Blindness - Ensaio sobre a cegueira(2008)

1. O livro:

1.1. Enredo

1.2. Um olhar sobre a obra

2. O filme:

2.1. Um olhar sobre a película

2.2. Expectativas

2.3. Ficha técnica

1. O livro:

1.1. Enredo

"Ensaio sobre a cegueira", do português José Saramago, aborda a incidência de uma epidemia de cegueira que assola uma cidade e que, paulatinamente, alastra-se por toda a população. Somente uma mulher permanece imune, e é sob sua ótica que o livro conta a história da "peste branca", responsável por redefinir todo o panorama da sociedade moderna dita civilizada.

1.2. Um olhar sobre a obra

Quando li “Ensaio” há uns dois anos, lembro que pensei, imediatamente após fechá-lo, que ele estava na categoria dos livros intransponíveis para a telona, juntamente com “Cem anos de Solidão”, do García Marques, ou qualquer obra Kafkiana, para citar alguns exemplos.

Afinal, como transformar em filme um livro sem pontos de interrogação ou exclamação e desprovido de travessões? Sim, o livro é um emaranhado de palavras, representante legítimo da ousada linguagem utilizada pelo escritor português José Saramago em praticamente toda a sua obra.

Tudo depende do leitor, pois cabe a ele, no decorrer da leitura, decifrar a intenção de cada personagem, além de fazer a sua própria interpretação do livro, ou seja, ver na epidemia de cegueira apenas um alerta para se dar mais valor à visão sadia ou, como eu o interpretei, analisar a perda da visão como um fator bem mais geral, uma tentativa de demonstrar a impotência humana diante de algo superior ou ainda, e o mais importante, o objetivo de dizer ao leitor que não basta apenas possuir a visão, mas sim utilizá-la de maneira lúcida, reparando nos significados das coisas. O escritor, citando o “Livro dos conselhos” exprime isso numa frase simples e magistral: “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”.

Por mais controverso que possa parecer, “Ensaio” mostrou-se não somente como um sucesso de crítica – foi ele o principal trunfo para que Saramago recebesse o Nobel de literatura, em 1998 – como também conquistou o público comum. No Brasil, em que o livro é publicado pela Companhia das letras, já são trinta e oito reimpressões, desde 1995, quando o livro foi originalmente publicado.

2. O filme:

2.1. Um olhar sobre a película

Pelas razões já expostas, posso dizer que grande foi a minha surpresa quando soube que haveria uma adaptação do livro para o cinema. “Como é que o Saramago permitiu isso?”. Depois soube que o filme seria falado em inglês.“O que era ruim ficou pior”. Por último, descobri que o diretor seria Fernando Meirelles. “Ele estava indo tão bem”.

Somente aos poucos consegui digerir a idéia. O elenco foi se formando, ótimo por sinal, e eu resolvi acompanhar o blog que o Fernando manteve durante as filmagens. Mas ainda assim algo me dizia que era uma missão quase impossível refletir no filme a essência de um livro que por si só já era tão complexo.

Só consegui respirar aliviada quando assisti a um vídeo no youtube (http://www.youtube.com/watch?v=Y1hzDzAvJOY), em que o Saramago, juntamente com Meirelles, assiste ao filme em Lisboa e se emociona, chegando a dizer que sentia naquele momento a mesma emoção que o invadiu ao terminar de escrever o livro.

Qualquer processo de adaptação demanda uma nova interpretação da obra. Dessa forma, a linguagem utilizada na película ganha em dinâmica, mas perde um pouco da essência da obra literária. Com “Blindness” não foi diferente. Mesmo assim, o roteiro de Don McKellar consegue ser fiel à obra, mesmo com algumas modificações, por manter o objetivo principal desta: Expor a natureza humana, subjugando-a a uma condição adversa.

O filme é escatológico. Não consigo pensá-lo de outra maneira. Meirelles não mediu esforços para expor o caos, a falta de asseio. Corredores imundos são mostrados e é quase possível sentir o cheiro acre exalando pela tela do cinema.

A sensação ao terminar o filme é de alívio. Não a de alívio por sair de um filme ruim, mas sabendo que os 120 minutos de duração de “Blindness” são mais do que necessários haja vista saber o quão difícil é digerir um filme quando o que se vê nele é a degradação da própria humanidade.

2.2 Expectativas

Desde a sua estréia, no festival de Cannes desse ano, “Blindness” tem despertado controvérsias. Para alguns críticos o filme é uma exposição crua da realidade, para outros é um choque azedo e inesperado. O que se sabe é o óbvio: o filme não tem cara de blockbuster.

Para desagrado dos fãs brasileiros a película, que possui boa participação brasileira - além do diretor, o filme tem a participação de Alice Braga, trilha sonora de Marco Antônio Guimarães e teve como uma das locações a cidade de São Paulo – tem poucas chances de chegar forte aos grandes prêmios, como o Globo de Ouro e o Oscar.

Ao contrário de “Cidade de Deus” e “O Jardineiro Fiel”, também dirigidos por Meirelles, que receberam boas indicações, conseguindo, este último, inclusive, alavancar um Oscar de melhor atriz coadjuvante, “Blindness” dificilmente conseguirá indicações nas grandes categorias. O máximo que se pode esperar é alguma indicação técnica, como roteiro adaptado(do excelente Don Mckellar) e fotografia. Indicações para Meirelles, como diretor, e Julianne Moore, como atriz, são muito remotas, embora na minha opinião elas seriam mais que merecidas.

2.3 Ficha técnica*:

Título Original: Blindness

Gênero: Drama

Tempo de Duração: 120 minutos

Ano de Lançamento (Brasil / Canadá / Japão): 2008

Site Oficial: www.ensaiosobreacegueirafilme.com.br

Estúdio: O2 Filmes / Rhombus Media / Bee Vine Pictures

Distribuição: 20th Century Fox Brasil / Miramax Films

Direção: Fernando Meirelles

Roteiro: Don McKellar, baseado em livro de José Saramago

Produção: Andrea Barata Ribeiro, Niv Fichman e Sonoko Sakai

Música: Marco Antônio Guimarães

Fotografia: César Charlone

Desenho de Produção: Matthew Davies e Tulé Peake

Direção de Arte: Joshu de Cartier

Figurino: Renée April

Edição: Daniel Rezende

*Fonte: adorocinema.com.br