O triunfo da inocência

De orçamento modesto para os padrões hollywoodeanos e sem quaisquer efeitos especiais, o filme “Pequena Miss Sunshine” toca pela originalidade e proposta temática. Ele foi lançado em outubro de 2006 e ganhou duas estatuetas do Oscar 2007 (Melhor Roteiro Original e Melhor Ator Coadjuvante para o veterano Alan Arkin).

O enredo de “Pequena Miss Sunshine” aborda as mais intrincadas crises existenciais que normalmente afetam a maioria das pessoas, com uma pitada de humor na dose certa. Na verdade, o que é motivo de riso no filme é a inusitada família Hoover, que reúne figuras totalmente desencontradas.

Richard, o “chefe-da-família”, vive o dilema daquele ditado “casa de ferreiro, espeto de pau”. Ele é um palestrante motivacional de pouca visibilidade, que tenta a todo custo vender o seu programa de auto-ajuda chamado “Os 9 Passos”, com promessa de transformar qualquer pessoa em um vencedor. Sua esposa Sheryl é o ponto de equilíbrio da família, pois tem que trabalhar fora e ainda cuidar da casa e de todos (inclusive de Frank – um irmão quarentão intelectual e homossexual, que tem tendência suicida, e do sogro – Edwin, que foi expulso do asilo por ser viciado em drogas).

Nessa turma cabe ainda o filho do primeiro casamento de Sheryl – Dawyne, que foge de todos os padrões ditos normais e surpreende a família com um voto do silêncio até conseguir se integrar na escola de pilotos das Forças Armadas. Ele passa boa parte do dia trancado no quarto lendo livros do filósofo Friedrich Nietzsche, por quem nutre uma idolatria pouco comum. O foco do filme e a atenção de toda a família vão para a adorável Olive, uma menina de 9 anos que sonha em se tornar miss.

É por Olive que todas essas personagens vão parar numa mesma aventura (esta eu deixo para que o leitor descubra sozinho) um tanto bizarra, mas redentora. Exatamente aí se encontra toda a beleza de “Pequena Miss Sunshine”: a capacidade que tem a inocência de uma criança de transformar quem se permite percebê-la. O sonho puro de uma menina em ser algo que todos acreditam estar no rol do impossível termina sendo um catalisador de sentimentos positivos, adormecidos em meio à secura da vida adulta.

São filmes como esse que cumprem bem o papel da catarse, de trazer à tona, através da ficção, aqueles sentimentos absolutamente reais e presentes no cotidiano das pessoas, capazes de transformá-las. No triunfo da inocência se esconde o mapa dos maiores tesouros da humanidade: a liberdade, o amor e a felicidade.

Roberto Darte
Enviado por Roberto Darte em 27/06/2008
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