Como na cova tenebrosa, e escura,

A quem abriu o Original pecado,

Se o próprio Deus a mão vos tinha dado;

Podeis vós cair, ó virgem pura?

Nem Deus, que o bem das almas só procura,

De todo vendo o mundo arruinado,

Permitiria a desgraça haver entrado,

Donde havia sair nossa ventura.

Nasce a rosa de espinhos coroada

Mas se é pelos espinhos assistida,

Não é pelos espinhos magoada.

Bela Rosa, ó virgem esclarecida!

Se entre a culpa se vê, fostes criada,

Pela culpa não fostes ofendida.

1) Identifique o vocativo expresso na primeira estrofe do soneto. A quem se refere esse vocativo?

2) Com base na análise das ideias apresentadas na segunda estofe do poema, conclui-se que

a) Deus permite a desgraça porque não vê o mundo arruinado ( )

b) Deus permite a desgraça mesmo vendo o mundo arruinado ( )

c) Deus não permite a desgraça porque vê o mundo arruinado ( )

d) Deus não permite a desgraça e não vê o mundo arruinado ( )

3) Qual a diferença entre a “rosa” (substantivo comum) mencionada na terceira estrofe e a “Rosa” (substantivo próprio) expressa na última estrofe do soneto?

Inquietação salvacionista

Como não hei de ter medo

de um pão que é tão formidável

vendo que estais todo em tudo,

e estais todo em qualquer parte?

Quanto a que o sangue vos beba,

isso não, e perdoai-me:

como quem tanto vos ama,

há de beber-vos o sangue?

Beber o sangue do amigo

é sinal de inimizade;

pois como quereis que o beba

para confirmarmos pazes?

Senhor, eu não vos entendo,

vossos preceitos são graves,

vossos juízos são fundos

vossa ideia inescrutável.

Eu confuso neste caso

entre tais perplexidades

de salvar-me, ou de perder-me

só sei que importa salvar-me.

1) Na primeira estrofe, o que representa o pão, considerando o contexto do poema?

2) Na primeira estrofe, nas duas ocorrências, quem é o sujeito das orações iniciadas pelo verbo “estais”. O pronome oculto nessas orações se refere a quem?

3) De acordo com a doutrina cristã, e considerando o contexto do poema, qual o significado dos versos “vendo que estais todo em tudo, / e estais todo em qualquer parte”?

4) A quem se refere o vocativo presente na quarta estrofe?

5) Qual a confusão mencionada pelo eu lírico na última estrofe do poema?

6) Explique o título do poema e a relação semântica dele com o restante do poema.

RENATO PASSOS DE BARROS
Enviado por RENATO PASSOS DE BARROS em 16/06/2021
Código do texto: T7280076
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