“Os Falsários” (Die Fälscher)

“Os Falsários” (Die Fälscher)

Depende para quem você vai querer trabalhar, quando o bicho pegar.

Tem o estilo gringo. Exemplo: Projeto Manhatam. Os cérebros foram recrutados para viver numa choupana no deserto e só saírem de lá quando tivessem concebido a Bomba A. Eram vários cérebros. Eles tinham direito a se angustiar, a bater boca com o patrão, a exclamar desisto e tinham até a opção de fazer as malas e partir.

Tem o estilo teutônico. Exemplo: Projeto Bernardo. E os acordos entre o patrão e os entre aspas “recrutados” são feitos como um dono faz acordos com seu cachorro.

“Os Falsários” trata da história verídica ocorrida na Segunda Guerra e faturou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2009. Verdade seja dita, o tema holocausto já colocou na panela um zilhão de ingredientes, cada um deles um pretenso ângulo e nem sempre novo, ou antes, raramente novo. A história do Projeto Bernardo leva a estatueta pela sinceridade da abordagem menos a escatologia de praxe.

Karl Markovics parece ter nascido para o papel do falsificador 'Sally' Sorowitsch, preso em 1936 pela arte não reconhecida do seu trabalho em copiar cédulas monetárias.

Em 1936, mesmo quem residia em Berlim, se puxasse uma cana e fosse judeu, ia ter de constatar sozinho que com o decorrer da pena, a sentença se transformaria noutra cousa. Justamente o que um camarada de 'Sally' comenta para ele: isso não é uma prisão, estão é querendo nos matar, isso sim.

Com direção do vienense Stefan Ruzowitzky (“Anatomia”) e inspirado no livro de Adolf Burger, biográfico, sendo ele mesmo representado na trama como um dos destaques entre os falsificadores sob a doce orientação nazista, “Die Fälscher” não pisa no breque nem uma vez, não enrola o espectador com voltas desnecessárias e, quando o faz, a volta vem com as surpresas que fazem do espetáculo um autêntico candidato à estatueta.

Se em 1944 a América estava quebrada e eles vendiam bônus de guerra para pôr gasolina nos tanques, na Alemanha o Projeto Bernardo ambicionava confeccionar o mais perfeito US Dollar do planeta. Falso, bem entendido.

Não conseguiram, mas conseguiram libras esterlinas, e imprimiram quatro vezes mais do que o verossímil acatado pelo Banco da Inglaterra.

Psicologicamente, o estilo teutônico deixa muito a desejar no aspecto motivacional. O Projeto B tinha lugar num campo de concentração, e era preferível aumentar o volume da música no ambiente de trabalho do que ouvir a matança dos que estavam na ala B do campo.

Psicologicamente, “Die Fälscher” é uma paulada e tanto. Cinema com C maiúsculo ao cubo, trata do nazismo na essência da atitude e não na amostragem do açougue. Karl Markovics é um desses grandes acertos do “casting”, ele é o retrato da “mente firme que não se desvia na adversidade”, sua própria trajetória fala de acordo com essa postura, a música tem um paladar que chega quase a atuar na tessitura do palco e o comportamento de cada um dos envolvidos nesse escabroso palco compete para dar a realidade a justeza do momento em peso, largura e altura.

Quando Markovics é contestado por um de seus parceiros, por estar ajudando a financiar o Reich com sua arte e indagado por não fazer algo melhor com sua mísera existência, ele simplesmente retruca:

“Uma mísera existência é tudo que eu tenho”.

Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 19/10/2009
Reeditado em 15/02/2013
Código do texto: T1874839
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