“Quiz Show - A Verdade dos Bastidores” ( Quiz Show)

“Quiz Show - A Verdade dos Bastidores” ( Quiz Show)

Bem calculada direção e produção de Robert Redford.

Provavelmente você já assistiu muitos filmes que remetem a 1958. Nuns você estala a língua e lamenta suspirando. Outros te dão a sensação posterior de, ao sair na rua, sentir estranheza face aos veículos modelos 2009. A atmosfera de 58 foi tão bem cuidada que quase se deseja ver passando um Chevrolet, um Buick, por aí vai.

Outro detalhe sobre o “Quiz...” - poderia ter um subtítulo cuja sigla seria PPE – Portador de Preocupações Éticas.

Toda a história vai se desenrolando como uma sucessão de marolas, cada qual trazendo um dedal de alerta sobre o correto e o duvidoso, cada dedal no entanto soando quase diáfano face a ausência total de ética reinante em toda parte.

Não que em 58 fosse diferente. A questão é que Richard Goodwin, autor do livro “Remembering América”, de onde o filme se baseou, foi suficientemente capaz de enxergar as nuances e traduzi-las.

Redford captou a mensagem e teve o peculiar cuidado de nos contar, somente nos créditos finais, que tudo aquilo afinal se baseou numa história verídica.

De um modo geral, “Quiz...” diz respeito a nuances. A abordagem da câmera plus produção finge que não te engana mostrando externas com profundidade de campo, que contribuem para o observador mergulhar no calendário. As internas tem o capricho que se espera. O fator diáfano-filosófico mexe no nervo quase morto das coisas que você fica se perguntando durante o noticiário e que nunca te respondem. Com o tempo adquiri-se o condicionamento de nada questionar e as preocupações éticas se tornam miragens quiçá lembradas.

John Turturro participava do programa de TV chamado Twenty One, desses que se ganha dinheiro respondendo perguntas cabeludas, como por exemplo quantas penas tinha o último sabiá que entrou na arca de Noé. Além de xucro, Turturro não tinha a aparência de um galã de TV.

É quando aparece Ralph Fiennes, descendente de uma linhagem de poetas, escritores, catedráticos e ganhadores do Pullitzer. O semblante certo para o sucesso. É quando aparece o emblemático diálogo entre Fiennes e os produtores.

- Quanto você ganha? – indagam.

- Oitenta e seis dólares por semana – responde Fiennes, que é professor.

Os produtores exclamam:

- Você sabia que o “Bozo” ganha cinco vezes mais do que isso?

Ele responde que nem todos podem ser “Bozo”.

Os produtores recuam, dizem que não estão criticando sua escolha profissional mas sim os valores da sociedade. Então fazem a proposta para que ele participe do programa, embora na explanação da mesma já está implícito o esquema fraudulento.

Fiennes observa que aquilo parece desonesto.

Os produtores contra atacam, lhe perguntando o que é desonesto? E ilustram indagando: quando Gregory Peck salta de pára-quedas, você acredita realmente que ele está pulando de pára-quedas?

Fiennes titubeia.

O golpe de misericórdia vem logo em seguida, ao pedirem para que ele pense na causa de da educação. Ele seria um exemplo, 40 milhões de pessoas estariam assistindo, as crianças o veriam como um modelo a ser seguido.

Num filme de nuances, o espectador estará à salvo do fator apopléctico, pois com a rara e bem encenada exceção de um Turturro inconformado com sua sorte, o que passa na tela é um silencioso xadrez onde cada jogada atende a determinada fração

na escala dos valores.

Paul Scofield, pai de Fiennes, vende a integridade perdida e Rob Morrow, o jovem advogado, vende a hipótese de que inteligência e governo são primos próximos.

Redford sempre se preocupou com a classe artística, e ao invés de discursos ele age, colocando em seus filmes caras que não são escalados para o primeiro time com a mesma freqüência dos grandes astros, mas brilham tanto como. Mira Sorvino, Elizabeth Wilson, David Paymer, Hank Azaria, Christopher McDonald, (esse último foi o marido da Thelma no “Thelma e Louise”), nomes de reconhecida competência hoje mas valendo lembrar

que “Quiz...” é de 94.

“Alguns sobem por destino e alguns pela virtude caem. Medida por medida. Para fazer um grande acerto, cometa um pequeno erro”. Willian Shakespeare.

Scofield vai dizer isso para o filho como uma brincadeira, pois ele ainda não tem a menor idéia do que a sorte reserva para sua linhagem.

Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 15/07/2009
Reeditado em 18/03/2013
Código do texto: T1701581
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