Um desejo na tristeza

ESTA CRÍTICA DE WISH: O PODER DOS DESEJOS CONTÉM SPOILERS

Triste estava quando decidi assistir ao filme nomenclaturado no Brasil de “Wish: o Poder dos Desejos” da Disney. Eu gosto muito de animações de uma maneira geral, e inevitavelmente a Walt Disney Company produzirá as animações, por vezes por motivos pouco, lamento pela piada que estou dizendo, mágicos. Permaneci triste, sentimento pouco tocado por um filme que se mostrou extremamente cativante e bom. Não sei se as expectativas adormecidas combinadas ao ambiente cinemático, algo que considero extremamente relevante, tornaram minha experiência de audiência melhor do que se tivesse recorrido ao streaming, mas neste caos que tem sido minha vida em tempos muito e médio recentes, as duas horas que fiquei na poltrona K21 da Cinemark foram bálsamo. Senti-me como criança desejosa e crédula novamente em um filme com uma história que pode não ser muito mirabolante, mas consegue ser bem construída e legal. Diversão não é a palavra que eu escolheria para sinterizar minha noite de segunda-feira em que assisti a película, porque o filme não é de arrancar risadas, mesmo que essa seja muitas vezes a intenção do antagonista Magnífico, não à toa escalaram o ator Chris Pine para sua voz original. Mas o filme passa bastante rapidamente, tão entretido que se fica com a história. Aliás, em animações eu costumo assistir as cópias dubladas, e o dublador Raphael Rossato que adapta Chris como vilão faz um papel muito bom. Não chega a roubar a cena, mas ficou muito, muito bom. Excelente, na verdade.

O filme é um musical, principalmente porque se trata do filme de animação lançado para celebrar o centenário da empresa Walt Disney, e as músicas são muito boas. Não chegam a ser músicas de Lin Menual Miranda, que são músicas que os fãs inexoravelmente inserem nas suas playlists, mas são realmente boas. Elas são várias, mas estão na medida certa. Tão certa que é possível dizer que o filme é praticamente inteiro musical, mas não se desgastando em nenhum momento nisso.

Não bastassem todas as revelações que estou fazendo, acrescento que a estética do filme, que é bastante inovadora, tal qual várias animações desde “Homem-Aranha no Aranhaverso”, não destoa e não causa estranheza. Repito que a história é bastante simples: um reino chamado de Rosas é governado por Magnífico, um tirano que ora demonstra um tom paternalista, mas depois demonstra sua natureza cruel e enlouquecedora, que por ser um mago tem capacidade de governar um Reino em que os desejos das pessoas são parte motriz da dinâmica política cidadã. Falando assim parece que a obra é muito política, mas não é. Na verdade, agora em nossos tempos em que a realidade ainda é problemática, mas não ostensivamente perturbadora, a temática política é mais estética, condenando aqueles que se valem do populismo para destruir os outros. O único lado deste filme é a condenação dos arbítrios.

Como dito, este filme foi planejado para ser o filme de lançamento do ano em que a Walt Disney Company chega a um século. Não à toa o filme se chama wish, desejo em inglês. A canção do filme “Pinóquio” “When you wish upon a star” é característica clara da vinheta das aberturas do filme da empresa, deixando claro que o conteúdo é um momento de mágica proporcionado ao espectador. Esta não é a única referência a outros filmes da mesma produtora ao longo da história. Mas são sempre referências tímidas, não tiram ninguém da atenção do filme. O filme, mesmo que se considere bom, não consegue se furtar de ser uma certa mensagem institucional da empresa como um todo, como se ela quisesse te falar “tudo bem, estamos sempre dispostos a te vender momentos mágicos”. Nesta esteira, o antagonista acaba sendo um pouco arquetípico do próprio Walter Disney: ele está disposto a te dar essa magia, mas pode também te punir e extrair este momento. Historicamente, a Walt Disney Company tem uma fixação muito criticada pela figura de um dos seus fundadores, lembrem-se sempre que a empresa foi fundada pelos dois irmãos Walter e Roy Disney, mas apenas o primeiro teve influência o suficiente de colocar seu próprio nome para todo o conglomerado, sempre apagando o passado problemático de Walt e deificando-o. Não sei se foi coincidência ou não, mas o filme, que é muito bom, pode também ser uma espécie de homenagem, mas também uma troça para empresa como um todo. Confesso que o tilintar do teclado enquanto amadureço esta compreensão me entreteu tanto quanto o filme.

Triste apenas digo, foi um desejo realizado ter assistido este filme e me desentorpecido um pouco, lamento novamente a piada com o nome do filme, a temática de magia, a temática da Disney e os meus sentimentos, pena que este sentimento foi muito pouco duradouro.

Gabriel Figueiredo
Enviado por Gabriel Figueiredo em 15/01/2024
Reeditado em 16/01/2024
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