A que pode levar o tédio?

 

A QUE PODE LEVAR O TÉDIO?

Miguel Carqueija

 

Resenha do primeiro volume do man gá “Death Note” (caderno da morte), de Tsugumi Ohba (roteiro) e Takashi Obata (arte), originalmente publicado no Japão pela Editora Sueisha (2003-2006); edição brasileira sem data, da JBC.

 

Existente também em animê, “Death Note” é um mangá de sobrenatural verdadeiramente extraordinário, baseado no folclore japonês dos “shinigamis”, entidades que vivem num mundo à parte e teoricamente decidem sobre a vida e a morte dos seres humanos. Para isso escrevem os nomes das pessoas que devem morrer e assim contabilizam em seu próprio benefício os anos que restavam às pessoas que são mortas.

Apesar do aspecto mórbido da ideia básica o fato é que o enredo e o argumento são interessantíssimos e há mesmo uma boa dose de humor. Não há como levar a sério o shinigami Ryuk, que parece um feiticeiro africano com máscara horripilante, já que seu rosto é feio e sem movimento, impassível. Cheio de pontas, muito alto e magro e com asas de morcego esquelético, Ryuk foge do tédio em seu mundo (parece que os shinigamis são preguiçosos como o Gansolino) deixando cair um caderno da morte na Terra, onde será achado por um estudante japonês de 17 anos, Light Yagami, que mora com o pai (um chefe de polícia), a mãe e a irmã de 14 anos. Ao tomar conhecimento do poder que possui (sendo esclarecido a respeito pelo próprio Ryuk, invisível e inaudível pelas outras pessoas) Light é rapidamente tomado pela megalomania, considerando-se uma espécie de messias, destinado a livrar o mundo dos maus. Começa a pesquisar pela internet os criminosos empedernidos e a eliminá-los em geral por ataque cardíaco. Logo, porém, o misterioso detetive “L” se põe no seu caminho. Protegido pelo anonimato, “L” não pode ser morto por Light, que não lhe conhece o rosto.

Assim começa um duelo extraordinário entre dois gênios, um duelo em que cada detalhe será importante para os dois adversários que não se conhecem pessoalmente. “Death Note” já neste primeiro volume é impressionante pela maneira progressiva e lógica com que as coisas vão acontecendo. Este volume, ora comentado, intitula-se “Tédio” e apresenta os sete primeiros capítulos.

 

Rio de Janeiro, 25 e 26 de novembro de 2013.