Good Night, and Good Luck.

George Clooney - para começar fazendo logo um trocadilho infame com o título de seu primeiro filme como diretor ("Confessions of a Dangerous Mind") - é dono de uma mente perigosa. Seu nome atinge lentamente a estatura daqueles que extrapolam a condição de ator para alçar vôos mais altos, a bordo de uma consciência crítica singular e de inteligência ímpar.

Não à toa, o ator/diretor e agora co-roteirista tem sido uma das vozes mais ativas do meio artístico americano, em defesa da liberdade mais uma vez ameaçada pelo domínio da política conservadora e direitista que comanda seu país já há alguns anos.

Se em "Confessions of a Dangerous Mind" Clooney contava com a ajuda de um roteiro exemplar do cultuado Charlie Kaufmann - o que não o impediu de realizar um filme apenas regular, tão interessante quanto exagerado, em que pese notar-se já ali seu domínio do ofício de diretor - "Good Night, and Good Luck" é uma obra-prima de concisão e coerência.

Partindo de premissas simples - da grandeza singela e corajosa da história do homem (Edward R. Murrow) que iniciou o processo de derrocada do temível Senador McCarthy nos EUA dos 50's, de suas próprias memórias de infância (seu pai era âncora de um telejornal) e do uso de imagens reais que transformam o filme num misto de documentário e ficção histórica - Cloooney nos arrebata com leveza e precisão ao retratar um um período e um embate que, em mãos menos hábeis, poderia ter se transformado "apenas" em mais um pesado filme político.

É um filme estiloso e seco a um só tempo, permeado por belos standards da música americana - magistralmente interpretados pela Rosemary Clooney's Band (cantora de jazz morta em 2002, tia do diretor, dublada por Diana Reeves) - e extremamente bem interpretado por um elenco estelar, onde se destacam David Strathairn no papel do protagonista, o próprio Clooney, Jeff Daniels e Robert Downey Jr.

Com este filme, indicado para seis Oscar, a trupe de Clooney (cercado de alguns bons amigos como Steve Soderberg, Brad Pitt, Matt Damon e Julia Roberts) firma-se como uma espécie de "United Artists" do século XXI, refletindo o ideal de Chaplin e Fairbanks nos anos 20: ser um celeiro de "pequenos grandes filmes" produzidos e estrelados pelos próprios atores, entre um "blockbuster" e outro. Puro prazer.

Renato van Wilpe Bach
Enviado por Renato van Wilpe Bach em 18/02/2006
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