A língua das Mariposas

Levando em consideração os desafios que enfrenta uma criança nos seus primeiros dias de aula e a importância do professor no processo de superação dos mesmos, o filme “a língua das mariposas” retrata com clareza a influencia de um professor no processo de desenvolvimento cognitivo, pessoal, político e social de uma criança na época antecedente a guerra civil da Espanha¹.

Moncho (Manoel Lozano) é uma criança de sete anos, que apesar de nunca ter ido a escola já sabia ler e escrever e se deparava com seu primeiro dia de aula, assustado, pois pensava que seu professor fosse igual aos da época e que iria castigá-lo ao menor descuido ou erro.

Contudo surpreende-se ao perceber que o seu professor Dom Gregório (Fernando Fernan Gómez) é uma pessoa diferente da imagem que ele fazia do próprio, uma pessoa tranqüila de expressões calma, sempre elegante e que garantia a eficiências de suas aulas ao demonstrar conhecimentos diversos e seus métodos de lidar com os problemas que todos os professores, independente da época, enfrentam no dia-a-dia.

O aluno Moncho se encanta com as aulas do professor, passa a ter ele como referencia ou ate exemplo. Instaura então uma relação de amizade entre professor e aluno. A amizade proporcionada pelo professor e ele possibilitou ao mesmo se aproximar dos conhecimentos e até esclarecer seus questionamentos pessoais. É a partir daí que o garoto começa a ter conhecimento de mundo, ou seja, ele começou a ter vários olhares para o mundo em que se inseria como ser social.

Porém, a época em que se passava não era das mais propicias para inserção dos métodos inovadores de tão brilhante mestre. A Espanha, e conseqüentemente, o povo espanhol vivia momentos antecedentes a guerra civil de 1936. Nesse tempo a Espanha era um país tradicionalista e tinha sua expressão ultima na monarquia bubônica do Rei Afonso XIII. A igreja era uma instituição que condenava a modernidade e a julgava como obra do demônio. O povo, por sua vez, deveria estar de acordo com o tradicionalismo pregado pelos padres, pois a mesma faz parte da superestrutura e tinha fortes intervenções sobre os que dependiam do estado. Mas, D. Gregório não tinha essa visão tradicionalista e a expõe politicamente quando em uma cena do filme ele diz em latim ao padre que o chama a atenção: - libertas virorum fortium pectara acuit. (a liberdade estimula o espírito dos homens fortes), na qual é ignorada pelo padre em cena.

Esse comportamento de Dom Gregório o prejudicou politicamente quando se iniciou a guerra, e os ditos republicanos, pessoas que não iam de acordo com as lei pregadas pela igreja católica, eram pegas e presas pelo estado. Para surpresa do aluno Moncho e de sua família o seu amado professor também estava sendo levado, pois era um homem que não negava seus princípios e defendia seus ideais dos quais não abria mão.

Mas, ao que se percebeu que apesar de surpresa e indignação do menino ao ver seu professor no meio de pessoas ditas “erradas”, nota-se no final em meios aos insultos do garoto ele mostrou de que o trabalho do professor não foi em vão e que aquele velho mestre tinha deixado sua semente ali plantada.

Algumas considerações

Pode-se perceber porem, que a postura do professor Dom Gregório no processo de construção do conhecimento são a de um realista, pois ele, ao longo do filme, mostra a importância de se ser um professor que deve estar sempre com inovações, pesquisando, renovando conhecimentos, utilizando elementos concretos, ¹ dentre outros nos quais também está incluso o seu método de trabalho, onde ele também não dá respostas prontas e sim, as dá a partir de questionamentos feitos pelo mesmo. ²

Nota-se que o referido professor no processo educacional tem a educação não como uma relação em que o professor agi “vomitando” conhecimentos e todos os alunos “engolindo”. Ele não tinha a visão de que os alunos chegam a escola como as mentes vazias e o aluno Moncho confirma essa idéia quando o professor faz um questionamento e ele no seu primeiro dia de aula responde corretamente.

Como já foi dito anteriormente a relação estabelecida entre o professor e o aluno foi não só alem de educador e educando, foi também de amizade, relação na qual ampliou os conhecimentos do pequeno.

Contudo, o filme nos traz, apesar de ter passado numa época diferente da vivemos hoje, exemplos claros de como devemos despertar certos pontos em sala de aula, nos mostra a importância do professor esta sempre em atualizações e que esse aperfeiçoamento vale não só para os professores, mas também para o desenvolvimento dos nossos alunos.

Por E. Leite