“A Cor do Dinheiro” (The Color of Money)

“A Cor do Dinheiro” (The Color of Money)

Esse filme foi lançado em 1986 e contou com a colaboração especial de Paul Newman. A academia achou que ele colaborou tanto que lhe deram o Oscar de melhor Ator.

Tom Cruise e Mary Elizabeth Mastrantonio também colaboraram. A academia também sentiu-se inclinada a indicar Mary para melhor Atriz coadjuvante. Mas foi só uma inclinação.

O dinheiro tem várias cores nessa farsa maviosamente dirigida por Martin Scorsese. Predomina a cor da vil manipulação de Newman, veterano e não menos excelente jogador de sinuca sobre Cruise, praticamente um pós adolescente e não menos exímio jogador de sinuca. Newman nasceu para todos os papéis que representou e esse serve de coroa alternativa para o reinado sem falhas do ator. Quem já viu um pouco de tudo se pergunta se não é a presença dele o fator responsável pela timbragem única desse filme de Scorsese.

Em meados dos 80 a nota de caixa da cultura americana para tipos como o vivido por Cruise retrata que um quase nerd como ele, obcecado por vídeo game, já sabia que teria futuro em West Point para comandar eletronicamente os mísseis e tanques do futuro. Ele trabalha numa loja de brinquedos, tem uma namorada que é uma ladra (Mastrantonio), maneja o taco com maestria e está par e par com Pinochio quando João Honesto atravessa seu caminho.

No caso de Cruise, a tradução de João Honesto é “Fast” Eddie Felson (Newman), que um dia brilhara nas mesas e reconhece o tilintar do ouro à léguas de distância.

Na verdade, o que se joga em “A Cor do Dinheiro” é nine-ball, que sabiamente vamos traduzir por sinuca para ganhar sonoridade sem prejudicar o sentido. Se você tem ojeriza a pano verde, tacos, bolas coloridas, caçapas, está no filme errado, pois pano verde & acessórios são, sem metáfora, o pano de fundo do espetáculo. Scorsese usou todos os possíveis ângulos e distâncias de câmera para que o conjunto plástico do jogo não cansasse o espectador.

No filme, e juntando metáforas, sinuca com dinheiro em jogo equivale a dois virtuosos guitarristas que não podem tocar tudo o que sabem para não espantar a freguesia. Diferente de dados e baralhos, o dono do instrumento (o taco), ralou o tcham para chegar na excelência, e como todo músico ele quer platéia. Newman passa metade da trama tentando explicar para Cruise que o objetivo não é mostrar o quanto se joga, mas sim ganhar dinheiro.

O ponto G do roteiro de Richard Price, baseado no livro de Walter Tevis, é que o velho e ardiloso professor, dizendo-se resolvido e realizado como um investidor, em dado momento vê o próprio ego esfacelado na questão da habilidade no jogo. Durante bem uns 90 minutos ele comanda o show e orienta o discípulo sobre a vigorosa inquietude de seus vinte e poucos anos, para que a mesma não se torne uma “energia mal dirigida”.

Um item que parece não ter assombrado o caminho do diretor.

Até 1986 a carreira de Scorsese assinalara “Mean Streets”, “Alice Doesn’t Live Here Anymore”, “Táxi Driver”, “New York, New York”, “Touro Indomável”, tudo isso grosso modo, pois estamos descontando os curtas e outras produções ditas menores, e também não estamos falando que ele integrava os chamados “movie brats” dos anos 70: Francis Ford Coppola, George Lucas e Brian de Palma, porque de fato integrava e nem estamos dizendo que ele é considerado, por críticos e estudiosos do cinema "o maior diretor americano vivo". “A Cor do Dinheiro” tem, portanto, essa assinatura, e o primeiro Oscar de Paul Newman deu-se nesse trabalho. Isso estamos dizendo.

Como cinema e como argumento = tipo de programa que não fazem mais.

A relação de Newman e Cruise sobe e desce nos estágios do ego tanto de um quanto de outro, enquanto vão de cidade em cidade lidando com situações de afinidade com seus afazeres, até a aparição de Forest Whitaker fazendo-se passar por retardo mental e depenando a carteira do veterano. Newman percebe que sua relação com o jogo não estava resolvida e que a cor do dinheiro estava valendo mais como teoria do que prática. Hora de abandonar o jovem casal na estrada e seguir seu próprio rumo.

Ninguém se aperta por ali. Vivem uma vida que chamam de ofício sendo a surpresa uma referência diária. Sem contar os próprios brios – se a grana está em destaque, a habilidade no manejo do taco, sobretudo a comparação da mesma, parece falar mais alto.

Mary Elizabeth Mastrantonio vestiu como uma luva o papel da namorada dinheirista de Cruise.

Logo no início Newman pergunta para ela se o namorado aceita jogar por 500 U$ dólar a partida. Ela hesita. São jovens e ainda desconhecem a malandragem sofisticada no entorno da sinuca. Aprenderão com ele.

O filme começa com uma narração em off sobre a sorte, sobre jogadores que transformam a sorte numa espécie de arte. Qualquer mundo transborda mitos questionáveis.

O velho “Fast” Eddie Felson beberica um uísque no balcão, desapercebido do jovem jogador atrás dele. O que o leva a fixar a sua atenção na partida é o som da tacada.

Na terceira vez ele vira a cabeça e se pergunta: quem é esse sujeito?

Talvez a cor do dinheiro seja musical.

Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 16/09/2009
Reeditado em 27/02/2013
Código do texto: T1814234
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