Indefinível

Assisti ao capítulo do dia 27 de novembro, da novela Duas Caras. Meu Deus, o que é aquilo?

A cena, supostamente erótica, de um casal que, pelo script, deveria parecer apaixonado. Dalton Vigh ou sua parceira não convenciam criancinhas de colo. Não havia “emoção” na seqüência.

Senti falta do talento de Antonio Fagundes/Malu Mader em O Dono do Mundo, enredo muito parecido a este agora, mas... .

Preparativos para a subida do ibope com a dança sensual de “A Outra” e nada! Entrada do marido, violência ensaiada até o desabafo do patife enganado: nada parecia extrair de nós sequer cócegas.

O casal protagonista representado pela dupla Débora Falabella e Lázaro Ramos. Um breve momento de talento e doação dramática. Até a pieguice caricata de Stênio Garcia com seu preconceito quatrocentão valeu pelos dez minutos de frustração a que estava me submetendo.

Mesmo para o pequeno grupo de atores que “faz força” para aquela coisa dar certo, até a eles falta um bom texto. E sem texto, a dinâmica cenográfica fica parecida com efeito tira-teima de jogos de futebol.

A Globo acostumou-nos a história de relevância principalmente social, sobretudo no horário das oito. Embora não queira bancar a desmancha-prazeres, mas dois meses já é tempo de uma novela desse horário ter “bombado”? Até o título é sugestivo, falta apenas conteúdo.

Duas caras deveria primeiro ter se ocupado em mostrar-nos a ambigüidade dos personagens, e personagens assim têm traços psicológicos fortes para apresentar. Em lugar disso, temos uma série de historietas que servem apenas para poluir visual ou auditivamente.

Virou um pouco tendência falar de favela. Mas, cá pra nós, a favela global é de um mau gosto digna da magnitude da emissora que todo o tempo soube descrever bem espaços de riqueza e poder. A Globo não tem know-how para falar sobre pobreza.

Até Antônio Fagundes está completamente perdido em seu Juvenal Antena. Não houve laboratório. Os Titãs globais acham que representar pobre ou favelado é colocar um anel na língua e um cinto acima do umbigo. E a mensagem subliminar que pobreza está associada à sordidez, imundície, descaração, é ultrajante! Digna de alguns moradores da Vieira Souto que concebem a violência como originada do êxodo nordestino para o eixo Rio-São Paulo...

Minha gente, e o que aquilo que Eri Johnson tá tentando fazer? Ele consegue ser mais desagradável que bêbado em final de festa...; é constrangedor. A novela segue como se, por falta de verba, fosse gravada em tomada única, sem direito a ensaio.

Não existem heróis ou bandidos, a turma do bem ou do mal, como tradicionalmente se costuma apresentar. Pelo contrário, vejo um elenco desesperado para atingir um objetivo que se perdeu quando estava sendo criado.

A história da prostituta que seduziu o país, como Bebel, ocorreu justamente porque acompanhamos a trajetória dela até o final, compreendíamos os motivos que a levaram até ali, o talento de Camila Pitanga tornou Bebel real e, assim, torcíamos por ela. Não adianta apenas corpos sarados e pouca roupa, como nas novelas, feitas por série, das sete.

Em verdade, qual a mensagem de Desfigurada... ?!
Arsenia Rodrigues
Enviado por Arsenia Rodrigues em 10/12/2007
Reeditado em 29/06/2008
Código do texto: T772846
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