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O Circo x O ano em que meus pais sairam de férias.

1970 – O auge do ufanismo e da repressão. Brasil, ame-o ou deixe-o. Para distrair a atenção da miséria nacional que ia além da fome de comida, o Brasil ganhou a Copa Jules Rimet – Tri Campeão Mundial de Futebol. O Circo estava armado, mas não havia pão para todos.

2009 – Praça Dr. Augusto Silva em Lavras, MG. O Cine Arte Sarau Petrobrás está na cidade. Uma gigantesca tela foi armada e desde cedo chama atenção da população. Balões da Prefeitura Municipal e da Petrobrás são montados e irão iluminar a noite. O carro da trupe, alegre e bem humorado com seu fundo amarelo circulando pela cidade com seis alegres jovens dentro dele, tudo chamando a atenção da população para o evento que aconteceria a noite: a apresentação de dois filmes – o clássico O Circo, com Charles Chaplin e o nacional O ano em que meus pais saíram de férias. E ainda de brinde uma apresentação do Grupo de Hip-Hop dos Valores de Lavras, liderados por Gleidson Orlando.
O Projeto que leva o cinema para locais públicos de todo o Brasil foi idealizado por Mauro Maya, da arte [brasil] Produção Cultural, de Belo Horizonte e é financiado pela Petrobrás.



O Circo é um filme norteamericano em preto e branco, dirigido e interpretado por Charles Chaplin, um gênio. Só um gênio poderia ter criado um filme que é ao mesmo tempo um drama e uma comédia e que ainda hoje, época dominada pelos efeitos especiais no cinema ainda é capaz de competir com qualquer filme e sair ganhando. Foi pura emoção perceber o enlevo dos espectadores, a maioria deles desconhecendo a própria existência de Carlitos.


O ano em que meus pais saíram de férias, dirigido por Cao Hamburger é um filme não do cinema novo, mas do novo cinema brasileiro, aquele que já começa a atrair multidões ao cinema. Um bonito drama conduzido sem pieguice nos mostra o período em que o menino Mauro é deixado pelos pais fugitivos da repressão da ditadura militar no Brasil na casa do avô. Filho de um pai sempre atrasado e neto de um avô sempre adiantado que faz o favor de morrer no dia em que o menino é deixado na porta de seu edifício, que fica no Bom Retiro, reduto judeu em São Paulo. O filme vai contar exatamente o período em que o menino vive ali junto à colônia judia, que aos trancos e barrancos cuidam dele. E enquanto ele vai se adaptando a sua nova vida, também espera a volta dos pais que prometeram voltar durante a Copa em que o Brasil se sagraria Tri Campeão de Futebol.

A noite começa com a apresentação do  Hip-Hop, formado por um grupo de alunos de uma das escolas municipais que apresenta uma série de problemas sociais. Em determinado momento eles dançam o Hino Nacional com seu gingado típico de danças de rua. Alguém me pergunta: Você não tem medo de que achem ruim por eles estarem dançando o Hino Nacional? Eu sorrio e respondo: não estamos em 1970. Os nossos problemas hoje são outros.
 
 
 ( Os meus mais sinceros agradecimentos ao Mauro, André, Athos e toda a equipe que participou dessa noite mágica em Lavras)