CÓDIGO DA VINCI
CÓDIGO DA VINCI, de Ron Howard, EUA, 2006
FLAVIO MPINTO
Diziam os críticos que era o filme mais esperado do ano. Justificaram pelo estrondoso sucesso do livro de Dan Brown e pela verba gasta na película.
Me recordei da música dos Titãs- O melhor banda dos últimos tempos da última semana, ....e fui ver o filme de Ron Howard.
O assunto gira em torno da polêmica entre Jesus/Maria Madalena/Templários. No meio da trama enredada de simbolismos entram o Vaticano, Opus Dei e seu líder Bispo Aringarossa, Museu do Louvre, história da Arte, e um grupo de homens e mulheres que guardam um milenar segredo mesclando simbolismos e dinheiro.
A nossa vida esta rodeada de simbolismos e muitos, por mais absurdos que sejam, se cruzam e ligam atos e fatos numa coincidência bárbara. Alguém já pensou no número 7? 7 são as cores básicas, 7 são as notas musicais, e por aí vai. Mas não deixa de ser uma obra de ficção com tudo que tem direito. O sepulcro de Maria Madalena não está, obviamente , debaixo daquela fantástica pirâmide de cristal no Louvre. Se bem que o inspetor a classifica como uma cicatriz em Paris???? Já havia ouvido referências negativas a essa obra de arte por parte de um “historiador” num curso de Projetos Culturais. Respondi-lhe que os franceses nada entendem de Arte e daí ....Que coisa!
No meio do filme encontrei uma certa dificuldade em ligar pontos devido a quantidade de fatos e dados em jogo. A minha cabeça parecia em parafuso e ainda com a eletricidade do filme que não deixa o espectador quieto, nem sem raciocinar, pois estava atento aos aspectos que estavam acontecendo e por vir. A cada momento surgia um fato novo e complexo modificando o raciocínio. No entanto o autor foi inteligente ao desarmar a bomba que montou, desacelerando a trama no seu final, permitindo que o espectador saia mais leve da sala de cinema. Mexer com temas polêmicos da Igreja Católica não é fácil, daí a reação em todo mundo contra a obra.
A encrenca começa com o assassinato do Curador do Museu do Louvre. No mesmo dia, um famoso simbologista de Harvard, o americano-Robert Langdon/Tom Hanks- ministrava uma aula sobre sua especialidade no mesmo local. O capitão Fachet/ Jean Reno, inspetor da Polícia francesa, chama Langdon para decifrar os símbolos que foram deixados em torno do cadáver de Sauniére. Para acompanhar o desenrolar da decifração da simbologia é designada uma criptóloga da Polícia- Sophie Neveu/ Audrey Tautou, neta de Saunière. Com o avanço das investigações, ou melhor, decifração da simbologia agregada ao cadáver, a infância de Neveu surge como peça principal. Sem antes, ainda no Louvre, serem ameaçados e fugirem de Silas- o verdadeiro assassino de Saunière, da Polícia parisiense e do grupo que deseja manter o segredo do Santo Graal. Coincidência ou não, Langdon solicita guarida num dos principais implicados na trama- um historiador inglês- Sir Leigh Teabing/Sir Ian McKellen. Nesse ínterim, como em toda trama onde tem um inglês morando só num castelo envolvido, seu mordomo rouba a cena. Muitos pensaram que ali havia acabado o segredo do filme: puro engano.
Por trás do capitão inspetor, estava o bispo Aringarosa, mais preocupado em não perder o apoio financeiro do Vaticano e conseqüentemente poder. O inspetor que já havia incriminado Langdon como um assassino em série , estava obcecado em sua captura gerando desconfianças na sua própria equipe de investigações.
Perguntas: - foi coincidência o crime no dia da palestra de Langdon no Louvre?
- foi mera coincidência chamar-se para auxiliar na investigação a neta do curador?
- o gerente/motorista do carro forte do banco suíço sabia do que existia dentro do cofre secreto ou era do grupo de Aringarossa?
- o fanático Silas era um mero executor das ordens do Bispo Aringarossa?
- foi mera coincidência Langdon procurar o historiador inglês seu guru na fuga?
- porquê Fachet não interrogou Langdon como manda o figurino, ao invés de sair rachando, incriminando-o com o assassino de Sauniére e depois de assassino em série com as outras mortes cometidas por Silas?
- será que tudo foi adredemente preparado por Sauniére pressentindo sua morte?
- a criação de Sophie por seu avô adotivo seria parte da trama?
- qual a verdadeira missão do Priorado de Sião, se é verdade que existe ou realmente existiu ?
O que fica claro é que alguém mais estava por trás de tudo, inclusive das atitudes do mordomo e do gerente/motorista do carro forte.
Enfim, qual seria o verdadeiro segredo? Apenas o local do sepulcro de Maria Madalena? ou a "proibição " de mulheres na Igreja Católica assumirem postos de divulgação da doutrina no lugar dos homens?
Ao analisarmos uma pintura, podemos saber se o pintor é engajado no social, por exemplo, mas a polêmica do grande Leonardo da Vinci corre junto com seu gênio artístico.
Por isso não se deve deixar de ler o livro e nisso complementa e deixa o filme mais inteligível. Além dessa prévia leitura deve-se relembrar quem eram os Templários, a vida de Jesus Cristo, as Cruzadas, saber um pouco sobre a Opus Dei e a administração da Igreja Católica e Vaticano. Não custa nada e o filme e a nossa curiosidade e cultura merecem isso. É uma obra de ficção, voltamos a afirmar, mas nos leva a uma forte reflexão. Se quisermos brigar com alguém não será com a Opus Dei nem com repositários dos Templários, Igreja Católica ou siquer com a policia francesa, os bancos suiços e sim com o autor.
Estamos cercados de simbolismos , interesses dissimulados e segredos manipulados por todos os lados que muitas vezes nos colocam literalmente na defesa por duvidarmos da verdade, ou melhor, que aquilo é verdade ou não. A profusão de dados incriminatórios e absolvitórios, como diria Odorico Paraguassu, são incontáveis.
Poderia dizer que a velha máxima de que os mortos ainda comandam os vivos é pura verdade.
Será que essa turma que está aprontando hoje no Brasil com esses rolos todos seguiu a cartilha do Da Vinci? Nunca saberemos a verdade. Ou saberemos?
Esqueci de dizer que a trama é embalada pela sensacional trilha sonora de Hans Zimmer( Gladiador).