“X” volume 1: luta incompreensível

“X” volume 1: luta incompreensível

Miguel Carqueija

 

O quarteto CLAMP — muito famoso no Japão e criador, por exemplo, das séries “Guerreiras Mágicas de Rayearth”, “Chobits” e “Sakura Card Capter” — é um grupo de quatro mulheres que criou um estilo próprio, com personagens reaparecendo em séries diversas. “X’ tem a ver com “Tokyo Babylon” e envolve uma visão apocalíptica: o destino do mundo em 1999, quando algumas pessoas supunham o desenrolar do fim do mundo.

Nessa expectativa elas criaram a história de Kamui, que volta a Tóquio após seis anos e já é esperado por inimigos que o emboscam. Assim começam lutas vertiginosas onde são utilizados poderes paranormais ou sobrenaturais. Há portanto todo um mistério em torno de Kamui, que seus amigos Fuuma com a irmã Kotori ignoram. Após a majestosa abertura na Torre de Tóquio, que parece significar muito para os japoneses, temos a primeira sequência de luta, com traços muito incompreensíveis como infelizmente ocorre com frequência em mangás. Eu na verdade prefiro as brigas nos quadrinhos de Donald e Tio Patinhas.

Vão aparecendo diversas figuras cujo significado só aos poucos deverá ser esclarecido. A Princesa Hinoto, por exemplo, é uma vidente cega, muda e paralítica porém telepata, que mora no subsolo da Dieta (parlamento japonês), sendo cuidada por Hien e Souhi, duas jovens. Certo Saiki, também poderoso, que trava combate com Kamui mas duvida de sua identidade, e a garota espadachim Anashi, que retira a espada de dentro de sua mão. E mais dois que aparecem no final do volume, que a editora apresenta como o primeiro “tankohon” editado no Brasil, isto é, um mangá com o formato grosso original (quase 200 páginas).

Saiki acusa Kamui por lutar sem criar uma barreira, de maneira que a luta se passe em outra dimensão; dessa maneira os estragos serão notados. Mas aqui está presente o velho absurdo de lutas sobre-humanas que ninguém de fora vê (ninguém olha pelas janelas, inclusive), personagens que se movem nos ares e pelos telhados e outros locais altos, em suma.

 

Resenha do volume 1 de “X”, da CLAMP, “Kamui versus Shirou”. Editora JBC, São Paulo-SP, sem data. Editora Kadokawa, Tóquio, Japão, 1992. Tradução: Arnaldo Massato Oka. História e roteiro: Nanase Ohkawa. Desenhos: Mokona Apapa. Direção de arte: Mick Nekoi. Assistente de arte: Satsuki Igarashi. Capa de Mokona Apapa.

 

“A Terra está se quebrando...”

(Kotori)

 

“O que houve com você, Kamui? O que aconteceu com você nesses seis anos que esteve longe de Tóquio?”

(Kotori)

 

Alguns diálogos, de provocação e zombaria entre adversários, podem ser considerados fracos. Este primeiro volume deixa clara a existência de uma grande ameaça à Terra como planeta e consequentemente à própria raça humana. Isso faz lembrar um pouco “Ga-Rei”, mas Kamui com certeza não tem o charme de Kagura, aliás ele não tem nenhum charme que eu note. E a CLAMP sempre me parece melhor em histórias mais leves ou próximas do infantil, como “Angelic Layer”.

“X” é uma história de conteúdo mais adulto, o que não significa que seja melhor. Em todo o caso o mistério que envolve os personagens consegue despertar a atenção dos leitores, até pelo caráter sobre-humano dos acontecimentos, que mexem com o próprio destino do nosso planeta.

 

Rio de Janeiro, 15 de dezembro de 2021.