O PEIXE QUE NÃO PEGUEI

No final da década dos anos 90, estava de férias e aluguei uma casinha de pescador numa praia de Alagoas chamada São Bento... Fica entre Maragogi e Japaratinga, um lugar de gente humilde e de uma beleza rara. A praia não chega a ser excepcional, pois as águas são misturadas por dois rios, então existe uma lama no fundo, isso propicia a pesca do marisco ou massunin, como o alagoano costuma chamar. Também dá muito bagre por lá... Peixe que não aprecio muito, mas que se for de bom tamanho, aprendi que da para fazer uma excelente peixada.

Pois bem, aluguei essa casa, de frente para o mar, apenas uma rua na frente, mas sem casas após a rua.

Nas noites, íamos para as jangadas que os pescadores deixavam na frente da casa e ficávamos observando a via láctea... uma maravilha que até hoje lembro com saudade.

A casa era simples e o abastecimento d’água era muito precário... Então resolvi cavar um poço e deixar de herança para a dona da casa.

Comecei cavando com uma cuia de côco até chegar na profundidade do meu braço. Depois peguei uma sonda emprestada de Tio Hélio e continuei cavando até chegar no lençol freático, o que aconteceu rapidamente. Revesti com um cano de 100 mm. Tendo o cuidado de rasgar uns metros no início do cano, para a água poder se infiltrar mais rapidamente.

Comprei uma bomba e no segundo dia, já tínhamos água de boa qualidade...

Com água, todo mundo se interessou em visitar-nos... Nesse final de semana, estavam Soares e família, Júlio e Lu, Mayara e Mirella bem novinha, quase da mesma idade de Vinícius, filho de Soares.

Estava pescando, ou tentando pescar, tinha arremessado a vara numa distância relativamente boa e aguardava ansiosamente... Nisso me chamam lá na casa, pois Mirella e Vinícius haviam sumido... Então deixei Júlio César tomando conta da vara, sem antes mostrar, como ele deveria fazer, caso batesse algum peixe...

Saí correndo feito um louco e fomos procurar os dois trelosos que haviam se embrenhado terreno a dentro e terminamos os achando num lixão no final já perto da pista... Que susto!

Ao voltar para o mar, encontro Júlio César branco e tremendo, pois tinha acabado de puxar o maior bagre que eu nunca tinha visto na vida! O bicho deveria pesar uns 3 quilos e meio... Aí ficou a discussão: quem foi que pegou o peixe? Eu dizia que tinha sido eu, pois fui eu quem lançou a isca ao mar... Ele dizia quase chorando que tinha sido ele, pois puxou o peixe até a beira do mar... Na realidade foi uma grande parceria minha e dele... Sempre dou os parabéns pra ele, pois apesar da pouca idade, teve peito de puxar um peixe tão grande daqueles...

Saímos do mar, chegamos em casa e todos admiravam o belo exemplar que foi fisgado...

Eu não dava muita atenção, pois até aquele dia, não gostava de bagres, tanto pelo gosto, quanto pelo trabalho e perigo que temos que ter para tirá-lo do anzol, depois tratá-lo...

Mas nossos vizinhos, prontamente disseram que daria uma excelente peixada... juntamente com outros bagres que já havia pescado anteriormente.

A peixada foi feita espetacularmente e nos deliciamos com cervejas e cachaças... Foi um dia e final de semana inesquecível!

Olinda-PE, 28 de janeiro de 2023.

Gusto