Antes só do que mal acompanhado

 

Um filme cuja tradução fosse literal e se chamasse no original Planes, Trains and Automobiles provavelmente nunca seria visto por mim. No entanto este foi um dos Road Movies mais engraçado que assisti. Mas também foi triste, muito triste. A solidão dói. Principalmente quando ela está com pressa de acabar.

Os protagonistas são Steve Martin e John Candy. Steve continua por aí fazendo rir, interpretando quase sempre a si mesmo, mas Candy já se foi. Espero que esteja mais bem acompanhado agora do que foi quando passou por aqui. Era um homem triste e solitário.

Martin é Neal, publicitário, elegante na postura e no trajar. Extremamente autoconfiante, dessas pessoas que preferem estar sós do que mal acompanhados. Ou seja, um preconceituoso pedante que julga os outros pelas aparências. Alto, gordo e desajeitado, Candy é Del, um caixeiro- viajante que vende argolas para cortinas de banheiro. Vender argolas para cortinas de banheiro não deve ser muito estimulante. Ambos são de Chicago e estão em Nova York. É véspera do dia de Ação de Graças e querem voltar para casa. Aí já se pode ver a razão do título do filme tanto em inglês quanto em português. Vão ter que enfrentar uma maratona juntos, de planes, trains and automobiles e se sentindo muito mal acompanhados. Embora um deles esteja sempre se esforçando e o outro atrapalhando. E é claro que já sabem quem é cada qual. 

 

Certas viagens são duras de enfrentar. Principalmente quando se está com pressa para chegar. Pior ainda é quando tudo dá errado. E é o que acontece nesse filme. O enredo é apenas esse. Mas algumas cenas são primorosas. A cena em que os dois se vêem obrigadas a dormirem na mesma cama em um motel, por exemplo, é daquelas que vale a pena ver de novo. Imagine você, heterossexual assumidíssimo (a) acordar em uma estreita cama de motel com uma pessoa do mesmo sexo ao seu lado. E uma mão colocada inadvertidamente em lugar errado. Pois é. Essa cena é divertida e desconcertante. Gostei muito também da cena no ônibus quando todos cantam uma música bem conhecida lá deles na época (We’re the Flintstones) e o único que fica com cara de bobo é o almofadinha. Lembrei-me de algumas viagens que fiz com grupos barulhentos onde só cantam o que não sei cantar e me senti na pele de Neal. O final é previsível e dá até para engolir em seco ou secar uma ou outra lagrimazinha sem vergonha. Afinal é um filme para se comemorar o Dia de Ação de Graças onde em filme americano tudo acaba bem.

O filme, dirigido por John Hughes, é do século passado, mas não é ultrapassado. Afinal é da década de 80, quase 90. Aviões, trens e ônibus já eram transportes bem utilizados como ainda hoje o são. Menos aqui no Brasil que conseguiram acabar com os trens. Mas não com minhas lembranças de criança onde o trem e viagens inesquecíveis ainda embalam os meus sonhos.