Literalmente um musical

Até a pessoa mais leiga em cinema iria adivinhar o gênero do filme Alô, Dolly! (Hello, Dolly!, EUA, 1969) assim que visse sua primeira cena. O longa, ganhador de três Oscar, começa mostrando a que veio: ser um bom e clássico musical. A cena em questão é uma das melhores aberturas de filmes que já existiu. Ela mostra como pequenos detalhes do nosso dia-a-dia pode se transformar em música para nossos ouvidos. É como se cada barulho que ouvimos na rua se tornasse uma grande orquestra. E essa é a essência de um musical: fazer de qualquer acontecimento banal um motivo para se ter um grandioso show de música e dança. Essa é a mágica que o gênero musical tem. E esse filme é um ótimo exemplo para ilustrar essa magia.

O filme, que se passa em 1890, nos apresenta Dolly Levi (Barbra Streisand), uma viúva que tem como fonte de renda a missão de arranjar casamentos. É em um desses serviços que ela tem a oportunidade de conhecer mais a fundo o avarento comerciante Horace Vandergeider (Walter Matthau). Ele a contrata para que leve sua sobrinha a Nova Iorque para ficar bem longe de seu namorado, a quem considera um artista sem futuro. A casamenteira, há tempos sozinha depois que seu marido morreu, vê em Horace uma chance de recomeçar. E faz de tudo para casar com ele. Dolly é aquela personagem doce, que ajuda a todos. Mas o que faz com que ela não seja a mocinha chata do filme é o fato de achar que umas mentirinhas valem à pena quando é por um bom motivo. Isso faz com que toda a doçura seja um pouco quebrada quando vemos que ela não é totalmente boa nem má. É como qualquer um de nós.

Entre grandes atuações, têm os incríveis 15 números musicais. Então, esse filme é recomendado apenas para quem realmente gosta do gênero. Senão acaba dormindo nos primeiros minutos. É também uma superprodução: foram gastos mais de US$20 milhões em figurinos impecáveis, cidade cinematográfica, músicas e coreografias. O filme foi dirigido por Gene Kelly, um nome de peso no gênero musical. Pode-se dizer, então, que foi feito para ser sucesso. O problema de Alô, Dolly! está em ser oito ou oitenta. Ou você ama ou odeia. É fazer você engolir uma cantoria atrás da outra. É quase não existir falas sem ter uma melodia.

Resumindo, este musical é para quem quer apreciar ótimos números musicais. Mas são tantos que desconfio que até os mais fãs desse tipo de filme podem cansar um pouco. Apesar desse ponto negativo, todos que apreciam o gênero não podem nem pensar em não assistir. As qualidades superam os defeitos.

Gabriela Gusman
Enviado por Gabriela Gusman em 07/01/2009
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